Miguel Casal, CEO e fundador do grupo Costa Nova, pede soluções em prol da competitividade desta indústria.
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Miguel Casal, fundador e CEO do grupo Costa Nova Indústria

É uma casa portuguesa, com certeza, se à mesa não faltar uma peça de cerâmica. E o melhor do que se faz no país neste setor atravessou fronteiras há muito tempo, com sucesso um pouco por todo mundo, tal como destaca Miguel Casal, CEO e fundador do grupo Costa Nova, em entrevista ao idealista/news. A inovação, singularidade, design e estética da cerâmica portuguesa distinguem-na das demais, sendo ainda o trabalho artesanal outra marca diferenciadora na hora de comprar uma peça de cerâmica para decorar a casa ou oferecer um presente de Natal, por exemplo. Apesar da indústria estar a crescer, há muitos desafios, como o aumento dos custos energéticos ou dificuldades em reter mão de obra, também por falta de habitação, que impede a fixação dos trabalhadores.

“O grande desafio da indústria portuguesa é fixar mão de obra fabril e formá-la. E a grande dificuldade não passa tanto por contratar, mas por retê-la, pois deparamo-nos com um problema gravíssimo de escassez de habitação a custos controlados”, explica o responsável da marca, que acaba de inaugurar em Vagos, distrito de Aveiro, uma das fábricas mais sustentáveis do mundo para o desenvolvimento de produtos 100% ecológicos.

Sobre a crise da habitação, diz ser “urgente que as autoridades governativas encontrem soluções para resolver este problema”. “Termos de rever o ordenamento do território, permitir que se possa construir habitação nas zonas industriais. Isso resolverá o problema da habitação e dos transportes, porque é utópico pensar que vamos ter transportes públicos a toda hora, à porta das fábricas”, defende o CEO da Costa Nova.

Miguel Casal indica que Portugal é o maior exportador europeu de louça cerâmica de uso doméstico e o segundo maior a nível mundial, atrás da China, destacando-se pela qualidade dos seus produtos. Mas a crise, motivada também pelas guerras, está a criar “algumas dificuldades, porque impôs um aumento significativo dos custos de produção, nomeadamente com o gás, que tem reduzido a competitividade, pois impacta nas margens e nos resultados”.

Ainda assim, garante que o grupo de alma lusa continua empenhado em promover, reforçar o posicionamento, e internacionalizar a cerâmica portuguesa, assumindo, paralelamente, um compromisso com a sustentabilidade. Nesta entrevista, o gestor fala sobre o negócio e desafios da indústria cerâmica para o futuro.

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Grupo Costa Nova

O que é que distingue a cerâmica portuguesa das demais? E qual é, atualmente, o grande desafio desta indústria?

A cerâmica é um setor com grande tradição no nosso país e com uma componente marcadamente exportadora: Portugal é o maior exportador europeu de louça cerâmica de uso doméstico e o segundo maior a nível mundial, atrás da China.

Os produtos cerâmicos portugueses distinguem-se pela sua qualidade, pelo design, pela inovação, pela singularidade e pela estética associada à funcionalidade e à sustentabilidade.

Com a crise motivada pelas guerras, o grande desafio é superar o aumento dos custos energéticos. Esta conjuntura está a criar-nos algumas dificuldades, porque impôs um aumento significativo dos custos de produção, nomeadamente com o gás, que tem reduzido a nossa competitividade, pois impacta nas margens e nos resultados.

A cerâmica portuguesa faz sucesso “lá fora”? Quem são os maiores importadores?  

A cerâmica portuguesa já está presente em quase todo o mundo, em 150 mercados, com destaque para Espanha, França, Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido. No caso do grupo Costa Nova Indústria, o nosso principal mercado são os Estados Unidos, que foram o drive do nosso crescimento e hoje representam cerca de 50% das nossas vendas. Graças ao nosso negócio de private label e às nossas marcas próprias, nomeadamente a Costa Nova, estamos presentes em mais de 60 mercados - em dezenas de países da Europa, mas também na Coreia do Sul, no Japão, na Austrália, na Nova Zelândia e em Singapura. Os nossos produtos podem ser encontrados nos cinco continentes, seja nas mais conceituadas lojas de decoração e grandes armazéns ou em hotéis e restaurantes premium.

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Grupo Costa Nova

E o mercado nacional, como está a evoluir?

No que ao nosso grupo diz respeito, o mercado português está a revelar-se uma boa surpresa. Posso dizer que tem superado as nossas expectativas, especialmente no setor da hotelaria e restauração. Estamos com vários projetos para hotéis e restaurantes em todo o país, mas sobretudo nas regiões de Lisboa e Algarve.

Que tipo de peças são mais procuradas?  

A nossa marca apresenta uma oferta muita vasta em forma e decoração, assegurando todos os momentos à mesa, bem como serviço em hotelaria e restauração – desde o buffet, ao pequeno-almoço, ao jantar. Temos um portfolio de coleções que se adapta aos mais variados estilos e ambientes. Os pratos de jantar lideram a procura, mas as nossas coleções, pela diferenciação que apresentam, vendem também muitas peças de servir e acessórios.

Como é que o Grupo Costa Nova procura distinguir-se na concorrência?

Os nossos produtos recorrem a uma matéria-prima criada a partir dos melhores recursos naturais em Portugal, têm na sua composição vidrados únicos e especiais, graças às fórmulas originais desenvolvidas pela nossa equipa de Inovação e Design. Para além disso, são submetidos a um sistema de monocozedura que permite produzir peças com uma superfície totalmente vitrificada, resistente aos choques térmicos e mecânicos, válidas para forno, microondas, congelador e máquina de lavar loiça. 90% das nossas peças são projetadas pela nossa equipa de design, técnicos e artesãos especializados em cerâmica. Tentamos estar sempre um passo à frente da concorrência, numa busca permanente por ideias novas, e as nossas coleções refletem essa inovação todos os anos. Inovar fez sempre parte do ADN desta empresa.

Dou como exemplo do referido, o projeto de criação do Ecogrés, uma matéria prima reciclada, única e inovadora, desenvolvida em parceria com a Universidade de Aveiro e que é altamente ecológica e sustentável.

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Grupo Costa Nova

O trabalho artesanal no fabrico das peças continua a ser uma das grandes apostas? 

Sim, desde sempre. Nas nossas fábricas trabalham mais de um milhar de técnicos e artesãos, que trabalham com enorme dedicação para criar algumas das melhores e mais belas peças de grés do mundo. Aqui combinamos o melhor da tradição europeia no fabrico cerâmico artesanal com as mais modernas tecnologias.

Inauguraram recentemente uma das fábricas mais sustentáveis do mundo. Qual a importância da ecologia no negócio?

No grupo Costa Nova Indústria assumimos desde sempre um compromisso efetivo com a sustentabilidade, procurando minimizar o nosso impacto no meio ambiente, quer por meio dos recursos que usamos, quer através dos produtos que manufaturamos. O nosso lema é promover uma cerâmica sustentável numa indústria sustentável. Todos os nossos produtos são reutilizáveis e recicláveis, pois recorrem a matérias-primas locais e são fabricados com uma elevada percentagem de materiais reciclados, argilas e vidrados, diminuindo o uso de capital, energia e recursos naturais.

A Ecogrés-Cerâmica Ecológica, a nossa quarta unidade industrial, vem reforçar a nossa aposta no desenvolvimento de produtos 100% ecológicos.

O alto grau de sustentabilidade desta nova unidade não é só conseguido através do produto, fabricado a partir de uma matéria-prima reciclada. Todo o layout da fábrica foi projetado e pensado com o objetivo de aumentar a produtividade e baixar o consumo de energia e de recursos.

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Fábrica Ecogrés, Grupo Costa Nova

Quantas peças estimam produzir nesta fábrica e quantos postos de trabalho serão criados?

A Ecogrés está a laborar com 150 colaboradores e a funcionar a cerca de 50% da sua capacidade, produzindo entre 15 a 20 mil peças por dia. O objetivo, a médio prazo, é atingir as 30 mil.  Este projeto contempla uma segunda fase, com mais algum investimento, que vai permitir duplicar a produção e, consequentemente, o número de colaboradores.

Numa entrevista recente, referiu que os problemas em torno da habitação afetam o setor da cerâmica. Em que medida? Disse também que reter mão de obra é um grande desafio. Porquê? E que outros obstáculos enfrenta o setor?

O grande desafio da indústria portuguesa é fixar mão de-obra fabril e formá-la. E a grande dificuldade não passa tanto por contratar, mas por retê-la, pois deparamo-nos com um problema gravíssimo de escassez de habitação a custos controlados. É urgente que as autoridades governativas encontrem soluções para resolver este problema.

Termos de rever o ordenamento do território, permitir que se possa construir habitação nas zonas industriais.

Isso resolverá o problema da habitação e dos transportes, porque é utópico pensar que vamos ter transportes públicos a toda hora, à porta das fábricas. Por outro lado, temos o problema da concorrência de muitas multinacionais, o que inflaciona o custo da mão-de-obra, porque vêm com facilidade buscar-nos os técnicos médios.

Na minha opinião, a formação de técnicos médios, como eletricistas, vai ser outro grande desafio da indústria no futuro, pois sabemos que nos dias de hoje não há tanta apetência para trabalhar num ambiente industrial. No grupo Costa Nova tentamos reter as pessoas investindo na sua formação, e por isso, estamos em processo de criação de uma academia e vamos lançar uma bolsa de formadores.

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Fábrica Ecogrés, Grupo Costa Nova

Qual o impacto da crise energética, guerras e subida dos juros no negócio?

A energia, a inflação e os custos são outros entraves ao desenvolvimento do tecido empresarial. A guerra na Ucrânia e agora o recrudescimento do conflito israelo-palestiniano estão a criar-nos algumas dificuldades, porque impuseram um aumento significativo dos custos de produção, nomeadamente com o gás, que tem reduzido as nossas margens. E com esta guerra recente no Médio Oriente, o preço do petróleo nos mercados internacionais está novamente a subir. Este ano, com a nova unidade fabril, tínhamos a expectativa de crescer significativamente, mas com a desaceleração no negócio de private label, perspetivamos um crescimento de 5% face ao ano passado. Não vamos atingir o que inicialmente tínhamos previsto.

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