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"Porto está a ser descoberto” pelos franceses
GTRES

Portugal está atualmente no topo das preferências dos franceses, que escolhem cada vez mais o país para viver. O setor imobiliário é um dos grandes beneficiados desta nova tendência. Segundo Ricardo Simões, diretor executivo da Câmara de Comércio e Indústria Franco-Portuguesa (CCIFP), Lisboa e Algarve são as zonas de eleição dos gauleses, que agora começam a olhar para o Porto. “Eles querem sobretudo centros urbanos, não gostam de estar isolados”, conta ao idealista news.

"Porto está a ser descoberto” pelos franceses
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Ricardo Simões, diretor executivo da Câmara de Comércio e Indústria Franco-Portuguesa (CCIFP).

Segundo o responsável, os lusodescendentes, que também podem beneficiar do Estatuto de Residente Não habitual (ERNH), ainda não se terão apercebido disso mesmo, já que a comunicação da lei “foi tão feita com os franceses”.

O facto de ter havido recentemente (dia 13 de novembro) atentados terroristas em Paris pode fazer com que haja ainda mais franceses a escolher Portugal para viver?
Não acho que tenha influência, até porque há também as pessoas que por um certo orgulho querem ficar. O essencial é proporcionar um bom acolhimento aos franceses que escolhem Portugal, para que encontrem um grupo de amigos e acabem por ganhar raízes. Ninguém se vai exilar por dez anos na última fase da sua vida só por uma questão de poupança fiscal.

"Ninguém se vai exilar por dez anos na última fase da sua vida só por uma questão de poupança fiscal"

De onde são os franceses que compram casa em Portugal? 
Há uma concentração populacional em Paris, mas vêm também da região de Ródano-Alpes [Lyon] e do Sul de França, da região de Provença-Alpes-Costa Azul [Marselha]. As pessoas que não tem capacidade para adquirir uma casa em Provença-Alpes-Costa Azul acabam por ter em Portugal, onde um imóvel com piscina pode custar 250 ou 300 mil euros, quando em França custa 600 ou 700 mil. É obvio que vendem o apartamento no qual viveram toda a vida por 400 ou 450 mil euros e aplicam esse dinheiro em Portugal. 

A lógica é essa?
Há uma grande parte que o faz, outra continua com alguns bens. Recomendamos sempre a consulta de um fiscalista em França e em Portugal. No início muitos procuravam o arrendamento, mas o mercado português mais uma vez não conseguiu responder. Precisa de crescer drasticamente neste setor. Em Lisboa e no Porto há um potencial enorme a nível de arrendamento, e os franceses já estão a olhar para o Porto. Eles querem sobretudo centros urbanos, não gostam de estar isolados.

O Porto é, então, o próximo alvo dos franceses?
Penso que sim. O Porto está a ser descoberto, mas está ainda muito longe do que representa o Algarve e Lisboa. Diria que os mais novos, entre 50 e 60 anos, preferem Lisboa, querem uma programação cultural forte, uma vida ativa importante, e que os mais velhos, de 60 anos para cima, preferem o Algarve. E procuram sobretudo residências com serviços, casas com piscina, condomínios fechados etc.

"Os mais novos, entre 50 e 60 anos, preferem Lisboa, querem uma programação cultural forte, uma vida ativa importante, e os mais velhos, de 60 anos para cima, preferem o Algarve"

Depois há as pequenas pérolas que vão ganhando adeptos, como o Alentejo e a Madeira. Os Açores menos, mas começa a haver procura para estes sítios.

É importante lembrar que estas coisas levam tempo, porque as pessoas não estão a comprar um queijo ou um pastel de nata. O que pedimos é que abandonem tudo aquilo que conhecem e vão redescobrir um sítio desconhecido. Há um lado de aventura e outro de medo. O que pedimos é muito complicado... 

Os lusodescendentes também podem beneficiar do ERNH. Estão a fazê-lo?
Se calhar ainda não perceberam, como a comunicação foi tão feita com os franceses... Os lusodescendentes podem beneficiar de tudo isto. A lei não foi feita para os franceses, a comunicação é que foi sobretudo feita em França. Os lusodescendentes, desde que não tenham sido residentes fiscais nos últimos cinco anos em Portugal, até têm mais facilidades, porque há uma ligação sentimental com o país.

Há cada vez mediadoras a direcionar imóveis para o mercado francês…
Notamos isso a nível dos promotores imobiliários, que já esgotaram o produto. Há imóveis disponíveis, mas não correspondem à procura do cidadão francês. Este não virá para um bairro residencial de Lisboa ou dos arredores da capital. Começa a haver escassez de produto e o que os promotores já estão a preparar, a construir ou a renovar, tem em atenção essa procura por parte dos franceses.

"Os lusodescendentes podem beneficiar de tudo isto. Desde que não tenham sido residentes fiscais nos últimos cinco anos em Portugal, até têm mais facilidades, porque há uma ligação sentimental"

Os franceses também apostam na reabilitação urbana para depois arrendarem ou venderem os imóveis?
É um investimento. Os primeiros Salões do Imobiliário e Turismo Português em Paris (SIPP) tinham sobretudo particulares, os últimos dois já tinham muitos investidores. Não vão comprar o apartamento, mas o prédio reabilitado ou para reabilitar. Falamos de fundos de investimento imobiliário, de gestores de património. Há os franceses que compram para habitar e há o investidor que compra um prédio para reabilitar e depois coloca os respetivos imóveis no mercado. Os dois negócios estão a crescer. 

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