Arranca hoje e Portugal terá a maior representação de sempre. O idealista/news conta como será tudo e as expectativas de negócio.
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Portugal no MIPIM 2022
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Portugal vai estar representado em força no MIPIM 2022. A maior feira do setor imobiliário do mundo começa hoje, em Cannes (França), e decorre até à próxima sexta-feira, dia 18 de março de 2022. Contará com a presença de stands de Lisboa, Porto, Vila Nova de Gaia e Fundão e será a maior representação de sempre de Portugal no MIPIM - que este ano volta ao formato original, depois da pandemia, e fica marcado pela existência da guerra da Ucrânia. O que esperar da participação nacional no maior evento mundial de investimento imobiliário? Que ambições têm os stands participantes? Que tem Portugal a ganhar com esta massiva participação? O idealista/news foi saber e contamos agora tudo.

“Estamos com grande expectativa para esta edição do MIPIM. Sentimos que depois de dois anos de pandemia as pessoas estão desejosas de se voltarem a encontrar pessoalmente e a fazerem negócios. A procura de imobiliário continua a crescer em muitos mercados e o setor a ser um ‘refúgio’ para cada vez mais investidores pelo que as condições estão criadas para termos novamente uma grande edição do MIPIM”, começa por dizer ao idealista/news Rui Coelho, representante do MIPIM em Portugal.

O responsável afirma não ter dúvidas de que “a participação de stands de Lisboa, Porto, Vila Nova de Gaia e Fundão no MIPIM dará mais visibilidade ao mercado português, contribuindo para a captação de mais investimento, criação de riqueza e de postos de trabalho, bem como para a reabilitação urbana”. 

"A participação de stands de Lisboa, Porto, Vila Nova de Gaia e Fundão no MIPIM dará mais visibilidade ao mercado português, contribuindo para a captação de mais investimento, criação de riqueza e de postos de trabalho, bem como para a reabilitação urbana"
Rui Coelho

Rui Coelho destaca o facto de Vila Nova de Gaia (via Gaiaurb), “que se assume cada vez mais como um dos principais mercados nacionais na área do imobiliário”, e Fundão estarem presentes pela primeira vez no MIPIM, que considera ser “o local certo para encontrar parceiros, clientes e fornecedores”. “[O Fundão] é há vários anos um excelente exemplo de um município que soube vencer os desafios da interioridade, trabalhando proactivamente para atrair empresas e talentos. O que tem feito com grande sucesso por mérito da sua liderança. Por via desse sucesso viu-se agora na necessidade de captar também investimento imobiliário para poder dar resposta à cada vez maior procura de empresas, habitantes e visitantes”, explica. 

Lisboa volta a estar presente no MIPIM
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Lisboa, “uma cidade cheia de oportunidades”

A capital portuguesa volta a marcar presença em Cannes, com um stand organizado pela agência municipal de promoção de investimento Invest Lisboa, que lidera e coordena a participação da comitiva lisboeta. De referir, de resto, que Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), vai participar no programa de conferências do MIPIM, o mesmo acontecendo com Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto (CMP). 

“Lisboa apresenta-se nesta edição do MIPIM com 14 parceiros públicos e privados unidos no propósito de apresentar aos investidores do setor uma cidade cheia de oportunidades, numa era pós-pandémica em que muitas das principais características da capital portuguesa se valorizaram muitíssimo. O facto de o próprio Presidente da Câmara e da vereadora do Urbanismo [Joana Almeida] quererem marcar presença em Cannes significa que Lisboa, no início deste novo mandato, oferece muitas e novas oportunidades de investimento imobiliário”, afirma Raquel Abecasis, diretora executiva da Invest Lisboa.

"Não é por acaso que o setor em Portugal se mobilizou para ter uma forte presença em Cannes este ano"
Raquel Abecasis

Em declarações ao idealista/news, a responsável acrescenta que o setor imobiliário “olha para esta edição do MIPIM como uma oportunidade de retoma”. “Os dois anos de pandemia atrasaram algumas decisões de investimento que, agora, podem ser de novo encaradas. Não é por acaso que o setor em Portugal se mobilizou para ter uma forte presença em Cannes este ano”, frisa. 

Entre os empreendimentos que serão apresentados no MIPIM pela CML estão os projetos de renda acessível do Alto da Ajuda, Olaias e Vale de Santo António, num valor total de 648 milhões de euros, bem como o Hub Azul e a Fábrica dos Unicórnios, segundo o Diário de Notícias.

Porto terá um stand no MIPIM
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Porto otimista e com a “maior comitiva de sempre” 

Também o Porto está a apostar forte na promoção de projetos imobiliários e na captação de investimento através do MIPIM, não sendo de estranhar, por isso, que esta seja a maior participação de sempre da cidade no evento, organizada pela InvestPorto.

Disso mesmo nos dá conta Ricardo Valente, vereador do Pelouro das Finanças, Economia e Emprego: “Estamos muito otimistas em relação a este MIPIM, uma vez que o mesmo acontece num pós-pandemia, onde a cidade e o país em geral mostraram uma boa capacidade de resiliência e onde os fluxos de investimentos mantiveram a tendência positiva. Aliás o Porto vai levar este ano a maior comitiva de sempre, o que mostra que os investidores e as várias entidades da cidade estão com excelentes perspetivas para o evento”. 

"O Porto vai levar este ano a maior comitiva de sempre, o que mostra que os investidores e as várias entidades da cidade estão com excelentes perspetivas para o evento"
Ricardo Valente

O vereador da CMP salienta que “as expetativas são bastante positivas” e considera que “as dinâmicas de crescimento económico do Porto e a continua chegada de empresas internacionais à cidade dão um tom positivo às tendências futuras para o setor”.

Vila Nova de Gaia vai estar pela primeira vez no MIPIM
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Gaia quer “demonstrar a vitalidade do município”

Em estreia no MIPIM está outro município do norte, Vila Nova de Gaia, que quer aproveitar a presença no maior evento do setor imobiliário do mundo para “demostrar a vitalidade do município”, que é um bom “local para viver, para trabalhar, para cuidar, para inovar e com condições para quem procura assumir um projeto de vida feliz e sustentável”, explica António Miguel Castro, presidente do Conselho de Administração da Gaiurb, empresa municipal responsável pela organização e participação do stand de Vila Nova de Gaia. 

“É para nós um desafio poder estar no MIPIM a demonstrar a dinâmica do nosso território, do nosso município, e a dimensão dos investimentos em curso. Estes ativos servem de barómetro de confiança e procuramos com isso e com a nossa presença no MIPIM contribuir para consolidar um futuro sustentável nos investimentos imobiliários e para o crescimento e desenvolvimento da nossa cidade, região e país”, sublinha. 

"É para nós um desafio poder estar neste evento internacional a demonstrar a dinâmica do nosso território, do nosso município, e a dimensão dos investimentos em curso"
António Miguel Castro

De acordo com António Miguel Castro, “o sucesso esperado” da participação de Vila Nova de Gaia visa assegurar para o futuro do município “condições endógenas onde num ‘mix’ coexistam criatividade e inovação, onde o empreendedorismo, o emprego e a capacitação fazem parte do ecossistema”. 

Fundão vai estar no MIPIM 2022
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Fundão, uma cidade de oportunidades que se quer promover

A cidade do Fundão (Castelo Branco) também marcará presença pela primeira vez no MIPIM, uma participação que se insere na “estratégia que o município tem vindo a desenvolver para atrair e fixar investimento, emprego e pessoas, felizmente com resultados relevantes e que nos trazem novos desafios e oportunidades, muito especialmente no setor imobiliário”, adianta ao idealista/news Ricardo Gonçalves, chefe de Divisão | Inovação, Investimento e Planeamento da autarquia. 

“Queremos promover o Fundão pelo estilo de vida diferenciador que pode oferecer a todos quantos querem investir, trabalhar, estudar e viver no nosso território, e para isso muito contribuirá uma dinâmica forte e atual do setor”, acrescenta o responsável, salientando que tem a expectativa de gerar contactos no MIPIM que possam depois “traduzir-se em investimentos concretos” e contribuir para reforçar a competitividade do território. 

"Queremos promover o Fundão pelo estilo de vida diferenciador que pode oferecer a todos quantos querem investir, trabalhar, estudar e viver no nosso território, e para isso muito contribuirá uma dinâmica forte e atual do setor"
Ricardo Gonçalves

“O Fundão é hoje conhecido como uma terra de acolhimento para pessoas, famílias e profissionais de diversas geografias e perfis, nomeadamente no setor digital, e essa dinâmica traz consigo diversas oportunidades de investimento que queremos tentar potenciar e alinhar com as novas tendências relacionadas com o estilo de vida que as pessoas procuram”, conta Ricardo Gonçalves. 

Guerra na Ucrânia
GTRES

MIPIM em tempos de guerra: e agora?

Inevitável é, no entanto, o facto da edição deste ano do MIPIM, que já vai decorrer num cenário pós-pandemia, se realizar num contexto também muito peculiar, marcado pela invasão da Rússia à Ucrânia. Que impacto poderá ter o conflito para o evento?

Para Rui Coelho, “o maior impacto será relativamente aos países em conflito que não deverão participar, pois ninguém tem interesse em investir em países em guerra”. O representante do MIPIM em Portugal revela, nesse sentido, que a Rússia costumava ter dois grandes stands, um de Moscovo e outro de São Petersburgo. 

Raquel Abecasis considera, sobre este tema, que o facto de haver “uma guerra na Europa aumenta muito o quadro de imprevisibilidade”, o que “não é um bom sinal” para as decisões dos investidores. “Contudo, é também verdade que nestes momentos se procuram os chamados investimentos de refúgio e essa não deixa de ser uma boa oportunidade para Portugal, pelo nosso posicionamento político e geográfico”, lembra a diretora executiva da Invest Lisboa.

"Uma guerra na Europa aumenta muito o quadro de imprevisibilidade”, o que “não é um bom sinal” para as decisões dos investidores. “Contudo, é também verdade que nestes momentos se procuram os chamados investimentos de refúgio e essa não deixa de ser uma boa oportunidade para Portugal, pelo nosso posicionamento político e geográfico”
Raquel Abecasis

Ricardo Valente, vereador do Pelouro das Finanças, Economia e Emprego, considera que o mundo está perante “um ato brutal de guerra” que “vai ter evidentemente impacto em termos de perspetivas de crescimento económico”. Refere, no entanto, que Porto e Portugal mantêm “vantagens competitivas em termos de atração de investimento internacional”.

António Miguel Castro considera que o clima de guerra que se vive “tem impacto não só para o evento como para toda a humanidade”. “Percebemos a fronteira frágil entre o equilíbrio e o desequilíbrio. O impacto social e económico é brutal e ainda não avistamos o fim, pelo que será sempre uma preocupação mais humanitária, das vidas que são destruídas do que propriamente para o evento”, comenta o presidente do Conselho de Administração da Gaiurb.

Lamentando que se vive um “contexto profundamente triste”, Ricardo Gonçalves, da Câmara Municipal do Fundão, considera que os participantes no MIPIM têm de aproveitar o evento para manifestarem a sua solidariedade e apoio a todas as pessoas que “viram as suas vidas drasticamente alteradas”. “Podemos fazer a diferença preparando as nossas cidades e comunidades para acolher e integrar cidadãos que procuram um lugar seguro para viver, e isso passa seguramente pelo setor imobiliário e pela capacidade de dar respostas de qualidade, sustentáveis e competitivas para diversos tipos de necessidades e procuras”, afirma. 

Portugal no radar dos investidores imobiliários
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Portugal continua no radar dos investidores?

Há alguns anos que os investidores, nacionais e estrangeiros, têm Portugal no radar. Será que a tendência se manterá, sabendo de antemão que há fatores externos que não se podem controlar, como por exemplo o surgimento de uma pandemia ou o eclodir de uma guerra

Rui Coelho desfaz-se em elogios ao país. Mas põe, também, o dedo em algumas feridas: “Portugal apresenta muitas vantagens para os investidores imobiliários. Primeiro por pertencer à União Europeia (UE). Depois porque dentro da UE é um dos países onde é possível ter uma melhor qualidade de vida e ainda por cima a baixo custo. E por último porque ainda há muito para fazer no setor imobiliário, muitas oportunidades, o que não acontece noutros países mais desenvolvidos. No entanto, há também muitas ineficiências no setor que impedem que muitos investimentos se concretizem, afasta muitos investidores e cria má imagem ao país, sendo os principais a burocracia e a complexidade e demora no licenciamento em algumas autarquias”. 

Posto isto, o responsável considera que a “evolução do mercado imobiliário português será o resultado do conflito entre as inúmeras vantagens e desvantagens do mercado, dependendo em grande parte da atuação dos responsáveis políticos”, sendo que “muitos continuam a olhar para o setor com desconfiança, em vez de aproveitarem a enorme oportunidade a que algumas circunstâncias” conduziram o país.  

Raquel Abecasis é da opinião que a tendência dos investidores apostarem em Portugal “deverá manter-se”, até porque o país “tem vindo a conquistar um espaço na Europa e no mundo como porto de abrigo para os que apostam numa sustentabilidade assente no desenvolvimento tecnológico”.

“Numa época em que as questões climáticas e energéticas são as principais preocupações à escala mundial, Portugal e as suas cidades posicionam-se como pioneiras no desenvolvimento de novas lógicas de organização em sociedade. Por outro lado, as características próprias do país aliadas a uma mudança de hábitos acelerada pela pandemia, em que o teletrabalho ou trabalho à distância se impuseram, tornam o nosso país muito apetecível como destino de residência para cidadãos e empresas”, acrescenta. 

MIPIM 2021
Assim foi a edição de 2021 do MIPIM © YANN COATSALIOU - 360 MEDIAS

Ricardo Valente também diz acreditar que Portugal “manterá esta tendência positiva”, uma vez que continua a ser “atrativo em termos de talento disponível, estabilidade política e um clima de país tolerante e aberto ao exterior”. “A nossa localização longe de zonas de conflito são nesta altura um ‘plus’ adicional”, conclui.

Para António Miguel Castro, o mais complicado está conseguido, que foi entrar definitivamente no radar: “O mais difícil foi ficar na mira dos investidores, dada a pequena dimensão do nosso território. Mas os investidores identificaram as mais-valias que apresentámos enquanto país e enquanto sociedade e continuam confiantes para continuar”. 

Uma opinião partilhada por Ricardo Gonçalves, que considera que Portugal “apresenta um conjunto de mais-valias competitivas absolutamente distintivas e transversais a todo o território nacional, como o clima, a hospitalidade e a segurança”. 

O responsável da Câmara Municipal do Fundão diz ser essencial “promover e capacitar” o “património edificado, cultural e natural” de Portugal, “que felizmente é rico e vasto”. “Quando olhamos para o Fundão, vemos que um conjunto diversificado de investimentos tem sido capaz de aproveitar esse potencial de forma sustentável, mas queremos mais e em diversos contextos, seja em ambiente natural para aproveitar uma das melhores qualidades do ar na Europa, em ambiente urbano para acolher novos residentes oriundos de diversos pontos do mundo, em Aldeias Históricas ou Aldeias do Xisto para reforçar estilos de vida únicos e criativos ou no turismo para criar novas experiências e ofertas cada vez mais procuradas”, conclui.

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