Estudo da Deloitte identifica 4 recursos para construir centros urbanos resilientes e mais preparadas para o futuro.
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Como ter cidades à “prova de bala” no mundo pós-pandemia
Singapura, uma cidade-Estado que foi exemplo de sucesso na luta contra a Covid-19 Photo by Peter Nguyen on Unsplash

A pandemia veio mudar o mundo. Paralisou praticamente todas as cidades, pondo em evidência as suas fragilidades e capacidade de resposta a momentos de crise. A maioria não estava preparada para dar resposta aos desafios trazidos pelo contexto pandémico, segundo um estudo da Deloitte, que avaliou 167 cidades à escala global. Mas, afinal, o que é preciso para construir centros urbanos “à prova de bala”? A consultora identificou quatro recursos fundamentais orientados por um eixo comum: a resiliência.

“As cidades têm a oportunidade de aprender com a crise da Covid-19 para criar resiliência nos seus sistemas, operações e infraestruturas. Assim como a pandemia, o próximo evento disruptivo pode deixar muitos “cegos”. Mas será lamentável se não estiverem preparadas para isso”, frisa a consultora no estudo "Cidades à prova de futuro num mundo pós-pandémico", da autoria de Miguel Eiras Antunes, Mahesh Kelkar, especialistas em Smart Cities da Deloitte.

Como ter cidades à “prova de bala” no mundo pós-pandemia
Lisboa Foto de Lisa no Pexels

No relatório, a Deloitte explorou quatro recursos que considera serem cruciais para as cidades criarem resiliência e resistirem a choques futuros. A “resiliência tem sido um termo popular no léxico da gestão há anos. Mas a sua relevância raramente foi tão importante. Em termos simples, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico define resiliência como a capacidade de uma cidade ou centro urbano de se preparar, responder, recuperar e adaptar-se a um evento perturbador”, explica a consultora.

Construir resiliência implica anos de esforços, e é principalmente um exercício de capacitação com um forte enfoque nas áreas com mais falhas. Trata-se de lançar e aprimorar medidas ao longo do tempo. De acordo com a Deloitte, os “esforços devem ser em escala e cobrir todas as funções e domínios da cidade”.

Quatro recursos para gerir crises e construir resiliência

“Depois de quase mais de um ano de pandemia, as cidades ainda estão a recuperar e adaptar-se ao novo normal. À medida que o foco muda da gestão da crise de saúde pública para o fortalecimento do sistema de saúde pública e o robustecimento da recuperação económica, as cidades devem construir resiliência de longo prazo”, indica o relatório.

Como ter cidades à “prova de bala” no mundo pós-pandemia
Foto de Abby Chung en Pexels

O próximo livro da Deloitte, ‘The Transformation Myth’, define, por isso, quatro recursos-chave encontrados em organizações resilientes: agilidade, escalabilidade, estabilidade e opcionalidade. Esses quatro instrumentos podem ser utilizados para gerir momentos de crise, como a pandemia, e construir resiliência de longo prazo.

  • Agilidade

A forma como uma cidade age e reage às situações com rapidez, determinação e muda de direção conforme a situação exige. Foca-se na flexibilidade de longo prazo.

“As cidades deveriam abraçar a agilidade em vários domínios, incluindo TI, força de trabalho e ‘governance’ para garantir que os serviços não são interrompidos sempre que houver mudanças no ambiente externo”, frisa a Deloitte.

  • Escalabilidade

A capacidade de uma cidade responder a um imprevisto num determinado curto período de tempo. A Deloitte lembra que a Covid-19 foi um ponto de inflexão para a maioria das organizações, nomeadamente ao nível de mudanças para serviços digitais e operações remotas em grande escala – basta pensar na telesaúde, teletrabalho ou até mesmo telescola.

“A pandemia elevou o status digital de "bom ter" para "obrigatório ter”. À medida que as cidades aceleram os esforços de digitalização após a pandemia, ter uma infraestrutura digital escalonável torna-se imperativo”, segundo os autores do relatório.

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Deloitte

  • Estabilidade

A capacidade de uma cidade permanecer firme no presente com as suas operações/decisões, ao mesmo tempo que experimenta e dimensiona soluções para o futuro.

A estabilidade refere-se à importância das cidades trabalhar em duas frentes ao mesmo tempo, “garantindo que a cidade está numa posição firme no presente, enquanto também trabalha nas transformações e inovações necessárias para construir resiliência para o futuro. Para conseguir isso, as cidades terão que dividir os seus recursos, gerir as operações existentes e, ao mesmo tempo, explorar e investir em maneiras de melhorar as respostas futuras”.

Ao investir em tecnologias como análise de dados, inteligência artificial (IA), planeamento de cenários e simulações, as cidades podem construir c apacidades “antecipatórias”. “Isso pode permitir que as autoridades municipais identifiquem os prováveis problemas antes que eles explodam e mudem o foco para a prevenção”, lembra a Deloitte.

  • Opcionalidade

A maneira como uma cidade pode aumentar as suas operações e serviços ao explorar um ecossistema mais amplo de participantes, incluindo o setor privado, startups, empresas de tecnologia, empresais locais, organizações sem fins lucrativos, entre outrosa tores. A ideia é criar uma rede ampla de colaboração, para entregar bens ou disponibilizar serviços, por exemplo.

Singapura, um exemplo de sucesso na luta contra a Covid-19

No relatório, a Deloitte lembra que, em setembro de 2020, quando a maior parte do mundo estava a lutar contra a Covid-19, a vida em Singapura “parecia quase normal”. Além das empresas, locais de trabalho, restaurantes e outros locais públicos estarem totalmente abertos, as viagens aéreas limitadas também eram permitidas. E como é que isso foi possível, se a maioria dos países foi apanhada desprevinda? De acordo com a Deloitte, isso deve-se, em grande parte, à implementação da iniciativa ‘SG Clean’, que exigia que indivíduos e empresas seguissem um conjunto de bons hábitos e regras de higiene.

“Singapura estava preparada. A iniciativa ‘SG Clean’ não foi uma reação automática à pandemia Covid-19”, lê-se. De acordo com a consultora, o segredo está todo o trabalho que foi feito desde os primeiros os surtos de H1N1 em 2009.

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Photo by Meriç Dağlı on Unsplash

Depois do primeiro surto de H1N1, o governo criou uma rede de clínicas de preparação de saúde pública, capacitadas para dar uma resposta consolidada de cuidados primários em emergências de saúde pública, como a Covid-19. Mas há mais. Em 2014, o ministério da Saúde implementou um sistema nacional que evita a rutura de stock de equipamentos de proteção individual – nunca pode estar abaixo dos 90%. Uma medida que se revelou útil durante o pico da pandemia, garantindo disponibilidade de materiais aos profissionais de saúde e da linha de frente.

Os investimentos em tecnologia e infraestrutura digital também se revelaram igualmente importantes. Esse ‘background’ permitiu que Singapura lançasse uma série de aplicações e portais centrados no cidadão que os ajudaram a encontrar máscaras, conseguir ajudar financeira, identificar locais lotados a serem evitados e obter informações precisas através de ‘chatbots’ do governo.

“Singapura foi capaz de responder à Covid-19 melhor do que a maioria dos países, estados e cidades devido ao seu foco principal ao longo dos anos na construção de resiliência. Não viu a Covid-19 a chegar através de uma bola de cristal; tinha sistemas físicos e digitais adequados”, para dar resposta a este tipo de contingências, conclui a consultora.

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