Como é que este cenário afetará a compra de casa pelas famílias? E os preços das casas? Especialistas respondem em entrevista.
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Demissão de Draghi
Mario Draghi, primeiro-ministro de Itália GTRES

As últimas semanas foram repletas de acontecimentos: desde o aumento das taxas de juros diretoras pelo Banco Central Europeu (BCE) em 50 pontos base, à crise do governo italiano que levou à renúncia do governo de Draghi. Tudo isto aconteceu num cenário marcado pela inflação e que tem vindo a ser agravado pela incerteza geopolítica. Mas quais são as repercussões deste panomara na compra de casa pelas famílias? O idealista/news Itália esteve à conversa com Santino Taverna, Presidente Nacional da Fimaa, e com especialistas do CRIF sobre as consequências dos últimos acontecimentos no mercado imobiliário italiano.

Quais são as repercussões na economia dos últimos eventos que aconteceram na Europa e em Itália?

Santino Taverna (ST): "O aumento das taxas de juros pelo Banco Central Europeu para conter a inflação; a crise política que levou à renúncia do governo Draghi; o contexto internacional exacerbado pelo conflito russo-ucraniano; o aumento dos custos de energia e matérias-primas poderão levar a uma desaceleração da economia italiana com poucas repercussões positivas também para o setor imobiliário".

Como é que o aumento das taxas de juros do BCE vai impactar os créditos habitação?

ST: "A abordagem restritiva do BCE poderá afetar a contratação de créditos habitação com uma provável contração no número de vendas. Também o tempo de venda das casas poderá ser expandido e ser compensado com prováveis descontos nos preços. Para o interessado comprar, pode haver a oportunidade de haver preços ainda acessíveis, uma vez que os aumentos registados ainda estão contidos, à exceção dos mercados de grandes cidades. Os juros dos créditos habitação, embora tendem a subir, ainda são acessíveis e, em qualquer caso, significativamente menores do que os praticadas nas últimas décadas".

Maurizio Liuti, gerente de comunicação da CRIF (ML): "No geral, as últimas pesquisas do CRIF ainda não mostram sinais de deterioração significativa causada pela situação macroeconómica desfavorável, nem em relação à tendência da procura de crédito nem na frente de risco. Especificamente, no final de março, a taxa de incumprimento de 90 dias em créditos habitação ficou estável em 0,7%, nos níveis mais baixos dos últimos anos, graças também à moratória que após o surto da pandemia havia garantido apoio decisivo às famílias com mais dificuldades. No entanto, é plausível que as tensões geradas pelo conflito na Ucrânia e a difícil situação geral, também agravada pela recente queda do governo de Draghi, possam pesar sobre a situação financeira das famílias, que nos próximos meses podem ser induzidas a adotar uma atitude prudente e a adiar os compromissos que requeiram gastos mais pesados, como a compra de uma casa. Por outro lado, a situação de incerteza já hoje pesa numa mudança de atitude em relação aos créditos habitação, que são um tipo de financiamento particularmente sensível a esses fatores de tensão: a orientação para contratos de taxas variáveis com a Cap já é evidente, confirmando a tentativa das famílias de se protegerem contra o risco de aumentos adicionais no custo do dinheiro".

Imobiliário italiano
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A renúncia do governo Draghi coloca em causa as medidas tomadas recentemente no que diz respeito à habitação? Como é que este cenário pode afetar as negociações?

ST: "Com o governo comprometido na transmissão dos 'assuntos atuais',  as medidas já tomadas pelo Parlamento sobre os bónus e concessões sobre imóveis não devem ficar paradas, poderá é haver alguma desaceleração nos métodos de implementação. Seria importante rever os mecanismos de transferência de crédito relacionados ao Superbonus de 110%, permitir uma transferência mais rápida de crédito para as empresas e prestar atenção, como país, aos objetivos a serem alcançados para destravar a terceira parcela do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência), ao qual muitos projetos de regeneração urbana e investimentos para o setor imobiliário estão vinculados".

Stefano Magnolfi, diretor executivo da CRIF Serviços Imobiliários (SM): "O crescimento das vendas registado em 2021 e no primeiro trimestre de 2022 pode não se repetir no seguimento do ano corrente, devido à progressiva deterioração do clima de confiança das famílias diante das tensões macroeconómicas, financeiras e geopolíticas. As previsões para a segunda metade de 2022 pioraram de facto e poderemos fechar o ano com uma redução nas transações em -5%, trazendo, assim, o mercado imobiliário volta para as cerca de 700 mil vendas. No entanto, este é um nível de transações bem acima da média dos dos últimos 15 anos, de 550 mil negócios".

Comprar casa em Itália
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Ainda vale a pena comprar uma casa hoje em dia?

ST: "Em tempos de incerteza do mercado, quando se trata de dar um passo importante, como comprar ou vender um imóvel, é sempre conveniente recorrer a mediadores imobiliários que, pelos seus conhecimentos, podem acompanhar as famílias para vender ou comprar imóveis com total segurança e tranquilidade. A compra de imóveis, historicamente - e principalmente em períodos de aumento da inflação - sempre resguardou a economia dos cidadãos permitindo, entre outras coisas, maior rentabilidade quando comparada aos produtos financeiros".

SM: "A nível territorial, vemos interesse pelas principais cidades, enquanto os municípios secundários - que gozavam de certa atratividade durante a pandemia, dado o impulso para adotar o teletrabalho - tornaram-se menos atraentes. O retorno a uma certa normalidade está, portanto, a trazer de volta o fenómeno da polarização do mercado em relação às localidades primárias. Também devido à forte pressão da inflação, os preços das casas têm marcado tendências de subida generalizadas, que são visiveis tanto nas casas usadas, quanto (de forma mais acentuada) nas casas novas e mais eficientes em termos energéticos. Esta tendência expansiva dos preços das casas deve permanecer mesmo durante o segundo semestre de 2022, embora com menos intensidade do que o registado no primeiro semestre do ano. Nesse cenário, o interesse por comprar a primeira casa pelos jovens continua alto, ao ponto de representar mais de 35% da procura por créditos habitação. No entanto, deve-se sublinhar que o bloqueio pelas instituições das ofertas voltadas para este segmento de mercado - devido à insustentabilidade das condições a serem aplicadas para o aumento contínuo das taxas de referência e a falta de ajuste dos limites máximos a serem respeitados - certamente vai restringir os pedidos, com repercussões inevitáveis também no mercado imobiliário como um todo".

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