Comprar casa está cada vez mais caro. Mas os salários não acompanham esta evolução. E as consequências para este desequilíbrio são várias: este cenário tem aumentado as desigualdades sociais e económicas, afastando muitas famílias de comprar casa. Até porque, segundo o estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), os portugueses precisam de cerca de 11,4 anos de rendimento médio disponível para conseguir comprar uma casa de 100 metros quadrados (m2).
Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE) apontam para uma subida dos preços das casas no primeiro trimestre de 2022 na ordem dos 12,9%, o aumento “mais expressivo” desde 2010. Em Portugal, os preços das casas só abrandaram a sua tendência de subida durante a pandemia. E rapidamente ganharam fôlego em 2021, registando aumentos superiores a 11% na segunda metade do ano.
Como os rendimentos das famílias a não aumentaram na mesma proporção, os portugueses que pretendem comprar casa vão fazê-lo com uma maior taxa de esforço. Esta realidade é expressa pelo número de anos de salário médio disponível necessários para comprar uma casa. De acordo com os dados estudo “Tributação da habitação nos países da OCDE” publicado na passada quinta-feira, dia 21 de julho, os portugueses precisavam, em 2020, de 11,4 anos de salários médios disponíveis para adquirir uma habitação de 100 metros quadrados – em 2000 precisava de 11,3 anos de rendimentos.
Onde é que são precisos mais anos de salários para comprar casa? E menos?
Há situações mais graves pelos países da OCDE. Na Nova Zelândia, as famílias precisam de 18,7 anos de rendimentos médios disponíveis para comprar uma casa com 100 m2. Na Coreia precisam de 16,6 anos, na Irlanda de 16,1 anos, em Luxemburgo de 15,8 anos e na Austrália de 14,4 anos. Estes são os cinco países onde as famílias demoraram mais tempo em 2020 a conseguir o valor equivalente para pagar uma casa de 100 m2 com o salário médio.
Logo a seguir aparece a Grécia (13 anos), os Países Baixos (12,9 anos), a França (12,8 anos), a Suíça (12,6 anos), a Áustria (11,9 anos) e a Hungria (11,6 anos). Portugal está na metade dos 31 países da OCDE com dados disponíveis em que as famílias demoram mais anos a poupar salários médios para comprar uma casa.
“O número de anos de rendimento disponível equivalente ao preço de uma moradia de 100 m2 aumentou em quase toda a OCDE e quase duplicou em alguns países entre 2000 e 2020”, lê-se no estudo. De notar ainda que “a inflação dos preços da habitação, elevando os preços dos arrendamentos, também reduz o rendimento disponível das famílias que arrendam casa no mercado privado, o que diminui o seu bem-estar económico e torna mais difícil poupar para a aquisição de habitação própria”, conclui ainda a OCDE.
Por outro lado, nos EUA os agregados precisam apenas do equivalente a 4,1 anos de salários médios disponíveis para adquirir uma habitação. Também a Lituânia (6,5 anos) e a Finlândia (6,7 anos) estão entre os três países da OCDE onde as famílias conseguem comprar uma casa em menos tempo de poupanças.
Quais as consequências da subida dos preços das casas nos países da OCDE?
Neste estudo, a OCDE apontou também várias consequências para a subida dos preços das casas em termos socioeconómicos, que se resumem nas seguintea:
Subida das despesas com a casa (maiores rendas ou prestações da casa) têm “efeitos mais fortes” sobre as famílias de baixos rendimentos e mais jovens;
- Custos maiores com as casas impossibilita as famílias mais pobres de investirem na manutenção da casa ou procurarem uma casa melhor para viver;
- Aumento dos desequilíbrios socioeconómicos: “O aumento dos preços das casas constitui uma grande oportunidade para acumular riqueza, pois os proprietários beneficiam de retornos de investimento significativos”, diz a OCDE, salientando que também promove um maior acesso ao crédito dos proprietários, já que as casas podem servir como garantia. Por outro lado, a subida dos preços das casas “representam uma barreira crescente para a propriedade de imóveis, levando a maiores custos iniciais de compra e maiores encargos de hipoteca para novos participantes do mercado”, como jovens e famílias de baixos rendimentos.
- Segregação espacial: “A inflação dos preços da habitação também pode contribuir para a segregação espacial, com importantes implicações para o bem-estar das famílias, acesso a serviços públicos e mobilidade social. O crescimento dos preços das casas varia consideravelmente entre as regiões, com crescentes diferenças regionais nos valores das propriedades, restringindo assim a capacidade de famílias de baixa renda morar perto de onde trabalham, o que pode levar a longos deslocamentos e afetar negativamente seu bem-estar”, explica a OCDE. Além disso, também pode “afetar a capacidade das famílias de se mudarem para áreas que oferecem melhores oportunidades de emprego e ensino ou acesso a serviços públicos de maior qualidade, reforçando assim as desigualdades económicas existentes”, conclui.
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