
Para contrariar a inflação no Reino Unido que teima em subir (chegou aos 11,1% em outubro), o Banco de Inglaterra tem apostado todas as cartas na subida dos juros de referência, mesmo correndo o risco de a economia britânica estar a entrar em recessão. Em resultado, os juros nos créditos habitação estão a subir e os bancos a cortar na concessão de novos empréstimos. Esta realidade tem vindo a abrandar a venda de casas e até a descer os preços das habitações no Reino Unido.
O Banco de Inglaterra (Bank of England, BoE) tem vindo a subir as taxas de juro de referência ao longo de 2022, tanto que a principal taxa está nos 3%. A ideia passa por reduzir a inflação para os 2%. Mas, até agora, os efeitos da sua política monetária ainda não tiveram o impacto esperado: a inflação no Reino Unido acelerou em outubro, chegando aos 11,1%, a taxa mais elevada em mais de 40 anos, avançou esta quarta-feira, o Escritório Nacional de Estatísticas (ONS). Em resultado, o país caminha para uma recessão económica, tal como outros países europeus.
A subida a galope das taxas de juro de referência pelo Banco de Inglaterra teve um efeito direto nos juros a pagar pelos empréstimos das casas no país. E “quando as taxas de juros sobem, os pagamentos mensais de qualquer quantia de dinheiro emprestado aumentam, o valor máximo que se pode pedir emprestado diminui e, portanto, reduz o valor máximo que uma família tem capacidade de pagar por uma casa”, resume Merryn Somerset Webb, colunista na Bloomberg.
Os efeitos desta realidade já estão a ser sentidos pelo país. Segundo refere a consultora Pantheon Macro Economics, citada pela autora, há cada vez menos créditos habitação aprovados. Até ao final do ano, deverá haver menos de 40.000 hipotecas aprovadas por mês no Reino Unido, um número semelhante ao registado na última crise financeira.
Com a redução de créditos habitação aprovados, a venda de casas também começa a cair no país. A Persimmon – uma construtora britânica - observou recentemente que há mais famílias a cancelar a compra de casas e as vendas semanais diminuíram. E também as instituições financeiras Nationwide e Halifax relataram pequenas quedas nos preços das casas nominais mês após mês.
“A queda nas aprovações de créditos habitação quase sempre significa uma redução dos preços das casas”, assinala a colunista. Uma vez que grande parte das famílias continua a recorrer ao crédito habitação para comprar casa, a redução do número de hipotecas aprovadas traduz-se numa menor procura de casas para comprar. E, a lei da oferta e da procura diz-nos, que quando a procura desce e a oferta se mantém ou aumenta, os preços descem. O mesmo se aplica ao mercado imobiliário.
Há uma “evidência bastante clara” de que os preços das casas estão a cair no Reino Unido, sublinhou a Pantheon Macro Economics, citada pela autora. A empresa imobiliária britânica Zoopla referiu ainda que os preços das casas foram reduzidos em 5% ou mais, em cerca de 7% das habitações que estão hoje no mercado.
A especialista defende ainda que é a procura das casas – sobretudo financiada através dos bancos – que “realmente determina os preços das habitações”, diz na mesma publicação. É por isso que a subida dos juros nos empréstimos habitação tem um efeito direto na descida dos preços das casas, conclui.
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