
O custo de vida e a falta de acesso à habitação foram uma das grandes frustrações dos norte-americanos na campanha eleitoral. A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos EUA confere ao ex-presidente um segundo mandato até 2029, numa altura em que o mercado residencial enfrenta o desafio de melhorar a acessibilidade da habitação, com escassez de oferta e muita procura. Trump prometeu reduzir as regulamentações e normas estaduais, as taxas de juro dos créditos habitação para 3% e abdicar de terrenos federais para construir mais casas.
Uma das maiores preocupações dos vários players do setor imobiliário reside nas políticas protecionistas prometidas por Trump, que podem fazer disparar a inflação e obrigar a Reserva Federal (Fed) a aumentar as taxas de juro diretoras, que têm vindo a recuar, tal como na Europa.
Os especialistas já anunciaram que os rendimentos das obrigações já estão a subir, indicando que o mercado espera que o custo dos empréstimos continue a subir. O rendimento dos títulos do Tesouro dos EUA a 10 anos, que as taxas hipotecárias acompanham de perto, disparou para 4,477%, sendo este o nível mais elevado desde o início de julho.
Trump terá de moderar drasticamente a agenda se quiser cumprir a promessa de reduzir as taxas hipotecárias para 3%, o que agora parece estar muito fora de alcance, na ausência de uma forte recessão económica, destacam os especialistas da Bloomberg.
A Fed acaba de baixar as taxas em mais 25 pontos base para deixar o preço do dinheiro na faixa de 4,5% a 4,75%. A taxa média das hipotecas fixas a 30 anos tem vindo a aumentar para 7% e é provável que ultrapasse esse nível nos próximos meses.
Isto faria com que as taxas hipotecárias regressassem aos níveis em que estavam este verão, diminuindo as esperanças dos potenciais compradores de casas de haver uma melhoria na acessibilidade, observam os analistas.
Trump com propostas inflacionistas?
As expectativas de que as propostas políticas de Trump seriam inflacionistas, como a expansão das tarifas sobre produtos estrangeiros, cortes de impostos e deportação de milhões de imigrantes, e fariam subir os preços, bem como os salários.
Paralelamente, a Fed poderia alterar o seu 'modus operandi' atual. O presidente da entidade, Jerome Powell, garantiu que não tem intenções de se demitir, apesar dos atritos com o presidente eleito, Donald Trump. De recordar que o mandato de Powell termina em maio de 2026.
Além disso, a ameaça de deportações em massa de imigrantes ilegais nos EUA poderá impactar bastante o setor da construção, que necessita de mão de obra para avançar. E muitos dos trabalhadores deste setor não possuem o ‘Green Card’, que lhes permite viver e trabalhar permanentemente nos EUA.
Trump, recorde-se, prometeu proibir a concessão de créditos habitação e benefícios de habitação a imigrantes sem documentos.
Em relação à transferência de terrenos estatais, Trump também terá de pensar muito bem para avançar nesta questão. Os terrenos em causa estão geralmente localizados longe das áreas metropolitanas, onde são realmente necessários terrenos para construir e onde há maior procura de habitação.
Ainda assim, a habitação continua a ser uma questão dos Estados, e cada um enfrenta as suas regulamentações locais, nomeadamente de construção.
Os dados mais recentes indicam que foram compradas 738.000 casas novas em setembro, o valor mais elevado desde maio de 2023. No entanto, as transações de casas existentes registadas em outubro foram de apenas 3,84 milhões, o valor mais baixo desde 2010, segundo dados da Associação Nacional de Mediadores Imobiliários.
E mais: faltam 7,3 milhões de casas para arrendar a preços acessíveis para inquilinos com rendimentos extremamente baixos, de acordo com a Coligação Nacional de Habitação para Pessoas com Baixos Rendimentos.
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