Há ·uma "associação excessiva" entre o setor bancário e os políticos em Portugal que pode comprometer a supervisão bancária, conclui o estudo "As crises bancária e financeira de Portugal: consequências inesperadas da integração monetária", publicado no Journal of Economic Policy Reform. "A maioria dos últimos 19 ministros das Finanças tinha ligações aos três maiores partidos políticos", sendo que "74% deles tinha trabalhado anteriormente para bancos ou instituições financeiras".
Uma das conclusões a que chegam os investigadores Tiago Cardão-Pito e Diogo Baptista, que analisaram o desempenho do setor bancário português desde a adesão do país ao euro (1999) até 2015, foi que "nos primeiros anos do euro, verificaram-se em Portugal ciclos bancários muito perigosos que costumam ocorrer na imediação de crises bancárias e que muitas vezes causam essas crises bancárias", tal como escreve a Lusa.
Em entrevista à agência de notícias, o investigador do ISEG Tiago Cardão-Pito afirma que estes ciclos de excesso de capital seguidos de bolhas de crédito podem provocar crises bancárias e apresenta cinco potenciais explicações para a ocorrência sistemática destes ciclos, incluindo a "proximidade" entre políticos que tutelam o setor bancário e o próprio setor.
Barroso e Constâncio dados como "maus" exemplos
No 'paper', os investigadores vão mais longe e escrevem que "talvez não seja uma coincidência que Portugal mostre uma ligação muito próxima entre a indústria bancária e alguns dos políticos mais importantes que, quando estão no governo, são responsáveis pela regulação, supervisão e controlo do sector bancário".
Os dados indicam que "a maioria dos últimos 19 ministros das Finanças tinha ligações aos três maiores partidos políticos", sendo que "74% deles tinha trabalhado anteriormente para bancos ou instituições financeiras".
Além disso, "a mobilidade interna" dos políticos de topo e dos banqueiros centrais entre cargos exercidos em Portugal e na Europa "pode produzir um ciclo enviesado", escrevem Cardão-Pito e Baptista, que apontam os casos de Durão Barroso (que deixou o cargo de primeiro-ministro em Portugal para assumir a presidência da Comissão Europeia durante 10 anos, estando agora no Goldman Sachs) e de Vítor Constâncio (que foi para o Banco Central Europeu depois de ter ocupado a função de governador do Banco de Portugal).
Os investigadores argumentam que este tipo de situações "não permite um perímetro de segurança suficiente e uma distância necessária para garantir uma visão crítica, independente e desafiante sobre diferentes realidades".
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