Muita coisa mudou na área da arquitetura e no setor imobiliário em geral, na última década. Mariana Morgado Pedroso trouxe para Portugal, em 2012, a marca/conceito Architect Your Home (AYH). O país estava, na altura, mergulhado numa crise e sob a ajuda da Troika. Mais recentemente, os profissionais do setor voltaram a ter de adaptar-se, de forma a dar respostas a uma inesperada pandemia que mudou os hábitos de consumo e de vivência das famílias. Pelo meio, há uma guerra a acontecer. Apesar de tudo, a fundadora e diretora geral do AYH considera, em entrevista ao idealista/news, que “a arquitetura em Portugal está a viver um momento rico em grandes projetos”, à boleia do “crescimento do setor imobiliário”. E garante que é possível o "acesso ao trabalho de arquitetos a todo o tipo de público".
O impacto da pandemia da Covid-19 e da guerra na Ucrânia são dois dos temas abordados na entrevista, com Mariana Morgado Pedroso a adiantar, por exemplo, que a AYH ainda não sentiu no seu negócio “impactos diretos” do conflito armado. “Mas é previsível que possam existir”, comenta. Há, no entanto, uma consequência da invasão da Rússia à Ucrânia que parece certa: “Será expectável que haja um aumento no custo da construção decorrente do aumento do custo das matérias-primas e recursos energéticos, pelo que a arquitetura e a área da construção serão penalizadas seguramente”.
Segundo a fundadora do AYH, há novas tendências e novos projetos a surgir no mercado imobiliário que estão a trazer novos desafios aos arquitetos: “O que notamos de diferença está relacionado com a transformação de projetos anteriormente dedicados ao turismo e agora convertidos em habitação, por exemplo hotéis transformados em apartamentos e turismos locais transformados em arrendamentos de longa duração”.
Por outro lado, têm surgido "muitos projetos de reformulação de casas, relacionados com o facto de ser necessário a coabitação de toda a família em regime 24h e a necessidade de se criarem formas criativas de se trabalhar e viver no mesmo espaço". E Mariana Morgado Pedroso desmonta a ideia de que recorrer a um arquiteto seja só para grandes orçamentos. Tudo para ler, em detalhe, nesta entrevista que agora publicamos na íntegra.
Depois da pandemia, a guerra. Que impacto tem ou está a ter o conflito armado no negócio do AYH?
Um conflito armado na Europa terá sempre impactos na economia, e na nossa área até a data no AYH não sentimos impactos diretos, mas é previsível que possam existir.
"Surgiram-nos muitos projetos de reformulação de casas, relacionados com o facto de ser necessário a coabitação de toda a família em regime 24h e a necessidade de se criarem formas criativas de se trabalhar e viver no mesmo espaço"
É previsível que com o aumento da inflação, dos materiais e dos custos de construção, por exemplo, o negócio do AYH seja de alguma forma penalizado. E a própria arquitetura, no geral? Porquê?
Como descrito acima será expectável que haja um aumento no custo da construção decorrente do aumento do custo das matérias primas e recursos energéticos, pelo que arquitetura e área da construção serão penalizadas seguramente.
Que desafios enfrenta o setor da arquitetura e design atualmente?
O setor da arquitetura e design atualmente enfrenta desafios relacionados com a colaboração remota, que se tornou uma prática corrente com a pandemia, mas que é difícil de gerir e conciliar na nossa área. Temos assistido também a muitos profissionais fazerem escolhas alternativas na sua vida, mudando a sua área de residência ou mesmo a área profissional, criando uma dinâmica muito interessante no nosso setor.
O que procuram agora os potenciais clientes do AYH que antes não procuravam? Tanto a nível de projetos de nova construção, como de reabilitação e pequenas reformas.
Em termos de projetos o que notamos de diferença está relacionado com a transformação de projetos anteriormente dedicados ao turismo e agora convertidos em habitação, por exemplo hotéis transformados em apartamentos e turismos locais transformados em arrendamentos de longa duração. Também nos surgiram muitos projetos de reformulação de casas, relacionados com o facto de ser necessário a coabitação de toda a família em regime 24h e a necessidade de se criarem formas criativas de se trabalhar e viver no mesmo espaço.
"A arquitetura em Portugal está a viver um momento rico em grandes projetos, o crescimento do setor imobiliário traz naturalmente projetos de arquitetura associados e já há alguns anos que este mercado em Portugal tem estado em crescimento"
Todo este contexto que se vive, primeiro com a pandemia e agora com a guerra, faz com que os arquitetos encarem de “outra forma” a profissão?
Creio que todos nós passámos a encarar a vida de outra forma. Após o contexto da pandemia, a nossa profissão sofreu alguns reajustes, porque tivemos de repensar a importância que os espaços têm na vida das pessoas. Neste novo contexto tivemos de dar mais tempo e cuidado no desenho das casas e locais de trabalho das nossas pessoas e clientes. A responsabilidade é grande de utilizar a profissão em prol de uma vivência comum e confortável no espaço que nos rodeia.
É possível afirmar que aquela que seria a casa do futuro dos portugueses há uns anos já não é a casa de futuro que os portugueses agora ambicionam?
Os projetos que surgiram com diferentes briefings mostram a diferente abordagem que se faz a uma casa de futuro – por exemplo na necessidade de ter espaços exteriores privativos. Um terraço, um jardim ou mesmo uma pequena varanda passaram a ser cruciais no desenho de uma casa.
Em jeito de balanço, como avalia o estado em que se encontra a arquitetura em Portugal atualmente?
A arquitetura em Portugal está a viver um momento rico em grandes projetos, o crescimento do setor imobiliário traz naturalmente projetos de arquitetura associados e já há alguns anos que este mercado em Portugal tem estado em crescimento.
Usar um arquiteto só faz sentido em grandes projetos e custa “uma fortuna”. É verdade ou é um mito urbano sem sentido? Porquê?
Somos totalmente contra a ideia de que usar um arquiteto só faz sentido em grandes projetos, e ainda persiste a falsa ideia de que custa “uma fortuna”. No AYH promovemos o acesso ao trabalho de arquitetos a todo o tipo de público, através da implementação de um Menu de Serviços que permite ao cliente utilizar os serviços de um arquiteto “tanto ou quanto precisar”. Este sistema já nos permitiu desenvolver mais de 500 projetos de todas as escalas, o que nos prova que é possível ajudar a melhorar uma casa, mesmo com um budget controlado.
Falemos sobre o negócio do AYH em Portugal. Que balanço faz do ano de 2021 em termos de volume de negócios, faturação, projetos adjudicados, etc.? Foi um ano melhor que o de 2020?
Para o AYH 2021 foi um ano similar a 2020, uma vez que estamos envolvidos em vários projetos de larga escala que transitaram de ano, dado que em 2020 vários projetos ficaram muito tempo “on hold”, só agora, em 2022, é que realmente estamos a voltar aos números de 2019, prevendo uma faturação acima de um milhão de euros.
"No AYH promovemos o acesso ao trabalho de arquitetos a todo o tipo de público, através da implementação de um Menu de Serviços que permite ao cliente utilizar os serviços de um arquiteto 'tanto ou quanto precisar'. Este sistema já nos permitiu desenvolver mais de 500 projetos de todas as escalas, o que nos prova que é possível ajudar a melhorar uma casa, mesmo com um budget controlado"
Quantos clientes tem o AYH? Quantos a mais em 2021 face a 2020?
Atualmente tem perto de 90 clientes ativos, com um crescimento cerca de 30% de 2020 para 2021.
Quem são os clientes da AYH, que tipo de projetos procuram (residencial, hoteleiros, escritórios etc.)? São mais particulares ou mais empresas?
Os clientes do AYH são 60% particulares e 40% empresas, com destaque para os projetos na área residencial. Relativamente ao mercado dos particulares, temos um serviço com um crescimento estabilizado e “amigo do cliente” que já se afirmou no mercado, com excelentes resultados. Estamos neste momento com muito enfoque nos clientes B2B, uma vez que temos construído um bom portfolio de projetos maiores que permitem mostrar a novos clientes as valências do AYH na área dos grandes projetos, como nos empreendimentos residenciais, turísticos e escritórios.
São clientes sobretudo portugueses? De que nacionalidades são os estrangeiros?
Temos um mix de clientes portugueses e não portugueses, sendo estes últimos sobretudo de nacionalidade francesa, inglesa e brasileira.
"No mercado dos particulares, temos um serviço com um crescimento estabilizado e 'amigo do cliente' que já se afirmou no mercado, com excelentes resultados"
O que esperar do ano de 2022? Está, para já, a corresponder às expectativas?
2022 está a corresponder às nossas expectativas, sendo que nesta fase já temos consciência de que será possível chegar aos números de 2019.
A rede de arquitetos AYH é composta por quantos ateliers? Onde se encontram localizados? Por quantas pessoas é composta, ao todo, a equipa?
A rede AYH é composta por 12 ateliers, localizados no grande Porto, Lisboa e Algarve. Neste momento, a equipa total tem mais de 35 pessoas associadas, o que nos permite dar resposta a grandes projetos.
Em termos de expansão estamos concentrados no mercado B2B (nacional e estrangeiro), apostando em mostrar o portfolio, experiência adquirida e potencial criativo da nossa equipa para grandes projetos de promoção imobiliária.
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