Entre escritórios, hospitais, hotéis, salas de espetáculos, museus, monumentos, empreendimentos residenciais ou fábricas, contam-se já 45 anos ao serviço da construção e reabilitação em Portugal. O “currículo” de obras do grupo HCI é vasto e reveste-se de projetos emblemáticos, muitos de grande envergadura, numa ponte entre a tradição e a modernidade. Um deles é a renovação do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, em Lisboa, que os responsáveis da empresa visitaram na companhia do idealista/news e onde refletiram sobre os grandes desafios do setor no país. Da escassez de mão de obra qualificada, resistência à inovação tecnológica, sustentabilidade e métodos construtivos mais industrializados, alertam que Portugal continua refém de uma cultura “antiquada” que atrasa a resposta às exigências do mercado, nomeadamente a necessidade de “construir tudo o que falta construir”.
Rui Furtado Marques, administrador da HCI, considera que a reabilitação tem um papel muito importante na renovação das cidades e preservação do património, transformando os edifícios em espaços mais inovadores e sustentáveis. Dá o exemplo da empreitada no CAM, redesenhado pelo arquiteto japonês Kengo Kuma, em que foi necessário “perceber muito bem a pré-existência do edifício, conhecer a sua história para saber em que período é que foi feito, quais os regulamentos que existiam na altura para perceber bem a lógica da construção”, além de adaptá-lo às novas características, num “match” entre o método antigo e o novo.
Defende ser fundamental “habilitar os espaços” e “absolutamente crucial” manter e continuar a reabilitação do património, contudo, diz que tem que haver “bom senso”, garantindo, antes de nada, uma análise profunda dos edifícios para que exista um equilíbrio entre a realidade e custo financeiro, uma vez que “as obras de reabilitação são mais caras”. Partindo do pressuposto que investir na reabilitação é necessário, mas também dispendioso e complexo, Rui Furtado Marques acredita que, ao nível da habitação, por exemplo, “é mais fácil fazer construção nova porque é mais barata e é mais rápida”.
Na opinião deste especialista, e de olhos postos no futuro, Portugal precisa de soluções de projeto mais industrializadas e de “ser mais racional na construção”. “Não podemos ter um projeto em que temos um edifício com 300 janelas de tamanhos diferentes. Tem que haver uma revolução neste pensamento, porque enquanto nós continuarmos a querer fazer as obras de uma forma artesanal, como se faziam há 50 anos e esquecer o problema da mão de obra, o problema da qualidade, não conseguimos resolver em obra problemas que deveriam ter sido acautelados em fase de projeto”, refere.

Setor resistente à "mudança de paradigma" nos métodos construtivos
Uma visão partilhada por Nuno Guerra, também administrador na empresa. Acompanha a HCI há 30 anos, nomeadamente o crescimento da empresa no setor e envolvimento em grandes obras, e reconhece que há, no setor, alguma dificuldade em aceitar a mudança de paradigma, por exemplo, em termos de alterações nos métodos construtivos, como “aceitar novas tecnologias como a construção modular ou a pré-fabricação”.
“Hoje em dia existe uma grande corrente de impressão 3D na construção, que é assim uma coisa fora do comum, que é construir os edifícios com mega impressoras. Tudo isso ainda é muito prematuro, ainda está muito embrionário no país, apesar de lá fora já começar a aparecer com mais força. Nós cá em Portugal, efetivamente, ainda somos muito resistentes a estas inovações”, comenta.

De acordo com o responsável, o futuro do setor passa igualmente pela sustentabilidade, uma área onde a HCI se posiciona na vanguarda, investindo em construções com menor pegada de carbono e maior eficiência energética. Já para enfrentar os desafios da escassez de mão de obra qualificada, a construtora tem apostado em atrair novos talentos e investir na formação. Uma missão “árdua e difícil”, garante, e que é tema há mais de 20 anos. “A crise de 2010 agudizou o fenómeno ao nível de técnicos qualificados, face à emigração dos jovens e pessoas com muita capacidade”, diz.
Acrescenta que as grandes empresas, hoje e desde sempre, têm-se adaptado à procura e às necessidades do mercado, mas que “as pequenas construtoras, pequenos empreiteiros têm poucos recursos”. “Hoje em dia, o mercado da construção não é um mercado que gere uma riqueza imensa. Portanto, o valor acrescentado não é muito. Nós, ao contrário do que possa parecer, temos que trabalhar muito para gerar riqueza. Não é fácil. E, portanto, como não há essa capacidade financeira, não há esse 'drive', há pouca gente... e a construção não sendo atrativa, há muita dificuldade em aceitar e concretizar a mudança de paradigma”, explica.

A HCI assume-se como uma das protagonistas na transformação do setor no país, destacando-se por empreitadas que aliam inovação e sustentabilidade. Entre as suas obras mais icónicas estão a reabilitação do CAM, a construção da sede da EDP, a Fundação Champalimaud, assim como a Universidade Nova em Carcavelos ou Convento de Santa Joana. A empresa também concluiu recentemente os edifícios EXEO, um grande projeto de escritórios em Lisboa. Grandes obras que “são um orgulho para a posteridade”, nas palavras de Vitor Lúcio da Silva, Presidente do Conselho de Administração da HCI.
O gestor resume o segredo da consistência e sucesso da empresa ao longo dos últimos anos em duas palavras: sustentabilidade e flexibilidade. Sustentabilidade porque sempre foram muito conservadores em termos financeiros, evitando “dar um passo maior que a perna”; e flexibilidade porque procuram “incorporar na HCI a competência de engenharia e capacidade de coordenação dos trabalhos, tentado, em tudo o restante, ir buscar ao mercado”.

Vitor Lúcio da Silva comentou ainda que a integração da HCI no Grupo Visabeira foi um passo “essencial e natural” para resolver a questão da sucessão acionista, garantindo estabilidade e assegurando uma transição harmoniosa. Explica que processo ocorreu de forma ágil e natural, devido à forte empatia entre as empresas, que partilham valores, culturas e objetivos semelhantes. “Ser integrado num grupo com valor, com uma cultura semelhante à da HCI, com esta dimensão, é uma garantia de futuro”, conclui.
Acompanha toda a informação imobiliária e os relatórios de dados mais atuais nas nossas newsletters diária e semanal. Também podes acompanhar o mercado imobiliário de luxo com a nossa newsletter mensal de luxo.
Para poder comentar deves entrar na tua conta