Remodelar a casa pode ser a opção para melhorar eficiência energética para quem não quer mudar de casa ou tem orçamento limitado.
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Remodelar a casa
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O inverno está aí, fazendo baixar as temperaturas no exterior. Mas o frio também se sente dentro de quatro paredes, na casa das famílias. O desafio de aquecer a casa no inverno persiste, com um em cada cinco portugueses a ter dificuldades em manter o conforto térmico da sua habitação, fazendo de Portugal o caso mais grave de toda a União Europeia (UE). O domínio de casas antigas, os baixos salários e as altas despesas com a habitação ajudam a explicar estes números do Eurostat agora analisados pelo idealista/news. Mas não só. A renovação de casas também está aquém do necessário, faltando mais incentivos financeiros e fiscais, segundo têm alertado vários especialistas. Estes estímulos são ainda mais importantes numa altura em que Portugal tem de transpor a nova diretiva europeia sobre eficiência energética para a legislação.

Portugal destaca-se no retrato da “Habitação na Europa 2024”, lançado pelo Eurostat no último trimestre do ano passado. Mas não pelos melhores motivos: cerca de 20,8% da população portuguesa relatou não ter capacidade para manter a casa aquecida de forma adequada em 2023, mais 3,3 pontos percentuais do que no ano anterior. O país passou, assim, a ter a maior percentagem de pessoas com dificuldade em manter a casa quente entre os países da UE, igualando a da vizinha Espanha. E está bem longe da média dos 27 Estados-membros (10,6%).

Há um conjunto de fatores que ajudam a explicar o elevado número de famílias que tem dificuldade em manter a casa quente no inverno em Portugal:

  • Parque habitacional antigo: seis em cada 10 casas foram construídas em 1990 ou antes, com elevada expressão do número de edificações na década de 80, revelam os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Também mais de metade das casas existentes em Lisboa e no Porto têm mais de 30 anos. Muitas destas casas antigas não têm isolamento térmico adequado, o que resulta em perdas de calor;
  • Mais de metade dos portugueses vive em moradias: cerca de 53,7% dos portugueses vivia numa vivenda, o que torna mais difícil manter a casa quente. Esta percentagem sobe para 85,7% em zonas rurais, enquanto nas cidades cai para 36,3% passando os apartamentos a liderar, indica o estudo do Eurostat;
  • Usar aquecimento eleva custos com a casa: boa parte das despesas das famílias já diz respeito à habitação (cerca de 40%, segundo o INE), o que inclui rendas ou prestações da casa, água, luz, gás e outros combustíveis. Isto significa que usar aquecimentos, ar condicionado ou outros equipamentos para aquecer a casa iria aumentar ainda mais a fatura de energia. Talvez por isso é que mais de uma em cada quatro pessoas não usou qualquer tipo de aquecimento em casa em 2023, o que ajuda a explicar o facto de Portugal estar entre os países da UE que emitem menos gases com efeito estufa a partir das habitações;
  • Risco de pobreza cai, mas persiste: há uma relação direta entre baixos salários e a dificuldade financeira para manter a casa aquecida no inverno, o que é ainda mais visível entre a população em risco de pobreza, concluiu o INE. Apesar de ter recuado em 2023 face ao ano anterior, o risco de pobreza ainda afeta 1,7 milhões de pessoas.

Estes dados mostram que as casas antigas e grandes em Portugal dificultam a melhoria do conforto térmico e a acumulação de calor no inverno. E a nível socioeconómico, os baixos salários e as elevadas despesas com a habitação travam a aposta em equipamentos eficientes para aquecer a casa.

Casas antigas em Portugal
Créditos: Gonçalo Lopes | idealista/news

Comprar ou reformar a casa? As soluções para viver com conforto térmico

Quem vive numa casa com baixo conforto térmico tem, à partida, duas soluções à vista. Ou mudar de casa, comprando ou construindo uma com melhor desempenho energético. Ou apostar na reforma da habitação atual, trocando janelas, portas, isolamentos e até aquecimentos por outros mais eficientes.

Reformar a casa para melhorar a eficiência energética 

Para quem não quer mudar de casa ou tem um orçamento mais limitado, a alternativa para melhorar o conforto térmico poderá passar mesmo por remodelar a casa por fases. Primeiro, pode-se mudar as janelas, depois as portas, os pavimentos, isolamentos e até investir em aquecimentos mais eficientes. Descobre qual é o orçamento para reformar a casa nesta calculadora do idealista.

Já há milhares de famílias que têm apostado na renovação da casa nos últimos anos – mas precisa de haver incentivos para haver ainda mais. Os mesmos dados do Eurostat relativos a 2023 revelam que apenas 28,8% dos portugueses (com 16 anos ou mais) viviam em casas onde a eficiência energética havia sido melhorada nos cinco anos anteriores, estando acima da média da UE (25,5%). As principais obras na casa neste âmbito prendem-se com:

  • a melhoria do isolamento térmico em paredes externas, telhados ou pisos;
  • substituição de janelas de vidro simples por janelas mais sustentáveis (de vidro duplo ou triplo);
  • instalação de sistemas de aquecimento mais eficientes.

Há apoios do Estado que têm promovido a renovação das casas em termos energéticos, como é o caso do Vale Eficiência, que tem como objetivo mitigar a pobreza energética, e ainda o Programa de Apoio a Edifícios Mais Sustentáveis, que vai ser reforçado para responder à alta procura (verbas vão triplicar para 90 milhões de euros). Mas, depois, o plano do Governo passa por acabar com este programa, passando a focar-se no combate à pobreza energética de famílias mais vulneráveis.

Criar programas de combate à pobreza energética é uma das recomendações dadas pelo Grupo de Coordenação da Estratégia de Longo Prazo para a Renovação dos Edifícios (ELPRE), que está alinhado com os objetivos climáticos da UE até 2050. Mas não chega para que Portugal consiga renovar 49% dos edifícios residenciais e não residenciais até 2030 – a meta definida (até agora renovou apenas 3,9%). 

Na sua visão, é preciso também reforçar os mecanismos financeiros e os incentivos fiscais de promoção da eficiência energética e ainda formar profissionais especializados em renovação energética. Só acelerando a renovação de edifícios, sobretudo residenciais, é que se pode cumprir estas metas energéticas da UE e se consegue melhorar o conforto térmico das casas das famílias, para que o frio não volte a entrar. 

Eficiência energética das casas
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Comprar ou construir casa nova: preços estão em alta

Para quem quer mudar de casa para melhorar conforto térmico, há boas e más notícias. Por um lado, os juros no crédito habitação estão a descer há meses, aliviando o peso das prestações da casa nos orçamentos familiares. E os bancos estão a conceder cada vez mais créditos habitação sustentáveis, destinados à aquisição, construção e renovação de imóveis eficientes, escreve o Expresso. Mas, por outro lado, tanto o custo da construção nova, como os preços das casas estão em alta em Portugal.

  • Comprar casa com melhor desempenho energético pode ser uma opção, sendo que essa informação deve estar disponível no anúncio do imóvel à venda – aliás, é obrigatório ter certificado energético na hora de comprar/vender casa. Mas aqui as famílias têm de estar preparadas para desembolsar milhares de euros e até dispostas pedir financiamento ao banco. Os preços das casas vendidas em Portugal quase duplicaram nos últimos 13 anos, tendo acelerado o ritmo de crescimento em 2024, muito devido à descida dos juros e ao novo apoio à compra de casa por jovens, a isenção de IMT. No terceiro trimestre de 2024, os preços das casas subiram 9,8% face ao mesmo período do ano anterior, com o preço das casas novas a superar, em média, 50% o valor das casas usadas, revelou o INE. Tudo indica que as casas para comprar vão continuar a ficar mais caras, tendo em conta que estes incentivos à compra vão permanecer em 2025, aos quais se soma ainda a garantia pública para jovens já operacional.
  • Construir casa nova em Portugal pode ser uma boa opção para quem ver melhorar a qualidade de vida e controlar a climatização da casa. Mas também requer uma elevada despesa e/ou endividamento bancário. Isto porque o custo de construção de casas novas aumentou quase 44% entre 2010 e 2023 (+52% na UE), indica o gabinete de estatística europeu. E continuou a subir ao longo de 2024, com o INE a apontar para um crescimento do custo de construção de habitação nova de 4,2% em outubro face ao mesmo período do ano passado, um aumento impulsionado pelo elevado custo de mão de obra, que é escassa no país. Se não houver incentivos à contratação de trabalhadores estrangeiros, tudo indica que a construção de casas vai continuar a ficar mais cara e aquém das necessidades do país. 

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