Em setembro, a Euribor a 12 meses chegou aos 2,2% e a 6 meses aos 1,6%. Prestações da casa vão subir, algumas em quase 200 euros.
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Prestações da casa mais caras
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Não há boas notícias para os portugueses que querem comprar casa com recurso a financiamento bancário. O Banco Central Europeu (BCE) já subiu as taxas de juro diretoras em 125 pontos base desde julho - e vai continuar a subir. E em reação a esta mudança de política monetária, as taxas de juro, quer fixas quer variáveis, estão a aumentar. Os empréstimos habitação de taxa variável são aqueles que vão sentir um maior reflexo destas alterações por via da subida das taxas Euribor, as quais atingiram máximos de dez anos em setembro. Ainda assim, a maioria dos novos contratos de crédito habitação em Portugal continuam a ser de taxa variável (cerca de 68% em julho). Explicamos como é que as recentes subidas das taxas Euribor vão impactar as prestações da casa, tendo por base simulações.

Os orçamentos familiares estão a apertar por via da subida da inflação, que atingiu os 9,3% em Portugal em setembro, segundo os dados provisórios do Instituto Nacional de Estatística. E neste cenário tudo se complica para está preparado para comprar casa com recurso a financiamento bancário. Isto porque, para travar a inflação na Zona Euro (chegou aos 10% em setembro), o BCE já subiu as taxas de juro diretoras em 125 pontos base na segunda metade do ano, impulsionando, assim, as taxas Euribor. E prometeu subi-las ainda mais nas próximas reuniões.

Em reação aos últimos aumentos dos juros diretores pelo BCE, as taxas Euribor voltaram a subir a alta velocidade para todos os prazos. E em setembro, as taxas médias fixaram-se nos seguintes valores:

  • Euribor a 12 meses (a mais utilizada no conjunto dos novos contratos de crédito habitação em Portugal): atingiu os 2,233% em setembro, quase o dobro da fixada em agosto (1,249%). A taxa média de setembro é o maior valor alcançado desde janeiro de 2009, quando se fixou em 2,622%.
  • Euribor a 6 meses (mais utilizada em Portugal no total de créditos habitação): chegou aos 1,596% em setembro, também quase o dobro da registada no mês anterior (0,837%). É preciso recuar a dezembro de 2011 para alcançar uma taxa tão alta para este prazo (1,671%);
  • Euribor a 3 meses (a menos utilizada nos novos contratos, mas que ainda representa 30% da totalidade de contratos assinados até dezembro de 2021, segundo o Banco de Portugal): fixou-se em 1,011% em setembro, quase o triplo da registada em agosto (0,395%). Esta é a Euribor a 3 meses mais elevada desde janeiro de 2012, quando chegou aos 1,222%.

Euribor em alta: como afeta dos novos créditos habitação? E os existentes?

A subida das taxas Euribor afeta tanto os créditos habitação de taxa variável já contratados, como os novos empréstimos para comprar casa. Mas não da mesma forma. Explicamos:

  • Crédito habitação de taxa variável já contratado: as prestações da casa só irão refletir o aumento da Euribor quando forem atualizadas, a 3,6 ou a 12 meses. E a dimensão desta subida vai depender de vários fatores, como o ano do contrato, o capital em dívida e o spread. Além disso, depois de terem passado vários anos a amortizar capital rapidamente, a situação vai mudar já que vão passar a pagar mais juros e a amortizar menos dinheiro;
  • Novos créditos habitação de taxa variável: quem decidir comprar casa em outubro vai sentir, desde logo, uma prestação da casa mais elevada do que se tivesse contratado o empréstimo nos meses anteriores ou no ano passado, por exemplo. Neste caso, as famílias começam logo a pagar as prestações de acordo com a média da Euribor do mês anterior. Este cenário também tem um efeito indireto: como as prestações da casa vão ser mais elevadas, o seu peso face ao rendimento disponível das famílias será maior. E quanto maior for a taxa de esforço, menor será a capacidade de endividamento das famílias, ou seja, reduz o montante que os bancos estão autorizados a emprestar.

De notar que as famílias que optaram pela taxa fixa não vão sentir qualquer aumento da prestação da casa. Já quem estiver a ponderar contratar um novo crédito habitação de taxa fixa ou mista – as quais permitem fixar os juros por um determinado período – vão sentir que os juros estão mais altos do que há um ano: no início de 2021 a taxa fixa num empréstimo a 30 anos estava abaixo dos 1,5% e agora ronda os 3%. A boa notícia é que quem optar pelas taxas de juro fixas garante que vai pagar sempre a mesma prestação da casa do início do fim do contrato.

Juros a subir nos créditos habitação
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Novos créditos habitação de taxa variável: qual é a prestação da casa em outubro?

Os novos créditos habitação de taxa variável contratados este mês (outubro) vão pagar prestações muito superiores do que quem se antecipou e contratou nos meses anteriores. As diferenças de quem contratou um crédito em março e em outubro podem chegar quase aos 200 euros mensais.

Para perceber qual o reflexo das subidas das Euribor no valor do empréstimo a pagar a banco todos os meses, os especialistas do idealista/créditohabitação apresentam simulações com base nestas condições:

  • Novo empréstimo habitação de 150.000 euros;
  • Spread de 1%;
  • Prazo de 30 anos.

Tendo em conta estes exemplos e sabendo que um crédito habitação contratado num mês usa a média da Euribor apurada no mês anterior (ou seja, um crédito contratado em outubro usa a média da Euribor de setembro), podemos concluir o seguinte:

  • Crédito habitação contratado com Euribor a 12 meses: esta taxa deu o salto em 0,984 pontos percentuais de agosto para setembro, o que significa que quem contratar um empréstimo da casa em outubro vai pagar mais 78 euros no primeiro ano do que quem assinou o crédito habitação em setembro;
  • Crédito habitação contratado com Euribor a 6 meses: esta taxa também quase duplicou no último mês. Assim, um crédito habitação assinado em outubro (que usa a média da Euribor de setembro) ficará 58 euros mais caro nos primeiros seis meses do que um contrato assinado em setembro;

E se olharmos para os meses anteriores, as diferenças nas prestações da casa são ainda mais expressivas. Quem contratou um crédito habitação em março com a Euribor a 12 meses de -0,335% (média de fevereiro) paga de prestação 460 euros no primeiro ano (ou seja, até março de 2023). Já quem for pedir um empréstimo com as mesmas condições em outubro (média de 2,233% em setembro) pagará mais 191 euros de prestação da casa mensal até setembro de 2023.

No caso da Euribor a 6 meses, quem pediu um crédito para comprar casa em março pagou 450 euros de prestação até agosto (6 meses). Agora, quem pedir um empréstimo habitação nas mesmas condições vai pagar mais 150 euros no semestre seguinte, desembolsando 600 euros por mês até março de 2023.

Tudo indica que as prestações da casa vão continuar a subir nos próximos meses. Isto porque a Euribor deverá continuar a reagir à subida dos juros diretores já anunciada pelo BCE. Resta saber se as taxas de juro de referência na Europa vão alcançar - ou não - os níveis da última crise financeira em Portugal – o patamar dos 5%.

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