Taxas médias da Euribor deram o salto em setembro, reagindo à subida dos juros diretores pelo BCE. Prestações da casa agravam-se.
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Euribor a subir
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Reagindo à subida das taxas de juro diretoras pelo Banco Central Europeu (BCE) em 125 pontos base e à instabilidade dos mercados financeiros, as taxas Euribor médias deram o salto para todos os prazos em setembro. A Euribor a 12 meses chegou aos 2,233% e a Euribor a 6 meses aos 1,596%. E tudo indica que vão continuar a subir nos próximos meses, levando a que cada vez se paguem mais juros e se amortize menos capital.

Não há boas notícias para quem tem créditos habitação de taxa variável – ou seja, para a maioria dos portugueses que recorreram a financiamento bancário para comprar casa. O valor médio da Euribor subiu para todos os prazos em setembro, um movimento que se vai refletir no aumento as prestações da casa que forem atualizadas em outubro. Quem resolver contratar um novo empréstimo habitação em outubro também sentirá as prestações da casa mais elevadas face aos meses anteriores, além de que os valores dos empréstimos a serem concedidos também encolhem.

Euribor a 6 meses atinge 1,596% em setembro

A média da Euribor a seis meses - a mais utilizada em Portugal no total de créditos habitação - subiu de 0,837% em agosto para 1,596% em setembro (quase o dobro). Recorde-se que a Euribor a 6 meses esteve negativa durante seis anos e sete meses (entre 6 de novembro de 2015 e 3 de junho de 2022).

Quem contratou em outubro um empréstimo de taxa variável a 30 anos, com financiamento de 150.000 euros e um spread de 1% vai pagar quase mais 150 euros durante 6 meses do que quem contratou em março deste ano, tal como explicamos aqui.

Tudo indica que a Euribor a 6 meses continuará a crescer, já que no último dia de setembro a taxa avançou para 1,809%, mais 0,009 pontos, depois de ter subido na quarta-feira até 1,858%, um máximo desde janeiro de 2009.

Euribor a 12 meses dá o salto para 2,233% em setembro

Também a Euribor a 12 meses – a mais utilizada no conjunto dos novos contratos de crédito habitação – deu o salto em setembro. A média da Euribor a 12 meses avançou de 1,249% em agosto para 2,233% em setembro, atingindo assim um máximo desde janeiro de 2009, quando se fixou em 2,62%.

Isto quer dizer que as famílias que contratem em outubro um empréstimo de taxa variável a 30 anos, com financiamento de 150.000 euros e um spread de 1% vão pagar quase mais 200 euros durante 12 meses do que quem contratou em março deste ano (+2.400 euros por ano). Claro que para quem já está a pagar um crédito habitação, o aumento da prestação da casa vai depender de vários fatores, como:

De notar que Euribor a 12 meses está em terreno positivo desde 21 de abril de 2022. Mas o primeiro sinal de que iria permanecer no positivo foi dado a 12 de abril, quando subiu para 0,005%. Esta foi a primeira vez que a Euribor a 12 meses esteve positiva desde 5 de fevereiro de 2016.

Embora com avanços e recuos, a Euribor a 12 meses também tem dado sinais de que continuará a subir: atingiu o máximo desde fevereiro de 2009, de 2,625% no passado dia 27 de setembro.

Euribor a 3 meses: taxa quase triplica de agosto para setembro

A média da Euribor a 3 meses, a que menos se utiliza em Portugal, quase triplicou em apenas um mês: subiu de 0,395% em agosto para 1,011% em setembro. Esta foi a última taxa que entrou em terrenos positivos: foi a 14 de julho que ficou positiva pela primeira vez desde abril de 2015.

Também foi no passado dia 27 de setembro que a Euribor a 3 meses atingiu um novo máximo desde janeiro de 2012, de 1,228%. No último dia de setembro fixou-se em 1,173%, mais 0,013 pontos que no dia anterior.

Das três taxas, a Euribor a 3 meses é a menos utilizada nos novos contratos de crédito habitação, já que em 2021 foi escolhida em apenas 0,2% dos novos contratos. Já na totalidade dos contratos assinados até a 31 de dezembro de 2021, a Euribor a 3 meses representou cerca de um terço da carteira de crédito habitação a taxa variável (30%,dos contratos e 29,5% do saldo em dívida), segundo o Relatório de Acompanhamento dos Mercados de Crédito de 2021 publicado em julho de 2022 pelo Banco de Portugal.

Subida da Euribor
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Porque sobem as taxas Euribor?

A evolução das taxas de juro Euribor está intimamente ligada às subidas ou descidas das taxas de juro diretoras BCE. E foi por essa razão que as Euribor começaram a subir mais significativamente desde o dia 4 de fevereiro, depois de o BCE ter admitido que poderia subir as taxas de juro diretoras este ano devido ao aumento da inflação na Zona Euro. E a tendência foi reforçada com o início da invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro.

No passado dia 8 de setembro, o BCE subiu as três taxas de juro diretoras em 75 pontos base, o segundo aumento consecutivo deste ano, já que em 21 de julho, tinha subido em 50 pontos base as três taxas de juro diretoras, a primeira subida em 11 anos, com o objetivo de travar a inflação que chegou aos 10% em setembro, segundo a estimativa rápida do Eurostat.

No final da última reunião, a presidente do BCE, Christine Lagarde, disse que o aumento histórico de 75 pontos base nas taxas de juros não é a “norma”, mas salientou que a avaliação será realizada reunião a reunião. E adiantou ainda que haverá novas subidas dos juros diretores nas próximas reuniões até que a inflação atinja os 2%, o nível em que é assegurada a estabilidade de preços. Muitos especialistas receiam que a dimensão da subida das taxas diretoras possa pôr em causa o crescimento económico e levar a uma recessão no espaço europeu. A economia da Alemanha, por exemplo, já está a dar sinais de que irá entrar em recessão.

Subida dos juros na Europa
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Quanto poderá subir a Euribor até ao final do ano? E em 2023?

Isto quer dizer que as taxas Euribor vão continuar a reagir aos aumentos dos juros diretores pelo BCE nos próximos meses. Na sua última análise, o Bankinter reviu as suas previsões e admitiu que a Euribor a 12 meses poderia chegar aos 2,8% no final do ano, o que significa que ainda poderá subir mais seis pontos percentuais face à média de setembro. Olhando para 2023, o banco acredita que o indicador poderá rondar os 3%, embora em 2024 possa descer para 2,1%.

Para a associação de financeira Asufin, a subida das taxas Euribor pode ser ainda maior, estimando que em dezembro possa chegar a 3%. E salienta ainda que a subida a pique das taxas está a superar todas as expectativas, já que na primavera nenhum analista esperava que a taxa pudesse se aproximar de 1% em 2022.

Esta subida sem precedentes da Euribor vai provocar, segundo a Fundação das Caixas Económicas (Funcas) uma diminuição da procura de casas para comprar, explicada também pelo menor poder de compra das famílias devido à inflação e pela incerteza económica. No entanto, de momento não está previsto que esta desaceleração seja “forte” e que se avizinhe nova crise imobiliária.

*Notícia atualizada dia 4 de outubro, às 9h33, com a atualização das simulações da prestação da casa

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