
Os portugueses estão a apresentar menos queixas ao supervisor bancário relacionadas com o crédito habitação. Quem o diz é o Banco de Portugal (BdP) que assinalou uma “redução significativa” no número de reclamações sobre empréstimos habitação nos primeiros seis meses do ano em 35%. O fim dos apoios às famílias perante a subida dos juros ajuda a explicar esta diminuição.
No primeiro semestre de 2024, o BdP recebeu um total de 1.598 reclamações sobre crédito habitação e hipotecário, menos 35% face ao número de queixas recebidas no mesmo período de 2023. Esta “redução significativa” de reclamações sobre empréstimos da casa neste período, reflete “principalmente o fim da vigência das medidas adotadas para apoiar os mutuários no contexto da subida das taxas de juro”, explica o regulador liderado por Mário Centeno.
De acordo com o relatório sobre a “Evolução das Reclamações dos Clientes Bancários”, relativo ao primeiro semestre de 2024 e publicado esta quarta-feira (dia 30 de outubro), as matérias mais reclamadas no crédito habitação e hipotecário incidiram sobre:
- Reembolso antecipado (19,7%): com destaque para a impossibilidade de apresentação de pedido de reembolso através dos canais digitais, a demora no processamento do reembolso antecipado ou a execução do reembolso antecipado com recurso a PPR;
- Informação contratual e pré-contratual (15,5%): nestes casos as queixas centraram, por exemplo, na demora na análise de pedidos de concessão de crédito, nos constrangimentos na realização das escrituras e na prestação de informação sobre valores em dívida;
- Renegociação do contrato (13,2%): relacionadas com a demora no tratamento de pedidos de renegociação das condições contratuais ou a recusa de pedidos de redução do spread;
- Taxa de juro e juros remuneratórios (12,8%): em que se evidenciam reclamações relacionadas com a aplicação da medida de bonificação temporária de juros, o agravamento do spread ou a não aplicação da taxa de juro contratualizada;
- Requisitos/cláusulas/condições contratuais (11,3%): relacionadas, por exemplo, com a demora na libertação de tranches no âmbito de contratos de crédito para construção ou obras em imóvel.
Reclamações ao BdP descem 11% – mas há 25 contraordenações
As queixas sobre crédito habitação representaram 13% do total de reclamações recebidas pelo BdP no primeiro semestre deste ano. As que têm maior peso são mesmo as reclamações sobre depósitos bancários (33% do total) e sobre crédito aos consumidores (25%).
Enquanto as queixas sobre matérias de crédito aos consumidores diminuíram 19%, as reclamações sobre depósitos bancários aumentaram 12% neste período, “com destaque para as relacionadas com bloqueios de contas e de credenciais de acesso a contas através de canais digitais”, explica ainda em comunicado.
De qualquer forma o Banco de Portugal recebeu, em média, 1.993 reclamações por mês, o que representa uma redução de 11% relativamente à média mensal do ano de 2023. E encerrou um total de 12.334 reclamações no primeiro semestre. Na sua grande maioria (86%) não foram detetadas irregularidades, mas ainda assim “as instituições supervisionadas resolveram voluntariamente as situações que motivaram a reclamação em 42% dos casos”.
Portanto, o regulador português detetou insuficiências e irregularidades em 1.751 reclamações (14% do total), mais 14 pontos percentuais do que em 2023. “Esta subida resulta do novo modelo de tratamento de reclamações implementado pelo Banco de Portugal, que contabiliza as irregularidades assim que é concluída a análise da reclamação”, esclarecem ainda.
Na sequência da análise de reclamações, foi proposta a instauração de 25 processos de contraordenação, a 12 instituições. “O BdP também emitiu 4 determinações específicas, exigindo a 3 instituições que sanassem as insuficiências detetadas, e 13 advertências, endereçadas a 7 instituições com irregularidades de menor gravidade. Foram ainda emitidas 4 recomendações, a 4 instituições, tendo em vista a adoção de boas práticas na aplicação do quadro normativo em vigor”, concluem no documento.
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