
Os créditos habitação em Portugal deverão continuar a ficar mais baratos. Isto porque a Euribor tem um novo impulso para continuar a descer, depois de o Banco Central Europeu (BCE) ter voltado a cortar os juros diretores esta quinta-feira, dia 17 de abril. Agora, resta saber se os bancos vão continuar a melhorar as suas ofertas de crédito habitação como até aqui ou vão ajustar os spreads e os critérios de risco perante a atual incerteza no comércio global.
As taxas Euribor continuam a seguir a sua trajetória de descida nos últimos dias, com os prazos mais curtos (a 3 e a 6 meses) a registarem novos mínimos em mais de dois anos. Esta quinta-feira, dia 17 de abril, a Euribor a três meses caiu para 2,183% e a taxa a seis meses para 2,154%. Mas continuam acima da Euribor a 12 meses que se fixou a 2,104%.
“Esta descida acentuada surge na sequência das tarifas anunciadas por Donald Trump no 'Dia da libertação'(2 de abril) e das expectativas crescentes de uma nova descida das taxas do BCE em resposta a essas tarifas”, explicam os analistas da Ebury Portugal ao idealista/news. Ao que tudo indica, a Euribor terá novo impulso para descer, uma vez que o regulador europeu acabou mesmo por cortar os juros em 25 pontos base esta quinta-feira.
Estas recentes quedas das Euribor têm vindo a melhorar as ofertas de créditos habitação em Portugal nos últimos meses, multiplicando-se campanhas, sobretudo, a taxa mista (mais baratas e a curto prazo), que têm tido elevada adesão por parte das famílias (representam cerca de 70% dos novos contratos). E perante a elevada concorrência, os bancos também têm vindo a reduzir os spreads aos créditos da casa de risco médio, bem como a restritividade no nível de financiamento, segundo revelou o Banco de Portugal (BdP). Mas esta realidade poderá mudar.
Bancos podem subir spreads perante incerteza financeira
As ofertas de crédito habitação poderão tornar-se menos apetecíveis em Portugal e na Europa, com a nova incerteza no comércio mundial gerada pelas tarifas de Trump, que influencia os mercados financeiros e ameaça o crescimento económico.
O Conselho do BCE considera que “é provável que (…) a reação adversa e volátil do mercado às tensões comerciais conduza a um aumento da restritividade das condições de financiamento”, o que pode “afetar ainda mais as perspetivas económicas para a área do euro”, lê-se no comunicado.
Embora admita que a nova descida dos juros do BCE “seja uma boa notícia para os detentores de crédito habitação ou para aqueles que procuram um empréstimo para comprar casa no curto prazo”, Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal, alerta que “é preciso prestar muita atenção à reação dos bancos, uma vez que podem aumentar o preço de suas hipotecas [os spreads] e ajustar seus critérios de risco antecipando uma desaceleração económica”.
"A deterioração do sentimento do mercado financeiro pode levar a condições de financiamento mais restritivas, aumentar a aversão ao risco e tornar empresas e famílias menos dispostas a investir e consumir", Conselho do BCE
Os resultados do Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito do Banco de Portugal (BdP) revelam, no entanto, que os bancos residentes no nosso país esperam que, até junho, haja “critérios de concessão de crédito ligeiramente menos restritivos (…) no crédito a particulares”, onde os empréstimos habitação estão incluídos.
Portanto, tudo indica que se houver mudanças nas ofertas de crédito habitação, seja por via do aumento dos spreads seja por via do aumento da restritividade no financiamento, não deverão ser sentidas no curto prazo. De qualquer forma, será importante as famílias que pretendam comprar casa com recurso ao crédito habitação estarem atentas à evolução das condições de mercado e terem margem financeira para lidar com uma eventual subida do spread, por exemplo, que pode impactar a prestação da casa e o custo total do empréstimo.

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Euribor com pouca margem para descer – como ficam as prestações da casa?
A grande questão que se coloca agora é a margem de redução da Euribor até ao final de 2025. O novo corte dos juros do BCE decidido esta quinta-feira, “contribuirá para novas descidas da Euribor a 12 meses”, dizem desde a Ebury Portugal, que consideram “provável que a Euribor continue a cair nos próximos meses, impulsionada por mais dois cortes nas taxas do BCE”.
As novas descidas da Euribor deverão continuar a impulsionar a compra de casas em Portugal, bem como a procura por crédito habitação – sobretudo, se não se verificarem alterações significativas nas condições das ofertas por parte dos bancos. Aliás, os bancos já antecipam que a procura por empréstimos da casa vai continuar a aumentar, pelo menos, até junho, não só devido à baixa dos juros, mas também pela isenção do IMT e garantia pública destinada aos jovens.
Afinal, quem contratar um crédito habitação a taxa variável nos próximos meses deverá pagar prestações mais baixas do que se o tivesse feito antes. É isso que mostram as seguintes simulações preparadas pelo idealista/créditohabitação, tendo em conta empréstimos habitação a taxa variável de 150.000 euros (com spread de 0,7% e prazo de 30 anos):
- se a Euribor a 6 meses cair dos atuais 2,385% (média mensal de março) para 2,25% significa que as prestações mensais vão descer de 639 euros para 628 euros (menos 11 euros);
- se a Euribor a 6 meses descer para 2%, as prestações da casa serão de 608 euros, uma redução de 31 euros face a quem contratou o crédito em abril de 2025 (que usa a taxa média mensal de março).
Apesar de se antecipar que as taxas Euribor vão continuar a descer impulsionadas por novos cortes dos juros do BCE, há um consenso generalizado no mercado de que não deverão cair muito mais, estabilizando no final do ano em torno de 2%. Os analistas do Bankinter esperam que a Euribor a 12 meses fique em 2,1% no final deste ano e que possa mesmo retomar a trajetória ascendente em 2026 (quando terminará em 2,5%). Isto quer dizer que as prestações da casa dos créditos a taxa variável (ou mista em período variável) poderão voltar a aumentar no próximo ano.
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