Poupanças dos portugueses são das que caíram mais rápido nas economias avançadas, no último ano, segundo dados da OCDE
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Poupanças a cair
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A vida está mais cara desde 2022. A inflação começou a escalar e a pressionar o poder de compra. E os juros começaram a subir elevando as prestações da casa. Para fazer face ao aumento do custo de vida, muitos portugueses recorreram às suas poupanças acumuladas durante a pandemia. E, segundo os dados mais recentes da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE), as poupanças dos portugueses são das que caíram mais rápido entre 2022 e 2023 entre as economias avançadas. Já para o próximo ano, a OCDE estima que os portugueses voltem a reforçar as suas poupanças.

Durante a pandemia, as famílias que vivem nos países mais avançados conseguiram economizar dinheiro, especialmente por dois motivos, refere a OCDE no Economic Outlook de novembro:

  • houve várias e “substanciais” medidas governamentais para apoiar o rendimento das famílias na primeira fase da pandemia,
  • consumo foi limitado pelas restrições à mobilidade, bem como pelo encerramento de vários serviços.

Foi assim que as famílias conseguiram obter um “excesso de poupanças” desde 2020, ou seja, conseguiram acumular poupanças acima dos níveis registados antes da pandemia (2015 a 2019).

Mas, em 2022, as famílias foram confrontadas com uma inflação crescente, devido à rápida subida dos preços da energia e dos alimentos potenciada pela guerra na Ucrânia. E também com a subida dos custos do financiamento bancário. Até agora, a OCDE aponta que houve uma utilização deste excesso de poupanças em várias economias avançadas para sustentar o consumo e atenuar o alto custo de vida, como é o caso de Portugal.

Portanto, em várias economias, como Itália, Estados Unidos e Portugal, “as despesas das famílias também estão a ser sustentadas pela descida continua das taxas de poupança, com o excesso de poupança do primeiro ano da pandemia a ser reduzido ao longo dos últimos dois anos”, refere a OCDE.

Gastar poupanças
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Poupanças dos portugueses descem para 6,7% em 2023

Os dados do relatório indicam que a almofada financeira dos portugueses está a cair mais depressa do que a maioria dos países riscos analisados: no ano passado, as famílias portuguesas tinham um excesso de poupanças de 8% face ao seu rendimento disponível, um valor que caiu para 6,7% no segundo trimestre de 2023 (-1,3 pontos percentuais).

Portugal foi assim o terceiro país da OCDE – entre os 18 analisados – em que os residentes mais recorreram às poupanças para fazer face à inflação e à subida dos juros nos créditos habitação. Pior que o nosso país está só a Itália, com uma redução de 2,7 pontos percentuais (p.p.), e os EUA (com -1,9 p.p.).

Mas houve também famílias das economias avançadas que conseguiram reforçar as suas poupanças entre 2022 e 2023: foi o caso dos franceses (+2,8 p.p.) e dos dinamarqueses (+2,7p.p.). Na Zona Euro, o excesso de poupança média também aumentou: de 12,4% para 12,7% (+0,3 pontos percentuais).

Isto acontece num contexto em que as famílias precisaram de recorrer às suas economias, seja para manter o poder de compra que ficou pressionado com a alta inflação, seja para pagar os empréstimos habitação, que ficaram mais caros por via da subida das taxas de juro diretoras do Banco Central Europeu (BCE), e de outros bancos centrais, para tentar colocar um travão na inflação.

Mas se os portugueses continuarem a recorrer às suas poupanças para manter o nível de vida ou para pagar as contas e as prestações da casa, as suas economias vão cair ainda mais, o que poderá gerar graves problemas no futuro. “Se estas poupanças adicionais acumuladas forem esgotadas tornam-se numa importante fonte de incerteza”, alerta a OCDE. Mas há boas perspetivas para o futuro da Europa.

Como vão estar as poupanças das famílias em 2024 e 2025?

A OCDE também projetou, com base nas previsões da inflação, juros e custo de vida, as taxas de poupanças acumuladas para o horizonte de 2024 e 2025. E concluiu que o excesso de poupança deverá estar “significativamente acima da média de 2015-2019 no conjunto da área do euro, o que implica novos acréscimos ao stock de excesso de poupança”.

No caso da Zona Euro, estima-se que o nível de poupanças passe de 13,7% do período pré-pandémico, para 15,7% nos próximos dois anos (+2 p.p.). E também há boas previsões para Portugal, sendo considerado o 5.º país onde as almofadas financeiras mais vão crescer. No nosso país, o excesso de poupanças deverá subir de 6,9% para 9,1% entre estes dois períodos (+2,2%). As maiores subidas de poupanças acumuladas são estimadas para a França, Alemanha, Reino Unido e Finlândia.

Estes dados contrastam com a realidade prevista para os EUA, para a Suécia e para Itália, por exemplo, onde deverá haver uma descida continua nas poupanças acumuladas até 2025. Para a OCDE, estas projeções mostram que há uma maior poupança por precaução na maioria dos países europeus do que nos Estados Unidos.

Estas projeções são até alarmantes para a descida da inflação. “Os rácios de poupança mais baixos e gastos de consumo mais fortes, com a redução do excesso de poupança, pode implicar uma redução mais lenta do que o previsto das pressões inflacionistas, embora seja positivo para o crescimento económico”, avisa a OCDE.

E há mais: “se as medidas políticas de incentivo à procura na China forem mais bem-sucedidas do que o esperado, seria positivo para o crescimento global, mas implicaria uma maior pressão ascendente sobre os preços das matérias-primas e, portanto, uma desinflação mais lenta do que o projetado”, alerta ainda.

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