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Os números ainda estão por fechar, mas a expetativa de "todo o setor imobiliário é que 2016 volte a ser muito bom", segundo conta em entrevista ao idealista/news o secretário-geral da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII). Os resultados finais estão, porém, "muito dependentes da versão final que seja aprovada do Orçamento do Estado para 2017", aponta Hugo Santos Ferreira, fazendo alusão ao novo imposto adicional ao IMI e às alterações ao regime local.

A Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII) cumpre 25 anos. Que tipo de associados tem atualmente?

A APPII representa todos os investidores e promotores imobiliários em Portugal. Entre 20% e 30% dos nossos associados são internacionais, sejam eles fundos de investimento americanos ou ingleses, REET'S ou Socimis espanholas, mas também temos muito associados chineses e franceses, por exemplo.

Temos procura em todos os segmentos de mercado, mas o residencial tem sido a estrela da companhia.

Que tipo de produto procuram mais os investidores em Portugal?

Temos tido procura em todos os segmentos de mercado. O residencial tem sido a estrela da companhia, muito alavancado pelo investimento estrangeiro francês e também pelo regime golden visa, mas o segmento de escritórios voltou a ter bastante procura e neste momento há mesmo falta de oferta. O comercial tem sido também um dos grandes motores do setor, com investimentos anuais na ordem dos 2 mil milhões de euros anuais, sendo que 90% é garantido por estrangeiros.

Os investidores internacionais continuam a ser então o motor do imobiliário em Portugal?

Em 2015, o setor imobiliário mobilizou cerca de 15 mil milhões de euros, 10 mil milhões dos quais no segmento residencial, muito por força dos investidores estrangeiros, mas é de realçar que tem havido um certo contágio ao investidor nacional, sobretudo no residencial. Não existem números fechados para este ano, mas o que todo o setor imobiliário espera é que este ano volte a ser um ano com muito bons números. Como temos alertado várias vezes, a aprovação do Orçamento do Estado para 2017 (OE) vai ser um momento crítico para percebermos se vão ser atingidos números recordes como no ano passado.

Não existem números fechados para este ano, mas todo o setor espera é que 2016 volte a ser um ano muito bom.

Como é que os investidores estão a acolher as medidas anunciadas pelo Governo na proposta do OE2017?

A APPII tem recebido preocupações todos os dias, sobretudo dos nossos investidores estrangeiros, sobre o que se está a passar em Portugal, porque as notícias chegam muito rapidamente aos principais destinos de investimento mundial, como por exemplo Nova Iorque e Xangai.

Qual é o grande receio?

Tem só a ver com uma palavra, instabilidade. Tem sido feita uma série de anúncios relativa a medidas que vão afetar o imobiliário, como por exemplo o imposto adicional ao IMI, o congelamento das rendas ou o risco de uma excessiva regulamentação do alojamento local, que tem sido um dos motores do imobiliário e do turismo, das nossas cidades que estavam vazias e em ruínas, que agora estão reabilitadas e cheias de gente nos centros. Ainda não sabemos se todas estas medidas virão a ter aplicação prática, mas só estes anúncios estão a preocupar muito os investidores.

A APPII tem recebido preocupações todos os dias, sobretudo dos investidores estrangeiros, sobre as medidas do OE2017.

Estão contra as mudanças no alojamento local?

À partida não estamos contra uma nova regulamentação, se visar harmonizar fiscalmente o alojamento local com o arrendamento de longa duração e servir para corrigir alguns outros pontos, mas é preciso ter muito cuidado.

Estamos a falar de uma atividade da economia que tem influenciado bastante as cidades. O alojamento local, ao contrário do que se possa dizer, não afastou os habitantes das cidades, antes pelo contrário. Eu morei toda a vida em Lisboa e antes não conhecia a minha cidade e a Baixa. As nossas cidades estavam em ruínas e sem pessoas e o alojamento local conseguiu inverter essa situação. 

Qual é a vossa proposta?

Defendemos que regulamentar sim, se for para melhorar. Se isso significar o fim do alojamento local, somos absolutamente contra. Defendemos que se o Estado e as autarquias querem promover o arrendamento de longa duração então a solução não é castrar uma atividade tão dinâmica como o alojamento local, mas antes pelo contrário.

Defendemos a harmonização fiscal do alojamento local com o arrendamento de longa duração.

Ou seja, beneficiar com taxas urbanísticas, benefícios fiscais ou com simplificação administrativa aqueles promotores imobiliários que queiram seguir a vertente do arrendamento. Não é intervindo na livre decisão que os privados têm de ter nas suas atividades que se resolve este tipo de problemas. 

O alojamento local tem sido um bom negócio para os investidores estrangeiros?

Mais do que ter sido um rebuçado para os investidores internacionais tem sido um rebuçado para os próprios portugueses, que têm aproveitado esta dinâmica para, muitas vezes, aplicando as suas poupanças, investir num setor que tem sido rentável. Aliás, e não vemos mal nisso, o alojamento local surgiu como alternativa no pós-crise, quando os cidadãos portugueses e as empresas estavam descapitalizados e tínhamos muitos promotores imobiliários com um stock enorme, que não conseguia fazer escoar para o mercado residencial português e que viram no turismo e nos clientes estrangeiros uma alternativa.

Lisboa e outras cidades vivem momentos extraordinários hoje no turismo, mas não sabemos o dia de amanhã. É bom que seja permitido aos privados, que agora estão a colocar os seus imóveis no alojamento local que, de hoje para amanhã, seja possível voltarem ao arrendamento de longa duração, assim que os portugueses queiram entrar neste mercado.

Somos grandes defensores da reabilitação urbana, mas também defendemos que a construção nova não pode ser posta de parte.

Como avalia a aposta na reabilitação urbana?

Somos grandes defensores da reabilitação urbana e achamos que é uma janela de oportunidade que em Portugal soubemos encarar e temos convencido muitos investidores a dedicar-se a ela, mas também defendemos que a construção nova não pode ser posta de parte, porque vem ajudar aos bons números do imobiliário e também ao setor da construção, que infelizmente ainda não conseguiu espoletar. 

Ainda há muito por fazer na reabilitação. Relembro que ainda há menos de dois anos, um estudo da CPCI estimava serem necessários 38 mil milhões de euros para investir na recuperação das nossas cidades. Ora, esse valor ainda não foi atingido e portanto a reabilitação já é uma realidade, mas não é uma aposta ganha. Por isso temos alertado para o retrocesso que a lei das rendas pode trazer à reabilitação. A reabilitação urbana não vive sem o arrendamento e, portanto, é preciso muito cuidado quando se mexe nessas matérias.

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