Taxa de juro do BCE não deverá subir em 2022 e em 2024 será "zero", apontam os especialistas.
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Subida da taxa de juro na Europa
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Com a inflação a subir na Europa e no mundo, importa avaliar também a subida dos juros nos próximos anos. Uma coisa é certa: "Que [os juros] vão subir, vão, dado que estão em mínimos históricos”, disse Nuno Alves, diretor do Departamento de Estudos Económicos do Banco de Portugal (BdP). Mas considera que não será de esperar "um aumento rápido nem de grande magnitude" dos juros na Europa.

O aumento das taxas de juro nos Estados Unidos "provavelmente será mais próximo", "mas na Europa, dada a orientação que já está firme do BCE [Banco Central Europeu] relativamente à condução da política monetária nos próximos tempos, nos próximos trimestres, nos próximos anos, não será de esperar um aumento rápido nem de grande magnitude das taxas de juro do BCE nos próximos anos", disse Nuno Alves no Congresso dos Economistas, em Lisboa, que se decorreu na passada terça-feira, dia 23 de novembro de 2021.

A subida dos juros vai verificar-se, mas não para já. Segundo a presidente do BCE, Christine Lagarde, será "muito improvável" que estejam reunidas as condições para subir as taxas de juro em 2022. Isto porque não estarão reunidas as condições para que isso aconteça: “Apesar da atual subida da inflação, as perspetivas para a inflação no médio prazo permanecem moderadas, e, portanto, é muito improvável que essas três condições sejam satisfeitas no próximo ano", acrescentou Christine Lagarde no passado dia 3 de novembro, na sessão solene do 175.º aniversário do BdP.

Por outro lado, as previsões apontam que “em 2024 a taxa de juro do BCE vai estar à volta de zero. Zero. É uma coisa inimaginável, é um regime muito longo de taxas de juro muito baixas", frisou Nuno Alves.

Juros na Europa
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Juros vão aumentar, mas não mais do que 3 ou 4%

“A verdade é que as taxas de juro nunca aumentarão para níveis que nós nos habituámos nas últimas décadas", disse Nuno Alves, olhando para outras economias desenvolvidas além da área do euro. E explica porquê: "Há fatores estruturais que fazem com que as taxas de juro nominais, previsivelmente, nunca irão subir para lá de 3% ou 4%, quando nós estávamos habituados a taxas de juro dos bancos centrais de 6%, 7%, 8%", sustentou.

Segundo o responsável pela área dos Estudos Económicos no banco central, assim acontecerá porque "a taxa de juro real, da economia" decorre de fatores estruturais "como a desigualdade, a demografia, o crescimento da produtividade", que "estão muito baixos a nível global". Portanto, “o aumento será lento e não será para os níveis que estávamos a imaginar no passado", concluiu.

Mas há quem olhe para esta questão com preocupação: "A questão dos juros e da sua subida não é uma questão para amanhã, mas temos de estar prevenidos. A subida vai acontecer, os Estados Unidos estão a caminhar para isso e que serão seguidos pela Europa e os restantes países do mundo", disse Rui Leão Martinho, Bastonário do Ordem dos Economistas, citado pelo Jornal de Negócios. Um indicador a monotorizar de perto é a inflação já que é “um fenómeno muito rasteiro e silencioso mas que se vai insinuando com rapidez nas economias", disse ainda.

Evolução da taxa de juro
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Subida dos juro: motivo de preocupação global

O aumento da taxa de juro tem vindo a ser motivo de preocupação global no que diz respeito ao mercado imobiliário. A corrida ao crédito habitação instalou-se em vários países europeus – como é o caso de Portugal –, porque, em parte, as condições de acesso ao crédito têm vindo a ser mais apetecíveis, muito devido às baixas taxas de juro.

A verdade é que o nível de endividamento dos agregados aumentou de tal modo, que um ajuste nos juros pode levar ao incumprimento dos empréstimos bancários de muitas famílias e gerar um cenário de correção de preços das casas, tal como apontou a Comissão Europeia no seu relatório semestral. Sobre este ponto, o BdP diz que Portugal está protegido.

Note-se que o cenário de subida dos juros nos empréstimos para comprar casa poderá já estar a fazer-se sentir – em Portugal os juros do crédito habitação subiram pela primeira vez num ano, segundo os dados do INE.

Juros no crédito habitação
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*Com Lusa

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