Portugal continua na mira dos investidores, mas há um "sentimento um pouco esquizofrénico”, diz Eric Van Leuven, da C&W.
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Investir em imobiliário em Portugal
Foto de Samuel Jerónimo on Pexels

“É um ano muito estranho este que estamos a viver. A nós corre bem. É um sentimento um pouco esquizofrénico”. É desta forma que Eric van Leuven, diretor-geral da Cushman & Wakefield (C&W) em Portugal, inicia a apresentação da 39ª edição do Marketbeat Portugal. Segundo a consultora, 2022 pode ser um ano de recordes em termos de investimento em imobiliário comercial, com vários negócios em pipeline e em vias de “sair do papel” até final do ano, o que permite concluir que Portugal continua no radar dos investidores estrangeiros. Não há, no entanto, como fugir ao contexto atual, marcado por alta inflação, taxas de juro a subir e elevados custos de construção, por exemplo, pelo que se antevê que haja um travão no investimento em 2023.  

“É estranho este sentimento, parece que está tudo bem, e de facto há muita coisa a acontecer no mercado”, diz Eric Van Leuven ao idealista/news, à margem da apresentação do estudo, lembrando, no entanto, que são muitos os desafios e as incertezas. “Está tudo a correr bem, há atividade, dinamismo, negócios, interesse no país e nos produtos. É um interesse real, com grandes operações concretizadas nos últimos tempos, e outras ainda por fechar, portanto não diria que o mundo está em crise. Mas leio jornais e falo com clientes e colegas de outros países, onde o ambiente é muito negativo, pessimista. Esse ‘mindset’ que reina nesses países vai-nos afetar também, porque as decisões de investimento são tomadas lá”, acrescenta. 

Há um contrassenso? Sim…

Quando questionado sobre se não haverá uma espécie de contrassenso neste raciocínio, em que podem ser batidos recordes de investimento em imobiliário comercial no país num ano marcado por guerra na Europa, não hesita em responder que sim. Daí ser importante, também, ter os pés bem assentes no chão: “É verdade que parece haver um contrassenso, mas não podemos ter a ilusão de que vai continuar [este cenário tão positivo no futuro]. Isto não é um oásis”. 

A verdade é que Portugal continua a ser uma espécie de refúgio para os investidores imobiliários estrangeiros, quer institucionais quer consumidores a título individual, que mantêm o país no radar. “Portugal, neste momento, está a ter um posicionamento um pouco acima daquele que seria se calhar e na verdade o seu lugar natural. E isso é muito positivo, quer para o mercado residencial quer para o comercial”, comenta Eric Van Leuven, salientando que há no país “um ambiente muito ‘friendly’, muito convidativo, para o investidor”. 

Investimento em imobiliário comercial pode chegar aos 3.400 milhões

Os dados avançados pela C&W revelam que já foram investidos 1.656 milhões de euros em imobiliário comercial em Portugal, podendo o valor subir para cerca de 3.400 milhões até final do ano, o que significa que seria superado o valor obtido em 2019, antes da pandemia: cerca de 3.200 milhões de euros. 

Investimento em imobiliário comercial
Cushman & Wakefield

De referir que dos 1.656 milhões de euros já investidos, 74% é proveniente de investidores estrangeiros, sendo que um terço desse valor foi canalizado para o mercado de escritórios (37%). Seguem-se os segmentos de logística/Industrial (32%), hotelaria (15%), alternativo (13%) e retalho (3%).

Sobre o futuro, Eric van Leuven antecipa que “as yields vão subir e os preços descer”, prevendo-se que haja nos próximos trimestres, ou seja, já em 2023, algum “abrandamento da atividade”. 

Escritórios com o melhor ano de sempre

O ano de 2022 será de recordes no segmento de escritórios, o que mais está a contribuir para os bons resultados obtidos em termos de investimento imobiliário comercial em Portugal. 

Os números divulgados pela C&W confirmam que foram transacionados na Grande Lisboa 247.900 metros quadrados (m2) entre janeiro e setembro de 2022, tendo-se já superado o valor anual de 2021, bem como o ano de 2018, que até à data apresentava os números mais elevados. 

Arrendamento de escritórios em Lisboa
Cushman & Wakefield

“Acredito que o ano encerrará com uma absorção a rondar os 300.000 m2”, refere Carlos Oliveira, Diretor de Escritório da C&W, durante a apresentação do estudo. 

Igualmente ao rubro está o mercado de escritórios do Grande Porto, que registou entre janeiro e setembro um aumento expressivo da procura (+34%) quando comparando com o período homólogo, num volume de ocupação de 45.200 m2.

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