Caetano de Bragança, Head of Workplace Strategy & Sustainability da JLL Portugal, analisa as tendências para os próximos anos. Era da Covid-19 veio mudar tudo.
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Pós-Covid-19: “Escritório será um ponto de encontro para trabalho colaborativo e humano”
A nova sede da consultora JLL em Lisboa JLL

O teletrabalho voltou a estar na ordem do dia com o novo confinamento. É obrigatório para todas as funções compatíveis e desafia, mais uma vez, a capacidade de resposta das empresas à mudança. Este modelo de trabalho, que se tornou uma tendência com a pandemia, veio mudar todas as regras do jogo, mas não vai ditar o fim dos escritórios. Terão antes de adaptar-se a uma realidade mais experimental, flexível e aberta à mudança, na era do trabalho colaborativo e digital. A nova sede da JLL em Lisboa, por exemplo, já é “fillha” da metamorfose dos novos tempos, colocando o bem-estar dos colaboradores e a sustentabilidade no centro de tudo. Em entrevista ao idealista/news, Caetano de Bragança, Head of Workplace Strategy & Sustainability da JLL Portugal, fala do processo de transformação do espaço da sua casa-mãe, perspetivando e analisando as tendências do mercado para os próximos anos. Como será, afinal, o escritório do futuro?

Mais áreas sociais e colaborativas, um terraço panorâmico para todos, sustentabilidade nos materiais, nos consumos e na ocupação marcam as novas instalações da consultora, que procurou humanizar o escritório proporcionando uma boa experiência a todos os seus utilizadores. Este é o retrato do novo espaço da JLL. Do “antigamente” apenas ficou a morada, o emblemático edifício Heron Castilho, na Rua Braamcamp, em pleno coração de Lisboa. Tudo o resto mudou. Numa reestruturação total do espaço, o renovado escritório conta agora com 180 postos de trabalho (dos quais 110 são lugares tradicionais e 70 lugares para trabalho colaborativo), 8 salas de reunião, 6 zonas colaborativas, vários ‘phone’ e ‘train booths’, um auditório híbrido, o JLL Café e diversas áreas de lounge.

“Quisemos acima de tudo fazer um fato à nossa medida, focando-nos no bem-estar de quem vem ao escritório”, explica Caetano de Bragança. O responsável conta ainda que este modelo traz espaços de apoio para o centro da ação da empresa, como o refeitório ou o ponto de café. “O espaço informal de trabalho ganha destaque e nobreza para fomentar a colaboração”, indica, e acrescenta que a humanização do escritório esteve diretamente relacionada com a compressão do espaço físico, da qualidade da luz natural, temperatura, ar e acústica, para um maior conforto dos trabalhadores.

No piso 8 está a “fábrica”, a força da empresa, onde estarão as equipas em atividade e produção. Isto é, os postos de trabalho e as zonas colaborativas, com a grande novidade de não existirem lugares atribuídos. A mobilidade e flexibilidade trazidas pelo teletrabalho são o grande motivador desta opção, segundo a JLL, propondo-se que o escritório funcione, sobretudo, como um espaço de partilha, encontro e discussão entre as equipas, deixando o trabalho individual e de concentração para casa. E a partir desta ideia pode começar a desenhar-se o novo escritório do futuro, que “será um ponto de encontro para trabalho colaborativo”, nas palavras do Head of Workplace Strategy & Sustainability da empresa. Na entrevista que agora reproduzímos na íntegra, o responsável conta em que modelos se inspiraram para criar os escritórios da JLL, analisando também as tendências para os próximos tempos.

Pós-Covid-19: “Escritório será um ponto de encontro para trabalho colaborativo e humano”
Caetano de Bragança, Head of Workplace Strategy & Sustainability da JLL Portugal JLL

Decidiram renovar a sede da JLL antes da pandemia. De que forma este novo contexto influenciou a conceção do espaço? 

O conceito inicial pré-pandemia era bastante arrojado porque apostava na mobilidade total dos colaboradores com recurso a políticas de partilha de secretária (hot desk) e de secretária limpa (clean desk) já considerando que todos os colaboradores trabalhariam desde casa pelo menos um dia por semana. Comportava um risco alto visto que se tratava de um escritório celular e 100% em posto fixo. Com a pandemia confirmámos que poderíamos reduzir ainda mais o número de secretárias e privilegiar as zonas colaborativas e de experiência para o colaborador e visitante. Tentámos que o nosso escritório fosse ainda mais experimental, aberto à mudança, transparente, colaborativo e digital.

Quais foram as principais preocupações? 

Quisemos desenhar um escritório focado nas pessoas, potenciador da cultura JLL que queremos para o futuro, um espaço que retém e atrai talentos, que é pensado de forma sustentável, que tira o máximo partido de cada m2, que aproxima colaboradores, equipas e clientes. É um showroom para as novas formas de trabalhar, um laboratório de experiências que nos permitem testar na primeira pessoa as soluções que oferecemos aos nossos clientes.

Pós-Covid-19: “Escritório será um ponto de encontro para trabalho colaborativo e humano”
Novos escritórios da consultora JLL

Em que tendências/modelos de trabalho se inspiraram? 

Quisemos acima de tudo fazer um fato à nossa medida, focando-nos no bem-estar de quem vem ao escritório. A Workplace Strategy que foi desenvolvida internamente pela equipa JLL ouviu os colaboradores e desenhou um modelo de ocupação de espaço. Este modelo traz espaços de apoio para o centro da ação da empresa, como o refeitório ou o ponto de café. O espaço informal de trabalho ganha destaque e nobreza para fomentar a colaboração. Este modelo foi depois materializado pela equipa de arquitetura da Tétris.

É um espaço mais focado nas pessoas, com “mais áreas sociais e colaborativas”. Como é que humanizaram o escritório? 

Sim, olhamos às pessoas do ponto de vista individual, das equipas e da organização. A humanização do escritório esteve diretamente relacionada com a compressão do espaço físico, da qualidade da luz natural, temperatura, ar e acústica, na procura de proporcionar um conforto elevado a todos os colaboradores, pela construção de um programa que dá resposta a diferentes tipos de necessidade ao longo do dia, compreendendo a cultura e os hábitos de pessoas e equipas. Um exercício interessante foi perceber qual o espaço mais nobre do escritório, com melhor vista. Nesse espaço colocamos o nosso refeitório, um espaço central para a sociabilização! O refeitório encontrava-se antigamente numa zona escondida e agora está junto à entrada, à vista de quem nos visita.

Também é mais “amigo” do ambiente. Em que sentido(s)?

Em 3 momentos – na compra de tudo o que entra no escritório e na forma como chega, na sua utilização e no fim do seu ciclo na JLL. Estamos no caminho de ter uma pegada carbónica neutra e de obter certificações em sustentabilidade, nomeadamente a WELL. Isso exige que olhemos de forma sistémica para todas as ações que tomamos, que não só têm impacto no ambiente, mas também na saúde dos nossos colaboradores. No nosso caso específico tentamos reutilizar muitos móveis e equipamentos, utilizamos novos materiais de origem sustentável, reduzimos os consumos de energia e água, estamos a monitorizar o papel consumido, a reciclagem, os Kms da nossa frota, entre outros.

Pós-Covid-19: “Escritório será um ponto de encontro para trabalho colaborativo e humano”
Novos escritórios da consultora JLL

De que forma o novo espaço responde às novas exigências do mundo do trabalho? A realidade do teletrabalho veio mudar muita coisa... É um modelo replicável para a maioria dos vossos clientes? 

A realidade do teletrabalho é algo que mais tarde ou mais cedo iria acontecer. Contudo foi ultrapassada uma barreira cultural com a pandemia que acelerou esta transição para modelos híbridos de trabalho, em que passamos uma percentagem de tempo em casa e outra no escritório. O modelo da JLL não é replicável na maioria dos nossos clientes, porque todos são diferentes e a natureza do seu negócio, funções desempenhadas e cultura de empresa exigem um cuidado de análise. Há que olhar cuidadosamente às pessoas, aos espaços que têm disponíveis e às tecnologias que utilizam.

Como veem os escritórios do futuro? Que tendências irão marcar os próximos anos?

Os avanços tecnológicos recentes permitem a mobilidade para que trabalhemos em qualquer local, sem que o contacto presencial seja exigido. Isto muda as regras do jogo! No limite há quem até nos pergunte para que servem os escritórios se podemos fazer tudo on-line… Sabemos que o escritório é essencial para a criação de cultura de empresa, para a criatividade, para a colaboração. O contacto presencial será sempre o preferencial e o escritório do futuro será um ponto de encontro para trabalho sobretudo colaborativo. Os nossos clientes procuram-nos porque sabem que os espaços têm o poder de moldar comportamentos e que um bom escritório pode aumentar o desempenho do grupo e ajudar as organizações a serem melhores.

Pós-Covid-19: “Escritório será um ponto de encontro para trabalho colaborativo e humano”
Novos escritórios da consultora JLL
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