Baixas taxas de juro e outros estímulos impulsionaram o mercado, reavivando o debate sobre estabilidade financeira, segundo uma análise do Financial Times.
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Preços das casas disparam com a pandemia
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Ao contrário do que seria de esperar, a crise económica provocada pela pandemia da Covid-19 não prejudicou o mercado imobiliário. Os preços das casas mantiveram-se em alta e dispararam em quase todas as grandes economias do mundo, naquela que é a maior recuperação em mais de duas décadas. Este cenário, no entanto, reavivou as preocupações dos economistas sobre as potenciais ameaças à estabilidade financeira.

Dos 40 países avaliados pela OCDE, apenas três registaram quedas nos preços de casas em termos reais nos primeiros três meses deste ano, segundo uma análise do Financial Times (FT). As taxas de juro historicamente baixas, economias abaladas pelo confinamento e um desejo por mais espaço (também) por causa do teletrabalho têm alimentando esta tendência.

Preços das casas disparam com a pandemia
Financial Times (FT)

No curto prazo, o aumento do preço das casas pode ser “uma coisa positiva para a economia porque quem já tem casa sente-se mais rico e pode gastar mais com a valorização dos seus ativos”, diz Claudio Borio, responsável do Departamento Económico do Banco de Pagamentos Internacionais. No entanto, se persistir, pode transformar-se num ‘boom’ insustentável que pode dar origem “ao reverso” da medalha.

Por que é que os preços estão a subir?

As taxas de juro historicamente baixas ajudaram a impulsionar os preços das casas num ritmo extraordinariamente rápido durante um período de fraca atividade económica, segundo as declarações de Claudio Borio. E os baixos custos dos empréstimos também tornam a compra de uma casa mais acessível em relação ao arrendamento ou outros investimentos.

Além disso, muitas famílias, especialmente aquelas que já estavam em melhor situação, acumularam grandes poupanças desde o início da pandemia. “Grande parte dessa receita adicional foi destinada ao mercado imobiliário”, indica Enrique Martínez-García, senior research economist no Federal Reserve Bank of Dallas, citado pelo FT, num artigo com acesso pago.

Preços das casas disparam com a pandemia
Financial Times (FT)

Ao mesmo tempo, houve mais pessoas a mudar de casa, geralmente para propriedades maiores em locais mais calmos, sobretudo no pós-confinamento.

A situação foi “acentuada pela falta de oferta e pelo aumento dos preços de construção”, diz ainda Mathias Pleissner, economista da Scope Ratings.

Bolha imobiliária à vista?

Os preços médios das casas na OCDE estão a crescer a um ritmo mais rápido do que as rendas, tornando as casas cada vez menos acessíveis. Adam Slater, economista-chefe da Oxford Economics, nota que as casas nas economias avançadas estão cerca de 10% sobrevalorizadas em comparação com as tendências de longo prazo.

Este trata-se, por isso, de um dos maiores ‘booms’ desde 1900, embora menor do que o que antecedeu a crise financeira de 2008.

Preços das casas disparam com a pandemia
Financial Times (FT)

No entanto, o analista também observou outros fatores que contribuíram para a subida de peços das casas, nomeadamente os incentivos fiscais dados pelos governos.

O crescimento do crédito à habitação, por sua vez, foi impulsionado em grande parte por pessoas com estabilidade financeira e, na maioria dos países avançados, as famílias estavam menos endividadas do que antes da última crise, representando, por isso, um risco menor. Outro fator-chave, e bem diferente da situação de há quase 15 anos, reside no facto dos bancos centrais marcados pela crise imobiliária anterior estarem agora mais vigilantes.

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