Queda do preço das casas é antecipada em vários países europeus, como o Reino Unido e Espanha. Em 2024, preços vão retomar subida.
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Queda dos preços das casas em Portugal
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Em 2022, o mundo foi surpreendido pela subida das taxas de juro diretoras pelos principais bancos centrais na tentativa de baixar a inflação. E foi aqui que se iniciou o ciclo de subida dos juros nos créditos habitação. Este cenário está a arrefecer a procura de casas para comprar e já está a gerar uma queda dos preços das habitações em vários países, uma tendência que se vai acentuar já este ano. A agência S&P Global Ratings prevê que Portugal seja um dos países europeus que vai sentir a queda dos preços das casas mais intensa este ano (-4,4%), seguido do Reino Unido (-3,5%).

O cenário atual está a ter efeitos em todas as economias e mercados imobiliários, mas não da mesma forma. “O impacto de taxas de juros mais altas nos preços da habitação e no investimento também pode variar de país para país, refletindo as diferenças existentes nos mercados imobiliários da Europa, nomeadamente, na forma como são financiados”, começa por explicar a S&P no documento intitulado “European Housing Prices: A Sticky, Gradual Decline” publicado esta quarta-feira, dia 11 de janeiro.

Isto porque os países que têm maiores percentagens de créditos habitação de taxa variável vão sofrer mais os impactos da subida dos juros. “O ajuste dos preços das habitações será mais severo e mais rápido nos países onde a percentagem de empréstimos a taxas variáveis é elevada e onde a subida das taxas de juro é maior”, destaca ainda a agência de rating. É precisamente este cenário que deixa a Suécia e Portugal mais expostos a um rápido ajuste dos preços das casas do que os outros mercados analisados, concluem. Recorde-se que no nosso país cerca de 90% dos créditos habitação são de taxa variável e indexada à Euribor.

As previsões da S&P apontam para uma descida dos preços das casas este ano em 10 das 11 economias europeias analisadas. E é precisamente em Portugal onde a queda do valor das habitações será mais acentuada em 2023 (-4,4%). Logo a seguir aparece o Reino Unido onde os preços das casas para comprar deverão descer -3,5% no final deste ano. Também Espanha e os Países Baixos deverão sentir os preços nominais das habitações cair (ambos -2,5%). 

Na Suécia, os preços das casas já começaram a cair em 2022 (-4,3%), ao contrário das outras economias em análise, como é o caso de Portugal, onde as casas ficaram 6,8% mais caras no ano passado, prevê a agência S&P. Mas este ano a queda deverá ser amenizada neste país localizado a norte da Europa (-2,2%).

Em 2023, só mesmo na Suíça é que se prevê um abrandamento na subida dos preços das casas à venda (+0,5%), ao invés de uma queda.

As casas na Europa vão voltar a ficar mais caras em 2024?

Portanto, a S&P estima que os preços das casas vão sofrer uma correção na maior parte da Europa durante 2023. E em algumas economias europeias a queda do valor das casas vai continuar também em 2024, como é o caso da Alemanha (-1%), de Espanha (-1%) e da Bélgica (-0,5%). Já nos Países Baixos, os preços das casas não deverão subir nem descer em 2024.

Nos restantes países, a agência de rating estima que o preço das casas vai retomar as subidas, mas não de forma acentuada. Será na Suécia, onde as casas vão voltar a ficar mais caras em 2024 (+3,7%). Logo a seguir está o Reino Unido (+2,7%) e a Suíça (+1,4%). Em Portugal, os preços das casas à venda deverão subir apenas 0,5% no próximo ano, estimam ainda.

Há "pouca ou nenhuma perspetiva de uma recuperação forte [dos preços das casas] até 2025", disse Sylvain Broyer, economista-chefe para Europa, Oriente Médio e África (EMEA) da S&P Global Ratings, citado no documento. As previsões apontam que será na Irlanda onde os preços das casas vão voltar a subir de forma mais acentuada (+3,5%), seguida da Suécia (+3,3%) e do Reino Unido (+3,0%). Em Portugal, as casas à venda vão ficar apenas 2% mais caras em 2025, estimam.

"Observamos que o ajuste a taxas de juros mais altas pode durar até dez trimestres e geralmente é duas vezes mais pronunciado após um período de juros baixos", explicou Sylvain Broyer, embora historicamente os preços das casas na Europa são bastante inflexíveis no que toca a descidas.

De notar que enquanto em termos nominais as taxas de juro nos créditos habitação subiram rapidamente, atingindo o nível mais altos da última década, em termos reais (corrigidos pela inflação), os juros continuam negativos e devem permanecer assim até meados de 2024.

Preços das casas a cair
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Subida dos juros ainda não se reflete nos preços das casas em 2022

Na sua análise, a S&P sublinha que tanto os preços das casas como os dos investimentos poderão ser afetados pelo rápido aumento das taxas de juro nos créditos habitação, mas ressalva que nem todos os mercados residenciais ajustam os preços das casas ao mesmo tempo.

As taxas Euribor deram o salto na Europa ao longo de 2022. Mas a agência observa que os preços das casas mal se ajustaram às taxas de juros mais altas. Porquê? A escassez de oferta para a alta procura de casas existente nos mercados poderá estar por detrás deste facto. Até porque as famílias continuam a comprar casa em vários países (como Portugal) mesmo com as taxas de juros mais elevadas.

Foi por isso mesmo que os preços das casas continuaram a subir nos países analisados em 2022. Em concreto, a S&P diz que as casas continuaram a ficar mais caras a uma média de 10% até ao primeiro semestre de 2022.

Há ainda fatores que sustentam a continuação da procura de casas para comprar na Europa:

  • melhor situação financeira das famílias suportada pelos altos níveis emprego;
  • aumentos salariais;
  • poupanças acumuladas durante a pandemia.

Desta forma, a agência destaca que o poder de compra das famílias poderá recuperar já no início de 2024, por via dos aumentos dos salários. Por outro lado, indica ainda que o fluxo de refugiados vindos da Ucrânia também está a aumentar a procura de casas.

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