
O mercado residencial de luxo dos Emirados Árabes Unidos tornou-se o novo local de peregrinação dos mais ricos do mundo. No Dubai, o segmento de habitação premium associado a marcas de luxo como Four Seasons, Bulgari ou Cavalli disparou no ano passado. A venda de um apartamento com a assinatura Baccarat foi recentemente fechada por 203,1 milhões de dirhams, cerca de 50,8 milhões de euros. Um novo recorde.
As vendas deste tipo de imóveis estão em alta no Dubai, que se tornou a capital mundial das chamadas “Branded Residences” (residências de marca), estando os investidores estrangeiros interessados em comprar estas casas ultraluxuosas.
Um comprador desconhecido fechou um negócio para um apartamento de cinco quartos da famosa marca francesa de produtos de cristal de alta qualidade Baccarat que ainda não foi construído. Uma transação avaliada em cerca de 37.700 euros por metro quadrado (m2), o valor mais elevado por m2 pago por uma casa em planta no Dubai, segundo a Luxhabitat Sotheby's International Realty.
E fica assim batido um recorde estabelecido há poucos meses, em fevereiro, quando um (também) T5 foi vendido por 160,3 milhões de dirhams, cerca de 40 milhões de euros, o equivalente a 37 mil euros por m2, no Farol Bulgari, segundo os registos oficiais. A torre Bulgari será construída numa ilha artificial em forma de cavalo-marinho perto do hotel e resort da famosa marca de joias.
Números escandalosos para o mercado de luxo
Os imóveis de classe premium dispararam no Dubai à medida que os ricos ficaram mais ricos durante a pandemia e os milionários russos procuraram um refúgio para o seu dinheiro após a invasão da Ucrânia. O preço dos imóveis de luxo cresceu 89% no final do ano passado em relação ao ano anterior, uma rápida recuperação após um período de quedas entre 2014 e 2020.
O mercado subiu tão rápido que apanhou muitas pessoas desprevenidas, sendo que imóveis no projeto Four Seasons Residences, também no Dubai, foram vendidos por cerca de 40 milhões de dirhams (10 milhões de euros) em 2021 e agora valem qualquer coisa como 100 milhões de dirhams (mais de 25 milhões de euros).
Segundo a Knight Frank, o valor deste tipo de ativos ("Branded Residences") no Dubai atingiu um recorde de 25.300 milhões de dirhams em 2022 (mais de 6.300 milhões de euros).
Quais os segredos das “Branded Residences”?
Os promotores imobiliários gostam de fazer parcerias com marcas de luxo, porque podem vender casas por valores 30% mais caros que uma propriedade sem marca, dependendo da região, de acordo com a Bloomberg. Normalmente, essa marca de luxo recebe uma comissão sobre cada venda e uma taxa anual fixa.
Os compradores, além de poderem ser fãs da marca em causa, desfrutam de um maior nível de comodidades, que muitas vezes superam as novas promoções sem marca. E têm também a segurança de estar em causa um nome em que podem confiar - especialmente importante para vendas em planta ou para os investidores que compram desde o estrangeiro. Os apartamentos também costumam vir totalmente mobiliados.

Dubai ultrapassou recentemente o sul da Flórida (EUA) para se tornar o local com mais projetos de “Branded Residences” do mundo. Existem agora quase 50 projetos relacionados com marcas de luxo no Dubai, havendo muitos mais anunciados e programados para serem construídos a partir de 2030, de acordo com um relatório da Savills.
A área conhecida como Dubai Creek está a emergir como um ponto de acesso para estes projetos, como o complexo de apartamentos e moradias Four Seasons de 28 unidades entregue aos moradores há algumas semanas. Consta que um dos proprietários é o tenista suíço Roger Federer.
Os residentes podem utilizar as instalações do resort Four Seasons. Conta com cerca de 40 funcionários que prestam serviços de limpeza, segurança e portaria, entre outros como catering e organização de eventos. As Residências Baccarat estão mais perto do centro do Dubai, mas de acordo com a Luxhabitat Sotheby's International Realty, os compradores de imóveis já compraram metade dos 49 apartamentos disponíveis.
“As pessoas que vêm do exterior, principalmente da Europa, procuram qualidade, privacidade e serviços”, acrescenta George Azar, diretor executivo da Luxhabitat Sotheby's. “Não posso dizer quem são, mas você pode imaginar, desde chefes de Estado aos melhores pilotos de Fórmula 1”.

“Estas propriedades não surgem sem riscos. O nome da marca poderia ser removido, por exemplo, mas isso é raro”, acrescenta Scott Antel, fundador da Scotts FZ, um escritório de advogados especialista em assuntos relacionados com hotéis boutique. “Existem várias razões pelas quais isso pode acontecer: uma comunidade de proprietários pode decidir que as taxas de administração/gestão são muito caras. O edifício não ser mantido com qualidade suficiente ou o hotel anexo à parte residencial ser vendido. Ou, dependendo do contrato, a marca associada inicialmente ser alterada antes da entrega dos apartamentos”, acrescenta o especialista imobiliário.
Um exemplo pode ser o que aconteceu em 2016 em Nova York (EUA), quando os moradores de um prédio no Upper West Side votaram para retirar o nome de Trump do imóvel.
Nenhum destes riscos parece estar a dissuadir os investidores, que estão a comprar e já a revender algumas casas à medida que surgem novos projetos. Há unidades na residência Four Seasons que já foram revendidas.
Para poder comentar deves entrar na tua conta