Grupo espanhol Inditex é o inquilino do Quarteirão do Rossio, em Lisboa. Obras de reabilitação concluídas em setembro de 2023.
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Quarteirão do Rossio está a ser reabilitado e terá uma grande loja da Zara
Vista aérea, em imagem 3D, do Quarteirão do Rossio, a partir da Praça D.Pedro IV Contacto Atlântico

As obras do emblemático Quarteirão do Rossio, no coração de Lisboa, estão a decorrer a bom ritmo. São sete edifícios, num total de cerca de 10.000 metros quadrados (m2), que estão a ganhar nova vida, devolvendo à Baixa Pombalina um conjunto de imóveis com mais de 200 anos de história. O Quarteirão do Rossio, onde durante anos funcionou, por exemplo, a pastelaria Suíça, abrirá renovado em setembro de 2023, e terá como principal inquilino o grupo espanhol Inditex, sendo ali que vai nascer uma das maiores lojas da Zara do mundo, senão a maior.

Os detalhes sobre a obra e sobre o novo lojista que irá ocupar o espaço foram revelados esta terça-feira (27 de setembro de 2022) durante uma visita ao espaço, na qual o idealista/news participou –numa iniciativa organizada pela Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII) e pelo atelier Contacto Atlântico, responsável pelo projeto de renovação/reabilitação do Quarteirão do Rossio. E é, de facto, impressionante constatar que se trata de uma empreitada com uma magnitude enorme, até porque estamos perante um edificado repleto de história. 

É por entre os normais ruídos de uma obra em andamento, ao som de martelos e máquinas de construção, e de conversas entre trabalhadores, que André Caiado, fundador da Contacto Atlântico, revela ao idealista/news alguns dos pormenores da empreitada. Isto depois de ter feito uma visita guiada ao espaço, que contemplou a cobertura, que será toda reabilitada. 

"O preço de aquisição do edifício foi tão elevado que não se previa que fosse qualquer outro uso que não retalho. É o mercado que dita o uso que se dá aos edifícios"
André Caiado, fundador do atelier Contacto Atlântico

“É um quarteirão que faz parte da Baixa Pombalina e da zona de proteção da Praça do Rossio. Por estar entre duas praças é um dos quarteirões mais apetecíveis pelos investidores. É sem dúvida um dos quarteirões mais icónicos de Portugal, até pela sua localização”. 

Salientando que o quarteirão se encontra num local prime que despertou muito interesse por parte dos investidores, André Caiado considera que o ativo podia ter tido outros destinos, como por exemplo um hotel, escritórios ou até habitação, mas frisa que “o preço de aquisição do edifício foi tão elevado que não se previa que fosse qualquer outro uso que não retalho”. “É o mercado que dita o uso que se dá aos edifícios”, afirma.  

Quarteirão do Rossio antes de ser intervencionado
Assim se encontrava o Quarteirão do Rossio antes de ser reabilitado Contacto Atlântico

Obras no Quarteirão do Rossio rondarão, ao todo, 25 milhões de euros

O prazo previsto para a conclusão das obras é setembro de 2023, sendo que o arrendatário, a Inditex, irá fazer algumas alterações ao projeto inicial, algo que é normal em projetos imobiliários de retalho, conforme explica Alexandre Almeida, que representa a JCKL – comprou o quarteirão em 2018 por um valor superior a 60 milhões de euros – e a empresa BYVISION, que está a gerir o projeto e a construção diretamente para o investidor.

“O investidor veio conhecer pela primeira vez o edifício há três semanas. Ele não tinha a noção da dimensão do projeto, ficou muito agradado. Este é o único imóvel que a JCKL tem em Portugal”, adianta, explicando que a equipa de gestão do investidor está sediada no Reino Unido e que o investidor é de nacionalidade austríaca, mas está sediado nos EUA. “Nós, a BYVISION, fomos contratados pelo investidor, mas reportamos à equipa que está sediada no Reino Unido”, aponta. 

Alexandre Almeida diz, sem total certeza, que a futura loja da Zara no Quarteirão do Rossio deverá ser a segunda maior da Península Ibérica, mas muito equivalente à de Madrid (Espanha), que é atualmente a maior do mundo: “Esta terá, no entanto, um conceito novo para a Zara, um standard mais elevado. Vai ser uma loja para o segmento mais alto, será algo mais distinto em termos de personalização”. Será ainda um inquilino praticamente exclusivo, visto que apenas se manterá no piso térreo a loja Pérola do Rossio.

"O investidor veio conhecer pela primeira vez o edifício há três semanas. Ele não tinha a noção da dimensão do projeto, ficou muito agradado. Este é o único imóvel que a JCKL tem em Portugal"
Alexandre Almeida, representa a JCKL e a empresa BYVISION

De acordo com o responsável, o proprietário do Quarteirão do Rossio irá desembolsar cerca de 17, 18 milhões de euros na realização das obras, um valor ao qual vão acrescer outros seis, sete milhões de euros que estarão a cargo do arrendatário. Ao todo, prevê-se que o valor total da empreitada ronde os 25 milhões de euros. “Toda a parte de escadas rolantes, instalações técnicas, climatização, energia, iluminação, ventilação e as casas de banho, por exemplo, é por conta do lojista”.  

Certo é que, até setembro de 2023, haverá algumas alterações a fazer por parte do novo inquilino. “Já sabemos que vai haver. Não podemos por em causa a data de setembro de 2023, a menos que isso seja imperativo para o lojista, mas como envolve o pagamento de rendas e custos adicionais também há todo o interesse que a loja abra o mais cedo possível”, conclui. 

Reabilitação do Quarteirão do Rossio
Imagem do interior de um dos edifícios do Quarteirão do Rossio antes das obras Contacto Atlântico

Obras em edifícios pombalinos? “Foi um pouco navegação à vista”

As obras estão a cargo do consórcio constituído pelas empresas Alves Ribeiro e HCI. Também presente na visita ao Quarteirão do Rossio esteve Miguel Morais Sarmento, da Alves Ribeiro, que revela que os trabalhos envolvem atualmente cerca de 100 pessoas: “Agora são mais, porque estamos com trabalhadores em todas as partes edifício, havendo várias especialidades e subespecialidades a decorrer ao mesmo tempo”. 

O engenheiro civil revela que uma das “principais dificuldades no processo construtivo foi conseguir recuperar e aproveitar ao máximo a estrutura antiga”. “O processo previa a substituição de algumas vigas de madeira antigas por outras, o mínimo possível, e alguns pilares metálicos e vigas metálicas antigas também foram substituídas, foi um pouco navegação à vista. Isso foi uma dificuldade. Especialmente interessante é o trabalho de recuperação do R/C: as lojas tinham adulterado, sobretudo, os vãos de fachada, que vão ser todos repostos com a métrica pombalina, tudo em cantarias maciças. É complicado de fazer, mas fico contente por ver este edifício estar a ser recuperado”, explica ao idealista/news. 

Renovado Quarteirão do Rossio estará pronto em 2023
Quarteirão do Rossio esteve abandonado durante vários anos e vai agora ter uma "segunda vida" Contacto Atlântico

“É notável como o imobiliário pode estar a trabalhar para as cidades”

Para Hugo Santos Ferreira, presidente da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII), é de destacar o facto de se estar a recuperar património, sendo esta “uma obra de reabilitação muito complexa”. 

“É notável como o imobiliário pode estar a trabalhar para as cidades. A Praça do Rossio estava, há uns anos, em ruínas, desabitada, perigosa, envelhecida. Esteve ao abandono durante anos. Vai ser muito positivo, quando concluída a obra e quando retirados os tapumes, ver o setor imobiliário a devolver um dos principais edifícios da cidade à cidade”, acrescenta. 

"Vai ser muito positivo, quando concluída a obra e quando retirados os tapumes, ver o setor imobiliário a devolver um dos principais edifícios da cidade à cidade"
Hugo Santos Ferreira, presidente da APPII

O líder da APPII sublinha que se trata de uma obra com “complexidades enormes”, até porque está em causa “um edifício com muita construção pombalina”, mas enaltece a importância de não se ter desistido do projeto e da obra estar concluída em tempo. “Amanhã [no futuro] poderemos apreciar um dos edifícios mais bonitos da cidade de Lisboa”, conclui. 

Igualmente positivo é o facto de o prazo de licenciamento ter sido reduzido comparativamente com outros projetos na capital: apenas 14 meses. Um detalhe que não passou ao lado dos participantes na visita guiada promovida pela APPII, a oitava desde que a iniciativa foi criada.  

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