Filipe Lourenço, CEO da Private Luxury Real Estate, especializada em casas de luxo, diz que "apetite por Portugal" veio para ficar.
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Investidores continuam a comprar casas de luxo em Portugal
Filipe Lourenço, CEO da PLRE | Um dos imóveis comercializados pela empresa Crédito: PLRE

O mercado residencial de luxo nacional continua a ser muito atrativo para os investidores estrangeiros, que teimam em considerar que Portugal é um “refúgio seguro”, mesmo em tempos de incerteza como os que se vivem, marcados por alta taxa de inflação, perda de poder de compra, taxas de juro a subir e custos de construção a disparar, entre outros fatores. Isso mesmo garante Filipe Lourenço, CEO da Private Luxury Real Estate (PLRE), ao idealista/news, numa conversa realizada no escritório da empresa na Avenida da Liberdade, em Lisboa. Por ali chegam a entrar, sem marcação, três clientes por dia, em média. “Sentimos cada vez mais o interesse por comprar mercado de luxo em Portugal”, conta. 

“Temos um cliente, que anda de helicóptero de prédio em prédio em São Paulo (Brasil), que a primeira coisa que me disse [após comprar casa em Portugal] foi: 'Finalmente livrei-me do helicóptero, posso andar a pé na Avenida da Liberdade'". Filipe Lourenço adianta que a segurança é apenas uma das características positivas de Portugal e revela que 75% dos clientes da PLRE são estrangeiros, sendo que desses 35% são de nacionalidade francesa.

Muitos investiram na compra de um imóvel há dez anos, beneficiando do Estatuto de Residente Não Habitual (ERNH), e estão agora a abandonar o país, o que significa que muitas destas casas “estão a entrar no mercado”. “Fidelizamos muito a relação que temos com as pessoas/clientes. Ou seja, eles compraram connosco há dez anos e agora estão a contactar-nos de novo para nós colocarmos essas casas no mercado”, conta. 

A PLRE é especializada na comercialização de imóveis de luxo nas zonas mais premium de Portugal e tem atualmente seis escritórios no país, tendo o último sido inaugurado este ano em Cascais. Acabado de abrir, já concretizou diversos negócios de referência na região, com destaque para a maior transação imobiliária habitacional realizada este ano no distrito de Lisboa: uma moradia com 3.500 metros quadrados (m2) localizada num exclusivo condomínio de luxo. O valor da transação e o nome do comprador permanecem em segredo.

Compra e venda de casas de luxo em Lisboa
Imagem de um apartamento (T9) de luxo no coração de Lisboa PLRE

O imobiliário de luxo tem dado sinais de resiliência, quer na pandemia quer, agora, em tempos de inflação alta. Que balanço de atividade do ano faz a PLRE?

Uma das nossas máximas, além do perfeccionismo, é o sigilo e a discrição, mas posso dizer que no terceiro trimestre deste ano o número de transações e o número de faturação duplicou em relação ao mesmo período do ano passado. E nos dois trimestres anteriores também já se tinha verificado uma subida. 

Temos tido como estratégia sólida a contínua aposta em pessoas, colaboradores, com perfil adequado para trabalhar este tipo de mercado, e temos tido a sorte de as encontrar e de elas também nos ajudarem. Costumo dizer que a sorte dá muito trabalho, e é verdade, mas esse trabalho foi feito e conseguimos ter pessoas chave. E a aposta na formação também nos ajudou. 

Num período marcado por incertezas a vários níveis, o segmento residencial de luxo continua a dar uma boa resposta?

Até há uns seis, sete anos, não sei precisar ao certo, mas foi quando houve o boom do descobrimento de Portugal, este era um segmento um pouco desconhecido. Mas a nível mundial já existia, não era é apetecível em Portugal. Quando houve essa descoberta pelo bom que se faz em Portugal, e os nossos bons construtores e arquitetos já eram conhecidos lá fora, o público em geral, dos EUA, Brasil, Dubai, Europa etc., começou a olhar para Portugal e a querer comprar casa e viver no país. Isso, face ao poder económico português, alavancou-nos e dinamizou o mercado. Não tínhamos essa captação de investimento estrangeiro, que veio para ficar.

Independentemente da conjuntura atual, neste segmento em concreto, à partida, continuará a haver interesse estrangeiro pelo imobiliário de luxo em Portugal?

Não somos uma coisa que apareceu e desapareceu, nós estamos cá. Portugal já era conhecido. Esse conhecimento fica, e o apetite por Portugal e a descoberta do país ficam, as pessoas querem viver em Portugal. Temos vários clientes, por exemplo do Brasil e do Norte da Europa, que olham para Portugal como um refúgio seguro. Temos um cliente, que anda de helicóptero de prédio em prédio em São Paulo (Brasil), que a primeira coisa que me disse foi: “Finalmente livrei-me do helicóptero, posso andar a pé na Avenida da Liberdade”. Sentimos cada vez mais o interesse por comprar mercado de luxo em Portugal.

"Temos um cliente, que anda de helicóptero de prédio em prédio em São Paulo (Brasil), que a primeira coisa que me disse foi: “Finalmente livrei-me do helicóptero, posso andar a pé na Avenida da Liberdade”. Sentimos cada vez mais o interesse por comprar mercado de luxo em Portugal"

Tem-se falado muito nos últimos tempos do aumento do interesse dos investidores norte-americanos por Portugal. Também sentem isso na PLRE? 

Sim. Nós já trabalhávamos com americanos, não tanto em Lisboa, mas agora o número de potenciais clientes a querer vir para cá aumentou, nomeadamente para a zona de Cascais e para a Comporta, que está a crescer bastante. Costumo dizer que é o nosso Saint-Tropez.

Qual é o peso/percentagem, em termos de nacionalidades, dos clientes que compram casa em Portugal através da PLRE?

Em termos gerais, trabalhamos com 75% de estrangeiros, ainda assim há uma boa franja do mercado nacional que tem essa capacidade monetária.

Têm, então, 25% de clientes portugueses. O número aumentou ou diminuiu face aos últimos anos?

Aumentou um pouco na pandemia, mas depois, quando houve a abertura do país, das companhias aéreas, o peso do mercado estrangeiro aumentou outra vez, porque era acessível vir para Portugal.

Relativamente às nacionalidades dos clientes, trabalhamos muito com a comunidade francesa. Ainda assim, aqueles que tiveram os benefícios fiscais, através do Estatuto de Residente Não Habitual (ERNH), já estão a acabar, já estão a chegar ao limite dos dez anos, já estão a vender as casas e olhar para outros países.

Notam isso, que os franceses investiram, beneficiaram do ERNH e agora estão a sair de Portugal?

Sim, estão a regressar, mas não a França. Vão para outros países que lhes dão condições fiscais idênticas ou similares às que tinham aqui. 

Ou seja, muitas dessas casas vão chegar agora ao mercado?

Já estão a entrar no mercado. Temos um conceito natural de mercado em que fidelizamos muito a relação que temos com as pessoas/clientes. Ou seja, eles compraram connosco há dez anos e agora estão a contactar-nos de novo para nós colocarmos essas casas no mercado.

Também trabalhamos muito bem com o Médio Oriente, o Dubai, o Qatar. E EUA cada vez mais. Por percentagem, diria que 35% dos nossos clientes são franceses, e depois dividimos mais ou menos o valor restante pelas outras nacionalidade, sendo que os americanos começam a ter muita expressão em zonas específicas, como Comporta e Cascais. 

Casas de luxo à venda em Cascais
Villa Koko foi construída em 2017 e está localizada em Troia PLRE

Este interesse está relacionado também com os vistos gold, sendo que há agora uma limitação à atribuição de vistos nos centros das cidades?

É paralelo. Não é como alguns povos, que compram uma casa para ter um Golden Visa. É mais um pensamento do género: “Vou comprar uma propriedade porque quero comprar e quero mudar-me para lá, mas já que há a hipótese de ter Golden Visa é bom”. São dois conceitos diferentes. O cliente americano quer comprar uma casa na Quinta da Marinha, quer ir para lá viver, quer instalar a família e quer ficar em Portugal. E tem acesso ao Golden Visa. Enquanto noutros casos seria mais uma porta aberta para a Europa. 

Agora, com a limitação aos Golden Visa, estamos a tirar um pouco o tapete debaixo dos pés. Tínhamos feito o contrário há dez anos, em que incentivávamos ao investimento, e agora é: “Já não precisamos”. Não gosto de ser assim tão agressivo, mas se calhar é assim que as pessoas se sentem. Se isto for para a frente [fim dos vistos gold], estamos a perder face a alguns países que estão a gerar boas condições. O Golden Visa não vou dizer que colocou Portugal no mapa, mas ajudou, e muito. 

Que tipo de casas de luxo procuram as pessoas que querem investir e viver em Portugal? 

Falando no mercado imobiliário de luxo em geral, a procura mantém-se mais por penthouses e por grandes apartamentos, mas com uma vertente nova que é engraçada, que são as town houses verticais, que são prédios convertidos em moradias. Em vez de terem só um apartamento ou de viverem num bloco de apartamentos com vários vizinhos, há uma procura, principalmente nesta fase, por brasileiros que querem comprar um prédio inteiro. Estamos a falar de uma franja bastante grande do mercado. Pessoas que compram um prédio inteiro onde fazem a sua townhouse. Ou seja, um antigo prédio, de três, quatro andares, que é reabilitado e transformado apenas num único imóvel, numa moradia. Isso agora apareceu, não era usual. 

"A procura mantém-se mais por penthouses e por grandes apartamentos, mas com uma vertente nova que é engraçada, que são as town houses verticais, que são prédios convertidos em moradias. (...) Ou seja, um antigo prédio, de três, quatro andares, que é reabilitado e transformado apenas num único imóvel, numa moradia"

E há imóveis à venda em Lisboa que permitem fazer esta transformação?

Poucos, mas há alguns prédios para venda e eles não se importam de fazer as obras e de personalizar a seu gosto. Fora de Lisboa, na zona de Cascais, por exemplo, mantem-se a procura por moradias, por condomínios de luxo, como a Quinta da Marinha e a Quinta do Patino, sendo que a vida de aldeia do centro de Cascais também é procurada por propriedades que tenham vista mar. Continuamos com essa procura.

E o interesse pelo Alentejo, que ganhou força com a pandemia, mantém-se? 

Sim, pelo Alentejo puro, o deep Alentejo. É um público diferente. São sofisticados de uma forma rural. Para eles, o luxo é o conforto de estarem tranquilos numa propriedade com x hectares. Observámos isso no mercado e abrimos um escritório em Serpa. Temos tido muitos portugueses a procurar propriedades, não tanto americanos, e também muitos franceses e pessoas do norte da Europa. Neste momento, estamos com 48 vendas só no Alentejo. Estamos a falar de herdades, quintas. Temos propriedades mais pequenas, de 30 ou 40 hectares, e temos outras de 1.000 hectares, mas aí já com uma perspetiva de produção de cortiça, de pinha etc. 

Esta foi uma tendência que aumentou com a pandemia...

Sim. O interesse começou mais ou menos um ano antes da pandemia, mas depois intensificou-se com este novo conceito de vida, em que as pessoas começaram a perceber que conseguem estar a trabalhar ao mesmo tempo que estão numa casa rural, com passarinhos etc., e ter, assim, um conceito muito 'green' de vida. 

O interesse pela região do Douro também está a aumentar?

Sim, há grande procura por propriedades vinícolas por parte de americanos e brasileiros. Não temos escritório no Douro, mas já temos propriedades na região. No caso dos americanos, notamos que há interesse nomeadamente por pessoas da Califórnia, porque fazem produção de vinho. E procuram sobretudo propriedades que tenham classificação A na produção do vinho do Porto. Estamos a falar em propriedades que, em média e num ano bom, são capazes de produzir 90 pipas de vinho do Porto, sendo que cada pipa leva 550 litros.

A PLRE foi responsável pela maior transação imobiliária habitacional realizada este ano no distrito de Lisboa. Que imóvel é este?

É uma moradia muito grande em Cascais, num dos mais exclusivos condomínios de luxo da região: tem 3.500 metros quadrados (m2) de construção num lote de 7.000 m2. O valor de venda não posso revelar, nem o nome do comprador. 

Compra e venda de casas de luxo em Portugal
Empreendimento Brazil Residences, em Cascais PLRE

O fenómeno de haver celebridades a querer investir em imobiliário em Portugal continua a existir? Sentem isso, ou pelo menos a existência de manifestações de interesse? 

Sentimos, mas não de celebridades muito sonantes. O que estamos a sentir é que há interesse por celebridades com menos efeito mediático. Temos tido, por exemplo, vários atores brasileiros, ainda há pouco tempo tivemos contacto com a Cláudia Raia, pivôs da Globo, que procuram imóveis na Comporta. Mas temos também celebridades do mundo dos negócios, vou chamar-lhes assim. Não são atores ou futebolistas, não têm o mediatismo de outras personalidades, mas lidamos com pessoas que estão classificadas na Forbes, por exemplo. Ou de pessoas que têm grandes empresas de produção e exportação vinícola a nível mundial. 

O mediatismo de haver celebridades a investir em Portugal como a Madonna ou o George Clooney, por exemplo, ajudou a que houvesse depois outras pessoas influentes também a apostar no país. 

Ter e/ou manter uma boa rede de contactos com clientes é um dos segredos do negócio no segmento do imobiliário de luxo?  

Sim. Em Portugal conseguimos isso, ter esse conceito [de proximidade com o cliente]. Começamos a fazer parte desde o primeiro momento e depois, com a relação que ganhamos, fazemos parte da família. Não somos um familiar, mas fazemos parte da família. É um acompanhamento muito especial que é dado ao cliente em todo o processo. E não só enquanto cliente. Ganhamos uma amizade com grande parte dos clientes com quem trabalhamos, e não só quando eles querem comprar, não só quando querem vender. Eles vêm ter comigo, ou com outro consultor meu colega, para saber algo sobre qualquer coisa que necessitem de ajuda, qualquer conselho. Eles consultam-nos. 

Esta relação de proximidade com os clientes é crucial para o negócio da PLRE em Portugal…

Completamente. Não temos o conceito de ter uma equipa gigante e massificada, porque não conseguimos dar formação adequada a essas pessoas, e passam a ser um número, mais um. Não queremos isso, queremos que as pessoas estejam cá e trabalhem à imagem do que estamos a falar e que tenham uma vida longa connosco. Neste momento, estamos com 38 colaboradores, espalhados pelos vários escritórios. Em Cascais começámos com cinco, mas queremos chegar aos dez até final do ano.

"Antes da pandemia, entravam entre quatro a seis clientes por dia [no escritório/loja da PLRE da Avenida da Liberdade]. Face à evolução tecnológica que existe é um número gigante. Nesta fase, entram em média três clientes por dia, que são potenciais compradores. Um dado interessante: na pandemia não fizemos uma única transação por vídeo-chamada, as pessoas gostam de sentir, de ver"

Cascais é uma zona que sentem que pode ser estar a ser mais apelativa neste momento, também por terem aberto recentemente lá um escritório?

Tivemos um feedback muito bom do mercado em geral na abertura da loja, e começámos a ter uma coisa que temos em Lisboa, que é a entrada de pessoas no escritório/loja. É aquele mercado que é apetecível como modo de vida. 

As pessoas entram no escritório da Avenida da Liberdade sem marcação para espreitar o que tem para oferecer a PLRE? 

Sim, muito. Antes da pandemia, entravam entre quatro a seis clientes por dia. E face à evolução tecnológica que existe é um número gigante. Nesta fase, entram em média no escritório três clientes por dia, que são potenciais compradores. Um dado interessante: na pandemia não fizemos uma única transação por vídeo-chamada, as pessoas gostam de sentir, de ver.

Há uma história curiosa com uma pessoa que nos comprou um palácio, que rondava os sete milhões de euros, na zona da Grande Lisboa. Essa pessoa entrou aqui [escritório da Avenida da Liberdade], eu não estava cá, estava um colaborador, e disse: “Quero comprar um palácio”. E o consultor que estava cá na altura, que era bastante experiente, subentendeu que seria uma penthouse. Isto foi em 2018. E foram então visitar uma penthouse fantástica, com 700 m2, piscina etc. O senhor chegou ao apartamento, virou-se para o consultor e disse: “Está a brincar comigo? Eu disse um palácio!". Isto significa que esta pessoa veio à PLRE por estarmos referenciados como vendedores de palácios. Eles voltaram aqui, tudo no mesmo dia, e foram à procura de palácios. Visitaram um que estava angariado por nós, com tetos trabalhados, frescos, esculturas etc. O cliente sentou-se e disse: “Quero comprar, é exatamente isto que quero. E foi por isso que vim à vossa agência”. É engraçado perceber que estes são os compradores mais sólidos que temos, os que entram no escritório.

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