Há cada vez mais estrangeiros a querer investir "em parceria com empresas locais", diz Nuno Rodrigues, da Arnold Investments.
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Imobiliário português na mira dos estrangeiros
Foto de Freguesia de Estrela na Unsplash

A Arnold Investments (AI) nasceu na Áustria e alargou o modelo de negócio a mais nove países europeus. Entre eles está Portugal, tendo a sociedade multinacional de brokerage especializada em investimentos imobiliários profissionais “aterrado” em Lisboa no ano passado. Em jeito de balanço de atividade, Nuno Madeira Rodrigues, Country Manager da empresa, revela ao idealista/news que a forma de atuar dos investidores estrangeiros em Portugal mudou no último ano, havendo agora cada vez mais clientes interessados em estabelecer parcerias com players nacionais.

“Ao longo do último ano desmistifiquei muito a ideia que tinha de que o cliente estrangeiro vem para comprar. Quer comprar, quer ser proprietário, quer levar projetos adiante, quer entrar no país. O que tenho visto é exatamente o contrário. Cada vez mais o cliente estrangeiro está consciente da dificuldade de Portugal e não está disponível para fazer investimento direto per si. Quer fazer investimento sempre em parceria com as empresas locais. E isto tem feito a diferença”, começa por dizer.

Nuno Madeira Rodrigues justifica a ideia salientando que a AI “passa mais tempo a mediar parcerias entre um promotor nacional estabelecido no mercado, com alguns bons produtos em carteira e que necessita de algum capital e músculo e que não quer ir à banca, e o cliente estrangeiro, que quer investir em Portugal mas que como não conhece o país, a legislação, a jurisdição e a geografia, procura um parceiro local, um promotor já com provas dadas que até pode ser minoritário no investimento em ‘joint venture’”.  

“Isto é muito interessante”, acrescenta, frisando que nota que a AI mais do que às vezes vender prédios vende parcerias. “Isto tem sido a nossa realidade ao longo do último ano, que é uma mudança no mercado imobiliário. Às vezes estamos mais a fazer a venda do parceiro do que a venda do produto. Este está identificado e o cliente estrangeiro gostou. Chego ao fim do dia e percebo que se calhar faço uma reunião para discutir com o cliente o imóvel e o cliente está convencido, e faço dez reuniões para discutir quem é o parceiro local certo. Se calhar foi a maior surpresa que tive ao longo do ano”. 

“Há muitos investidores estrangeiros a querer investir em parcerias”

O Country Manager em Portugal da AI deixa, nesse sentido, um aviso aos promotores imobiliários, lembrando que “há muita gente [investidores estrangeiros] a querer investir em parcerias” e que tem “muito dinheiro”, podendo este ser um “’matching’” interessante. 

Quando questionado sobre a importância dos negócios transacionais, entre países, no universo da AI, o responsável adianta que representam cerca de 30% em todos os países, um valor que sobe para perto dos 50% em Portugal “porque alguns promotores nacionais pararam investimentos no final do ano passado”. 

Estrangeiros querem investir em Portugal em parceria com empresas nacionais
Assim é o escritório da Arnold Investments em Lisboa Arnold Investments

Mudanças na habitação têm impacto para o investimento estrangeiro?

O pacote “Mais Habitação” anunciado pelo Governo, que está em consulta pública e pode, por isso, sofrer ainda alterações, promete trazer muitas mudanças ao setor imobiliário em Portugal. Desafiado a pronunciar-se sobre o tema, Nuno Madeira Rodrigues lamenta, desde logo, que se estejam a “mudar as regras do jogo”, sendo essa a mensagem que passa no estrangeiro.  

“No lugar de um investidor estrangeiro, e sei disto porque já tive pelo dois a dizerem-me isto nos últimos dias, ficaria preocupado. Porque se fazem [o Governo] isso aos vistos gold [acabar com o programa], quem é que não me diz que vão fazer o mesmo aos benefícios, aos incentivos, à estabilidade ou à remessa de divisas de dividendos para o estrangeiro, por exemplo? Se mudam as regras do jogo relativamente a isto, vão ou podem mudar relativamente a outras questões”, comenta. 

Segundo o responsável, está a ser dado um “sinal de instabilidade jurídica”, o que “é muito grave para o mercado internacional”. “E as consequências dessa instabilidade não são imediatas. A médio prazo vamos ver a desconfiança que isto está a criar no mercado internacional e vamos lá ver como é que o rating do país vai andar nos próximos tempos, fruto de tudo isto”.

Lisboa mantém-se no radar dos investidores imobiliários
Foto de Inês Lucas na Unsplash

MIPIM 2023 servirá de barómetro

Nuno Madeira Rodrigues considera, no entanto, que “a verdadeira sensibilidade” sobre este tema será visível no MIPIM, que se realiza de 14 a 17 de março em Cannes (França). “Vários dos investidores internacionais vão estar presentes e aí vou perceber o que é que me vão dizer na cara sobre o que acham das medidas”.  

A propósito do MIPIM, a maior e mais importante feira imobiliária do mundo, o responsável revela que a AI estará presente com stand próprio, ao contrário do que aconteceu na edição do ano passado, tendo integrado o stand da Áustria. 

“Na Expo Real [em Munique/Alemanha], em 2022, o nosso stand já impressionou muitas pessoas. Aliás, ganhámos alguns clientes portugueses. E foi engraçado ver a quantidade de portugueses com quem até tentámos interagir em Portugal sem grande sucesso que estavam lá e que depois passaram por lá a meter conversa. Daí para cá começámos a trabalhar alguns clientes, essencialmente do Porto, muito fruto disso. Este ano, tenho a certeza que vamos sair do MIPIM com muito mais contactos de promotores portugueses”, conclui.

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