
O mercado residencial do Grande Porto – tal como o do país - enfrenta hoje uma série de desafios desencadeados pela atual instabilidade económica e financeira. A alta inflação, a subida dos juros no crédito habitação e a recente crise financeira estão a gerar um clima de desconfiança, que ameaça arrefecer os negócios das casas (embora as transações tenham registado um recorde em 2022). Mas os profissionais do imobiliário, desde agências, a promotores e consultores, estão unidos para assegurar que o mercado residencial continua a crescer e a dar provas de resiliência.
Muitos vão estar reunidos no Imobinvest – Salão do Imobiliário que vai arrancar esta sexta-feira, dia 24 de março de 2022, na Alfândega do Porto, e que conta com o idealista como portal oficial. As casas inteligentes também vão estar em destaque.
Apesar de o atual contexto económico ter reduzido o poder de compra e deixado empresas e famílias com orçamentos mais apertados, “existe um enorme esforço do setor imobiliário para manter uma evolução crescente no mercado residencial do Grande Porto. Acreditamos que este impacto não se traduz numa diminuição da procura, nem no desacelerar dos negócios”, aponta Rita Duarte, diretora do ImobInvest – Salão do imobiliário que vai decorrer em paralelo com o Smart Home Show - Salão da Domótica até domingo, dia 26 março.
“Temos presenciado uma grande resiliência do setor especialmente no Grande Porto”, diz Rita Duarte, diretora do Imobinvest
O interesse por comprar casas e construir novos empreendimentos no Grande Porto continua a existir. E prova disso mesmo é a adesão dos profissionais do setor e do público em geral a esta iniciativa centrada no mercado imobiliário. “Temos grandes expectativas para esta edição. Estamos a contar com um crescimento na ordem dos 15 a 20% no número de visitantes face ao ano anterior”, antecipa Rita Duarte ao idealista/news, destacando ainda que contam com a assistência do público estrangeiro, que está cada vez mais ativo em Portugal. “Temos registos da Suíça, Brasil e Espanha”, detalha a responsável.

Como está a procura de casas para comprar e arrendar no Grande Porto?
O Grande Porto conta com 17 municípios, onde vivem 1,7 milhões de pessoas, segundo os Censos 2021. E poderão ser ainda mais já que a procura de casas para viver nesta região continua a estar em alta, embora já sejam notados alguns sinais no mercado fruto do atual contexto de subida de juros no crédito habitação e alta inflação, que deixa as famílias mais cautelosas na hora de comprar casa. A somar a tudo isto chegou, agora, a crise financeira que está a criar um clima de desconfiança.
No mercado de compra e venda, observa-se que a procura subiu em oito concelhos do Grande Porto e desceu em nove entre o quarto trimestre de 2021 e o mesmo período de 2022. O maior aumento da procura de casas para comprar foi registado em Arouca (+575%), seguido do Porto (+77%) e de Oliveira de Azeméis (+70%), apontam os dados do idealista/data. Por outro lado, a maior queda da procura de habitações à venda foi observada em Valongo e em Espinho (ambos com -35%), seguida da Trofa (-34%) e da Maia (-26%).
Já o mercado de arrendamento do Grande Porto está em alta, uma vez que a procura mais do que duplicou na maioria dos 17 concelhos, revelam os mesmos dados. Oliveira de Azeméis foi o município onde a procura de casas para arrendar mais subiu entre o final de 2021 e o final de 2022 (+868%), seguido de Paredes (+730%) e São João da Madeira (+565%). Arouca foi o único concelho onde a procura de casas para arrendar caiu neste período.
Casas para comprar e arrendar no Grande Porto: como está a oferta?
A procura de casas para comprar no Grande Porto - embora esteja a arrefecer em alguns municípios - continua a ser muito superior à oferta existente, um desequilíbrio que faz com que haja uma absorção das casas no mercado. Não havendo uma reposição do stock ao mesmo ritmo que as habitações são vendidas, a oferta acaba por descer.
Foi isso mesmo que se observou em 8 municípios da Área Metropolitana do Porto, com Vale de Cambra (-62%), Oliveira de Azeméis e o Porto (ambos com -41%) a registarem as maiores descidas de oferta de casas à venda no último trimestre de 2022 face ao período homólogo. Por outro lado, a oferta de casas para comprar manteve-se em três municípios (Valongo, Paredes e Gaia) e aumentou em seis. A maior subida da oferta de casas à venda foi registada na Trofa (+92%), revelam os dados.
Já no mercado de arrendamento do Grande Porto observa-se uma queda da oferta em 13 dos seus 17 municípios, incluindo o Porto (-52%), mostram os mesmos dados. Só em Valongo (+26%), em Gondomar (+5%) e em Vila do Conde (+2%) é que houve mais casas para arrendar no final de 2022 do que no final de 2021. Em Vale de Cambra, o stock de habitações não variou.
Há, hoje, uma clara falta de casas no Porto e nos seus municípios periféricos. E por isso mesmo os profissionais do setor continuam atentos e empenhados em trazer novos produtos para o mercado. Prova disso mesmo é a adesão das imobiliárias ao Imobinvest. “Este ano verificamos uma maior procura de imobiliárias com produtos exclusivos e produtos de luxo, bem como produtos direcionados para investimento. Temos também promotores imobiliários com produtos novos, o que significa que estarão também disponíveis excelentes oportunidades para quem quer comprar casa”, destaca ainda Rita Duarte, dando nota de que “os espaços de exposição estão todos preenchidos”.
A vontade de captar investimento – nomeadamente para arrendamento acessível – também uniu as autarquias do Porto, Vila Nova de Gaia e Matosinhos, que resolveram criar em 2022 o Greater Porto, uma iniciativa que também junta outras empresas do ramo imobiliário, como o Castro Group e a Emerge -Mota-Engil Real Estate Developers.
Foi na Expo Real em 2022 que o Greater Porto se estreou e, desde então, tem vindo a crescer, tendo já captando 100 milhões de euros para desenvolver projetos nestas três cidades do Grande Porto, segundo disse Ricardo Valente, vereador da Economia, Emprego e Empreendedorismo da Câmara Municipal do Porto durante o MIPIM 2023. A procura internacional existe e vem dos quatro cantos do mundo: desde o mercado americano, ao mercado asiático, passando também pelo espanhol e pelo norte da Europa.
Resta agora saber se os projetos dos promotores e investidores imobiliários, bem como as iniciativas das autarquias são acompanhadas por uma política capaz de trazer mais investimento ao Grande Porto e ao país. Importa recordar que esta sexta-feira, dia 24 de março, termina a discussão pública do pacote Mais Habitação desenhado pelo Governo socialista, que traz uma série de medidas – muitas delas polémicas - no sentido de aumentar oferta de casas, sobretudo no mercado de arrendamento. Os apoios às rendas e ao crédito habitação foram aprovados pelo Presidente da República, embora com ressalvas. Já as propostas de lei só deverão ser aprovadas dia 30 de março pelo Conselho de Ministros, seguindo, depois, para a Assembleia da República.

Casas inteligentes despertam interesse às famílias e construtoras
Aliar a tecnologia ao imobiliário é cada vez mais comum nos dias que correm. Nos negócios, há avanços a olhos vistos na divulgação das casas, na procura e até nas visitas (em 3D, por exemplo). E também há cada vez mais famílias a procurar introduzir soluções de domótica em casa, de forma a tornar as casas mais eficientes, confortáveis e seguras, tal como explica o idealista/news neste artigo.
“As casas inteligentes estão a ganhar cada vez mais terreno junto do consumidor final e inclusive junto das construtoras”, explica a diretora do Imobinvest, dando nota que a domótica “tem crescido também com a grande aposta na oferta de imóveis de luxo”.
Mas quais são as vantagens de investir em domótica nas casas? “Este tipo de tecnologia, além de representar um enorme conforto e segurança para as famílias, traduz-se também na personalização do lar, que é o que o consumidor mais procura atualmente”, acrescenta Rita Duarte em declarações ao idealista/news, destacando ainda que introduzir a domótica em casa contribui “para a valorização dos imóveis”.
A introdução da tecnologia na vida da casa tem ganho tanto relevo nos últimos anos – sobretudo depois da pandemia – que na edição a 3ª edição do Smart Home Show “contará com maior espaço de exposição, que se traduz em mais expositores do ramo”, onde serão apresentadas “novas e diversificadas soluções de domótica para habitação e hotelaria”, partilha ainda.

Viver no Porto: como evoluem os preços das casas para comprar e arrendar?
Apesar dos atuais desafios que enfrenta o mercado residencial – da alta inflação, à subida dos juros, passando agora pela crise financeira –, a verdade é que continua a haver uma alta procura para a oferta de casas existente que é estruturalmente escassa em todo o território nacional e, em especial, em grandes centros urbanos como é o caso do Grande Porto. É este desequilíbrio que está, sobretudo, por detrás da subida dos preços das casas neste mercado.
Os dados do idealista/data revelam isso mesmo: os preços das casas à venda subiram em 16 dos 17 municípios da Área Metropolitana do Porto entre o final de 2022 e o período homólogo. Foi na Trofa onde as casas ficaram mais caras neste período (+38%), custando 1.622 euros/m2 em termos medianos. Sem surpresas, é no Porto onde é mais caro adquirir uma habitação (3.357 euros/m2). Só em Arouca é que as casas para comprar ficaram mais baratas entre o final de 2021 e o final de 2022, tendo os preços caído 24%, para 1.250 euros/m2.
Uma realidade semelhante observa-se no mercado de arrendamento do Grande Porto. Aqui, as rendas das casas subiram em praticamente todos os municípios, à exceção da Trofa (-8%) e de Arouca, que não tem uma amostra representativa disponível. Foi em Santo Tirso, onde as rendas das casas subiram 59% fixando-se, em termos medianos, em 7,3 euros/m2 no final de 2022. Também é o concelho do Porto que apresenta as rendas mais caras de todas (15,3 euros/m2), tendo subido 42%. Já as rendas mais baixas do Grande Porto foram observadas em Oliveira de Azeméis (4,7 euros/m2), revelam os mesmos dados.
O mercado imobiliário do Grande Porto enfrenta, hoje, grandes desafios determinados pela instabilidade económica e financeira atual – tal como o resto do país. Importa agora saber como vão correr os negócios das casas durante 2023, como vão os players imobiliários lidar com as pressões sentidas no mercado e a nível legislativo e, portanto, como o mercado imobiliário vai provar, uma vez mais, a sua resiliência a situações de crise. Todos estes temas vão estar em destaque no Imobinvest que vai decorrer nos próximos três dias na Alfândega do Porto, contado com o idealista como portal oficial.
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