Portugal volta a marcar presença em força naquela que é considerada a maior e mais importante feira do setor imobiliário do mundo, o MIPIM, que “abre portas” esta terça-feira e termina sexta-feira (17 de março de 2023), realizando-se como sempre em Cannes (França). “Esta será sem dúvida a maior participação de sempre de Portugal no MIPIM e isso deve-se ao reconhecimento pelo setor da importância da feira. Quem vai uma vez continua a ir e espalha a palavra, pelo que o evento vai crescendo”, diz ao idealista/news Rui Coelho, representante do MIPIM em Portugal.
Na edição deste ano do MIPIM, a segunda que se realiza em contexto de guerra, é esperada a participação de mais de 23.000 profissionais de mais de 90 países, o que representa um aumento de 15% em relação ao ano passado. Portugal contará com a presença dos seguintes stands:
- Greater Porto, com as câmaras municipais de Porto, Matosinhos e Gaia e outras empresas;
- Região de Lisboa, com as câmaras municipais de Lisboa, Almada e Vila Franca de Xira e outras empresas;
- Câmara Municipal do Fundão, que participa pela segunda vez consecutiva;
- Sonae Sierra, do grupo Sonae, onde estará integrada a empresa Reify.
O que esperar da participação nacional no maior evento mundial de investimento imobiliário e que ambições têm os stands participantes? O que tem Portugal a ganhar com esta massiva participação? A resposta a estas e outras perguntas é dada ao idealista/news por quem lá vai estar.
Que esperar da edição de 2023 do MIPIM?
Segundo Rui Coelho, “a atenção do setor e do MIPIM está focada no ESG (investimentos sustentáveis nas perspetivas ambientais, sociais e de governance) e na inovação”, havendo várias conferências “com grandes especialistas internacionais e responsáveis políticos dessas áreas”.
Paralelamente, a feira “terá duas zonas dedicadas onde empresas, cidades e investidores apresentarão casos e soluções nas áreas da construção neutra em carbono, gestão de ativos, reciclagem, energia renovável, eficiência energética, gestão de edifícios, mobilidade, etc.”, acrescenta, salientando que também será “dada atenção especial” aos segmentos coliving e logística.
Lisboa e Porto com forte presença no MIPIM 2023
Diogo Ivo Cruz, diretor de projetos da InvestLisboa, responsável pela presença do stand da Região de Lisboa na feira, diz esperar “mais uma edição muito dinâmica, com uma presença de profissionais portugueses cada vez maior e uma presença record de empresas privadas e de municípios no evento”.
“Há também uma cooperação cada vez maior entre municípios e profissionais para a promoção do território, que é um desígnio de todos”, frisa, adiantando que o stand da Região de Lisboa integrará, além das autarquias de Lisboa, Almada e Vila Franca de Xira, 20 empresas.
O mesmo acontece no caso do stand Greater Porto, que juntará no mesmo espaço, além das autarquias do Porto, Matosinhos e Gaia, “mais de 20 empresas”, revela Ricardo Valente, vereador de Economia, Emprego e Empreendedorismo da Câmara Municipal do Porto, enaltecendo também o facto de se tratar de um evento que reúne vários players do setor imobiliário.
“A estratégia do Greater Porto é muito clara no sentido de promover e atrair investimento para a região. Com este tipo de aliança territorial, estamos a fomentar a colaboração entre cidades e, sobretudo, a envolver o ecossistema de empresários e investidores. Deste modo, conseguimos garantir novas oportunidades de negócio e um desenvolvimento sustentável do território, através de sinergias entre os setores público e privado”, explica.
O responsável adianta que as empresas que marcam presença no Greater Porto “reconhecem a importância de integrar uma iniciativa com características únicas em Portugal, projetando-as no plano internacional”. Paralelamente, terão “uma montra privilegiada em ‘show cases’ de apresentação de projetos que estão a ser desenvolvidos no território”, conta.
Câmara do Fundão e Sonae Sierra com stands próprios
O objetivo da Câmara Municipal do Fundão, que estará presente do MIPIM pela segunda vez consecutiva, passa por "dar a conhecer" a cidade e "as oportunidades de investimento existentes, na expetativa de que os contatos gerados possam traduzir-se em mais oportunidades para o território", refere o presidente da autarquia, Paulo Fernandes.
"A habitação é um tema central na atual estratégia do município e a curto prazo vamos avançar com um investimento superior a 50 milhões de euros no parque público de habitação ao abrigo do PRR", adianta.
Também com um stand próprio no certame estará a Sonae Sierra. Para João Pedro Nunes, diretor de coordenação comercial da empresa, não há dúvidas de que o MIPIM é “um autêntico ponto de encontro” entre os intervenientes do setor imobiliário.
“Iremos, como sempre, reencontrar atuais e potenciais clientes e parceiros, e criar oportunidades de negócio onde empregaremos todo o expertise enquanto player de referência da indústria imobiliária. Esta é também uma oportunidade para partilhar e conhecer as novas tendências do setor (…), sendo a sustentabilidade um dos temas centrais em discussão nesta edição, área onde a Sierra tem uma atividade pioneira”, conta.
MIPIM: porque é importante Portugal ter forte representação?
O representante do MIPIM em Portugal enaltece o papel da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII) para o setor, nomeadamente “enquanto grandes embaixadores do MIPIM em Portugal”, e considera que a forte participação de uma comitiva nacional, “organizada em stands regionais com entidades públicas e privadas, é a melhor forma de conseguir a maior exposição possível com o menor custo possível”.
“É importante salientar o excelente exemplo do Greater Porto, que este ano estará ao melhor nível de sempre. E também a constância da participação de Lisboa, o que é muito importante para consolidar a imagem da marca. De destacar ainda a participação do Fundão, um município conhecido por ir à luta e conseguir captar projetos empresariais muito importantes para a região, que devido ao seu sucesso nessa área precisa agora de investimento imobiliário para poder crescer”, explica Rui Coelho.
Do lado da APPII, Hugo Santos Ferreira considera que a presença no MIPIM é obrigatória para “todos os profissionais e empresas do setor imobiliário em Portugal que trabalham com investidores internacionais”. “Marcam presença no evento os grandes players a nível internacional, é uma escala global, planetária, do setor. Quem não estiver no MIPIM não fará parte do mercado imobiliário global”, avisa o presidente da associação.
"Marcam presença no MIPIM os grandes players a nível internacional, é uma escala global, planetária, do setor. Quem não estiver no MIPIM não fará parte do mercado imobiliário global”
Hugo Santos Ferreira, presidente da APPII
Sobre a participação da APPII, adianta que vai organizar, esta quarta-feira (15 de março de 2023), a Conferência Portugal, na qual se debaterá, entre outros temas, a captação de investimento em Portugal. “Daremos a conhecer ao mercado do imobiliário internacional um pouco mais sobre Portugal e o mercado português. Essa conferência contará com promotores imobiliários, com presidentes de câmara e também, naturalmente, com a própria APPII”.
Presença no MIPIM “é fundamental para Portugal”
Diogo Ivo Cruz diz não ter dúvidas de que “é fundamental para Portugal a presença nas grandes feiras de investimento imobiliário e cidades”. “É o local onde as cidades se mostram, explicam a sua estratégia e apresentam as oportunidades de investimento que permitem aos investidores ajudar a construir as cidades e ajudar a resolver os problemas das cidades”, justifica.
Uma opinião partilhada por Ricardo Valente, que considera essencial, desde logo, conseguir “afirmar um conjunto de territórios que correspondem a um conjunto de oportunidades”. “Esta visão permite ganhar escala e relevância, fatores de inegável importância para nos posicionarmos no plano internacional. Ao adotarmos uma visão conjunta para a atração, o desenvolvimento e a retenção de investimento, apostamos numa política agregadora de gestão do território, valorizando os diferentes ativos que cada cidade tem”, sublinha.
"É fundamental para Portugal a presença nas grandes feiras de investimento imobiliário e cidades. É o local onde as cidades se mostram, explicam a sua estratégia e apresentam as oportunidades de investimento que permitem aos investidores ajudar a construir as cidades e ajudar a resolver os problemas das cidades"
Diogo Ivo Cruz, diretor de projetos da InvestLisboa
Para Paulo Fernandes, "o crescimento da comitiva portuguesa no evento representa um maior dinamismo e abertura da economia, das cidades e dos diversos territórios do país", havendo "oportunidades e desafios um pouco por todo o lado que devem ser promovidos e trabalhados" em feiras imobiliárias como a que agora arranca em Cannes. "Olhando para os temas quentes do nosso país, como a habitação, o turismo, a atração de investimento ou o fomento da inovação, torna-se claro que Portugal não podia passar ao lado" do MIPIM, frisa.
Quando questionado sobre o que tem a ganhar a região, em termos imobiliários e económicos, com a participação no certame, o presidente da Câmara do Fundão responde de forma clara: "Acreditamos que a nossa região apresenta condições, diversidade e mais-valias que merecem ser promovidas e trabalhadas de forma integrada para assim constituírem oportunidades de investimento no setor imobiliário, seja na habitação, no turismo ou na indústria. A região ganha essa voz num evento que reúne os principais agentes do setor e esse é um grande capital de oportunidade que não podemos desperdiçar".
Sonae Sierra pisca o olho a negócios fora do retalho
João Pedro Nunes, da Sonae Sierra, afirma que “Portugal continua a ser um mercado ‘apetecível’ em termos de investimento imobiliário a nível internacional” e considera que a representação massiva no evento “mostra a unidade e vivacidade do setor”. “E isso significa que há um ecossistema profissional e bem articulado de suporte aos investidores e, em particular, aos investidores institucionais estrangeiros”, frisa.
Sobre as vantagens de participar num certame como o MIPIM, destaca, por exemplo, o contacto esperado com um “vasto número de investidores imobiliários (atuais e potenciais)”, bem como com parceiros de desenvolvimento e investimento ou clientes.
“Continuaremos a dar a conhecer a nossa estratégia e os novos setores, geografias e papéis em que estamos a trabalhar. O nosso portefólio atual de relações de negócios com parceiros de investimento e desenvolvimento e clientes de serviços vai muito além dos centros comerciais onde somos reconhecidos como líderes. Queremos também reforçar que a Sierra está a alavancar o seu know-how imobiliário da gestão de veículos de investimento através da expansão da atividade de desenvolvimento e serviços para setores imobiliários, também além do retalho”, revela o diretor de coordenação comercial da empresa.
Portugal continua na mira dos investidores imobiliários?
Vivem-se tempos conturbados e de certeza, quer a nível internacional, com a taxa de inflação a subir e as taxas de juro a escalar – em Portugal e na Europa –, na sequência da guerra na Ucrânia, quer a nível nacional, com alterações legislativas na calha no setor da habitação.
Rui Coelho fala num cenário desafiante em termos de conjuntura internacional, mas lembra que “Portugal tem tido muito sucesso na captação de investimento internacional na área do imobiliário”. Aponta, no entanto, o dedo ao Governo: “Se os nossos políticos fossem capazes de conceber um enquadramento jurídico-fiscal atrativo para o desenvolvimento de habitação acessível não tenho dúvidas que teríamos filas de investidores e promotores especializados que rapidamente resolveriam essa carência do nosso mercado. Mas com a legislação apresentada penso que vamos não apenas perder essa oportunidade como correr o risco de afastar alguns dos atuais investidores”.
“Para quem como eu há muitos anos participa e observa a competição entre as cidades para captar investimento, lançar uma legislação que procura limitar o investimento e o empreendedorismo é especialmente difícil de entender. Deu muito trabalho colocar Portugal no mapa dos investidores, e se os afastamos agora vai dar muito mais trabalho depois… quando acabar o PRR”, avisa.
"Deu muito trabalho colocar Portugal no mapa dos investidores, e se os afastamos agora vai dar muito mais trabalho depois… quando acabar o PRR"
Rui Coelho, representante do MIPIM em Portugal
Investimento imobiliário ajudou a reabilitar e renovar cidades...
Também Diogo Ivo Cruz olha para o futuro – “A atração de investimento imobiliário é a melhor forma de ultrapassar alguns dos desafios existentes“ – ao mesmo tempo que recua no tempo, para deixar um aviso: “Há uns anos, quando os centros das cidades estavam extremamente degradados, foi através do investimento imobiliário (muito dele internacional) que foi possível reabilitá-los e renová-los. A arte da política é sinalizar e criar incentivos para a captação de investimento e colmatar as falhas de mercado”.
Ricardo Valente reconhece que os três municípios do Greater Porto estão em constante contacto sobre temas como as alterações legislativas que o Executivo está a querer implementar, revelando, de resto, que será tornada pública uma posição conjunta sobre o atual contexto durante o MIPIM.
“O mais importante, que sublinhamos desde o início, é a existência de uma visão partilhada para o desenvolvimento dos territórios, com uma forte dimensão de reabilitação do edificado e da sustentabilidade dos projetos, para que todos – cidadãos, investidores e entidades públicas e privadas – possam beneficiar das sinergias que estamos a promover enquanto Greater Porto”, afirma.
O prisidente da autarquia do Fundão reforça a ideia, a propósito deste tema, que Portugal continua na mira dos investidores imobiliários. "Acreditamos que sim, porque o país apresenta um conjunto de mais-valias competitivas absolutamente distintivas e transversais a todo o território nacional, como o clima, a hospitalidade e a segurança".
"A maioria das dinâmicas económicas e sociais a que assistimos depende cada vez mais da escolha que as pessoas fazem sobre o sítio onde querem viver ou as experiências que querem ter, e por isso temos de saber promover e capacitar o nosso património edificado, cultural e natural que felizmente é rico e vasto", nota Paulo Fernandes.
A importância de Portugal se manter resiliente
Ainda sobre a atratividade de Portugal além-fronteiras, João Pedro Nunes é da opinião que “Portugal continua a ser uma muito boa opção de investimento” e sublinha que o imobiliário é “uma indústria de ciclo longo”, pelo que “é natural que haja uma retração visível dada as condicionantes macroeconómicas”. “Mas havendo a possibilidade de mitigar risco, a visão positiva de longo prazo mantém-se”, afirma.
“Portugal continua a ser uma muito boa opção de investimento (...). A resiliência de Portugal, em particular, é um excelente exemplo e uma variável cada vez mais importante para quem quer investir”
João Pedro Nunes, diretor de coordenação comercial da Sonae Sierra
De acordo com o responsável da Sonae Sierra, “o setor imobiliário, por si só, é um espelho do desempenho da economia, que apesar de todas as pressões externas, continua em território positivo ou, pelo menos, longe de forte recessão”. “A resiliência de Portugal, em particular, é um excelente exemplo e uma variável cada vez mais importante para quem quer investir”, remata.
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