Empresa continua a investir em Portugal e quer apostar em residências de estudantes e seniores, adianta o CEO Francisco Sottomayor.
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Norfin aposta nas residências de estudantes e seniores
Foto de Helena Lopes na Unsplash

A "Norfin prevê investir 750 milhões em projetos imobiliários até 2027", escrevemos no final do ano passado. Francisco Sottomayor, CEO da empresa, que integra o Grupo Arrow Global desde 2018, revela agora que esse montante aumentou, aproximando-se dos mil milhões de euros. Em entrevista ao idealista/news, o responsável adianta que continua a haver “investidores motivados a investir” em Portugal, apesar da incerteza e dos desafios existentes, quer externos, como o conflito no Médio Oriente e as altas taxas de juro, quer internos, relacionados com a instabilidade política. Certo é que a Norfin continua a ter Portugal na mira. E na calha está a aposta, nomeadamente, nos segmentos das residências de estudantes e seniores

“Ainda vamos fazer duas aquisições este ano, uma no Porto e outra no Algarve, que vão trazer mais algumas unidades para o mercado. Temos estimado para o próximo ano cerca de 300 milhões de euros de investimento, canalizados através dos nossos investidores. Falamos de investimento inicial, de aquisições, porque depois o desenvolvimento é sempre mais [valor]”, revela Francisco Sottomayor

Projetos da Norfin
Francisco Sottomayor, CEO da Norfin Créditos: Norfin

Em termos de investimento da Norfin em Portugal, foi conhecido um número no final do ano passado, cerca de 750 milhões de euros até 2027. Confirma-se?

Dira que esse número já está mais perto dos mil milhões de euros. Este ano ainda apoiámos vários investidores a fazer mais aquisições, ou seja, há mais projetos a entrar, alguns mais públicos e outros ainda na calha, por isso é que esse valor vai crescer. A Norfin fechou o ano com 1,7 mil milhões de ativos sob gestão em Portugal, temos vindo a crescer de forma relevante. 

"Vai continuar a haver investimento no próximo ano. Enquanto não houver uma definição política estamos num período difícil, mas os fundamentais estão cá e o investimento irá continuar. Por outro lado, é interessante haver esta pressão pública sobre o setor residencial, pode ser que dê frutos"

Acreditamos que vai continuar a haver investimento no próximo ano. Enquanto não houver uma definição política estamos num período difícil, mas os fundamentais estão cá e o investimento irá continuar. Por outro lado, é interessante haver esta pressão pública sobre o setor residencial, pode ser que dê frutos. É um problema que o setor já conhece há muitos anos, mas que agora se acentuou, o que é positivo. Cria uma certa pressão sobre os atores que estão do lado de cá, mas também sobre a componente camarária e de poder central para começar a desbloquear alguns temas. 

A instabilidade política em Portugal deixou marcas no setor, nomeadamente as decisões relacionadas com os vistos gold e com o regime de Residentes Não Habituais (RNH), no sentido de influenciar as intenções dos investidores imobiliários?

Afeta principalmente na lógica da credibilidade e estabilidade do sistema. O que é um facto é que não deixámos de ser um país bastante estável do ponto de vista social, já do político não tanto. À nossa volta, se olharmos para o centro da Europa e para o que está a acontecer no Médio Oriente, continuamos a ser mais um destino de alguma forma seguro. As tensões sociais que se vêm em alguns países em Portugal não se revelam ainda da mesma forma, o que é uma característica que vai sendo progressivamente mais apreciada. Se houver bom senso dos novos atores políticos há condições de retomar de forma muito rápida. 

Portugal já não é um mercado novo para os investidores, é um mercado que já se conhece e que tem muitos pontos positivos, portanto acreditamos que quando esta instabilidade ou indefinição passar os ‘players’ voltam ao mercado. Continuamos a ver investidores motivados a investir. 

O mercado dos EUA apareceu em força em Portugal no último ano. É uma tendência que se mantém?

O fenómeno que estamos a assistir da abertura dos EUA é muito interessante. O tema dos voos diretos de Nova Iorque para Faro vai ter um impacto muito grande no mercado. Sabemos que os americanos olham mais à qualidade que ao custo, em muitos casos. É um mercado que exige alguma qualidade que ainda não temos em muitas áreas de Portugal e vemos como uma enorme oportunidade para o Algarve estas aberturas dos voos.

Em Lisboa e no Porto é notório o poder financeiro dos americanos e é um processo que ainda está a começar. É um mercado gigantesco, são muitas dezenas de milhões de americanos com poder de compra que estão a descobrir o país. Temos muitos compradores americanos que vêm para ficar algum tempo.

Escritórios em Lisboa
Empreendimento de escritórios Oriente Green Campus, em Lisboa Créditos: Norfin

Muitas pessoas consideram que o Alojamento Local, os vistos gold e os RNH, por exemplo, contribuíram para encarecer os preços da habitação. Partilha desta visão?

O tema dos vistos gold foi totalmente manipulado do ponto de vista político. O impacto no mercado é muito pontual. O tema dos RNH é um caso de miopia pior. Esta ideia de que esse segmento de mercado veio estragar os mercados de Lisboa e Porto, pelo próprio volume, não faz sentido. Basta olhar para algumas zonas de Lisboa para perceber que estes RNH montam negócios. Há zonas da capital em que praticamente todas as lojas são operadas ou detidas por pessoas que não viviam em Portugal há cinco anos, e isso está a transformar as cidades positivamente.

"O tema dos vistos gold foi totalmente manipulado do ponto de vista político. O impacto no mercado é muito pontual. O tema dos RNH é um caso de miopia pior. Esta ideia de que esse segmento de mercado veio estragar os mercados de Lisboa e Porto, pelo próprio volume, não faz sentido. Basta olhar para algumas zonas de Lisboa para perceber que estes RNH montam negócios

Na costa da Caparica, por exemplo, havia vários restaurantes e bares antigos e/ou degradados, acho que agora são quase todos detidos por franceses. E em quase todos o nível de qualidade aumentou exponencialmente. Esta capacidade empreendedora e de investimento deste segmento de residentes é transformadora para as cidades.

Relativamente ao próximo ciclo de investimento da Norfin em Portugal, o que está previsto/planeado?  

Ainda vamos fazer duas aquisições este ano, uma no Porto e outra no Algarve, que vão trazer mais algumas unidades para o mercado. Temos estimado para o próximo ano cerca de 300 milhões de euros de investimento, canalizados através dos nossos investidores. Falamos de investimento inicial, de aquisições, porque depois o desenvolvimento é sempre mais [valor].

O setor residencial é uma aposta, claramente, aproveitando este desequilíbrio que existe. Queremos continuar também a apostar na componente de hospitality e estamos a olhar para novos segmentos, como residências de estudantes e a parte mais de apoio sénior, gostávamos também de entrar neste setor.

Ou seja, a aposta passa também pelas residências seniores e de estudantes?

Esta abertura de Portugal ao mercado americano traz uma oportunidade gigante. Há muitos anos que acreditamos que no Algarve existem condições ótimas para equipamentos de apoio a uma população mais sénior, há até a própria população existente no Algarve estrangeira que vai envelhecendo, pelo que existe essa oportunidade há muito tempo, mas ainda não encontrámos o projeto certo para agarrar neste setor. 2024 pode ser o ano em que isso acontece. 

Temos uma perspetiva interessante para 2024, já com coisas a acontecer no final deste ano. Será um ano muito importante para nós porque entregamos vários projetos. É o fim de um ciclo e o lançamento de outros investimentos. 

O contexto económico externo, com a previsível estabilização das taxas de juro, por exemplo, pode ser um bom indicador para 2024? 

Começamos a ver uma inflação controlada e sabemos que o Banco Centra Europeu (BCE) vai ser prudente, mas acreditamos que vai dar sinais ao longo do próximo ano, o que será uma vitamina para a economia como um todo. O crescimento que existe no país é muito feito a reboque da atividade de turismo e da construção, e acreditamos que estes dois setores vão continuar a crescer. 

O conflito no Médio Oriente foi, no entanto, mais um obstáculo ao investimento imobiliário, a somar à guerra na Ucrânia, à inflação e ao aumento das taxas de juro. Que impacto terá o setor? 

Instabilidade é sempre má, mas a instabilidade longe de Portugal é menos má para nós. Claro que impacta, a nós e à economia global. Nunca são boas notícias. [Paralelamente] A instabilidade no Médio Oriente pode gerar um impacto positivo no nosso turismo, mas não nos devemos alegrar com ele. 

O turismo é uma indústria que nunca deixou de crescer a não ser durante a Covid-19. E já voltou a crescer. Portugal, do ponto de vista do turismo, ainda tem muito para evoluir, não em termos de massificação, mas de qualificação. A oportunidade que vemos no Algarve não é de fazer mais volume é de fazer mais qualidade, é essa visão que temos para Vilamoura e para os projetos nos quais estamos envolvidos na região.

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