
“Há 10 anos, Portugal tinha 29.000 milhões de euros de crédito às empresas de construção e neste momento tem 28.000 milhões. Mas em 2007, primeiro ano da série [do Banco de Portugal], tinha 44.229 milhões”, os números foram revelados por António Ramalho, antigo CEO do Novo Banco e atual chairman da Touro Capital Partners.
Durante a sua intervenção na conferência “Portugal 2030: Futuro Estratégico para o Setor da Construção", organizada pela Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN) e realizada em Lisboa esta segunda-feira (17 de fevereiro de 2025), o gestor deixou vários alertas, entre eles um relacionado diretamente com a necessidade de aumentar o número e volume de empréstimos bancários no setor da construção.
“O grau de financiamento que temos atualmente da estrutura de construção é muito diminuto em relação aquilo que são os seus crescimentos próprios. Temos um terço em construção para dois terços em [crédito] habitação, é fácil de verificar que ou se arranja estruturas diferenciadas ou não alteraremos o desvio da procura e da oferta que existe, porque mesmo que tenhamos uma necessidade adicional de oferta, temos poucos meios de financiamento dessa oferta”, referiu António Ramalho, alertando para a necessidade de “redesenhar todo o sistema de financiamento em ‘project finance’ sobre o modelo de financiamento à estrutura” existente.
Noutro painel de debate, e a propósito deste tema, Paulo Macedo, CEO da Caixa Geral de Depósitos (CGD), anunciou que o financiamento privado à construção, depois de uma redução a seguir à crise financeira, está agora a crescer. “Fizemos [na CGD] no ano passado quase mil milhões de financiamento à construção e gostaríamos de atingir esse valor também este ano”, disse.

Fundos europeus? “O diabo vem depois de 2030…”
Outro dos assuntos abordados ao longo da conferência esteve relacionado com a utilização dos fundos europeus, tendo o Ministro Adjunto e da Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida, avisado que o “ciclo vai mudar” e que “os próximos ciclos de fundos vão ser substancialmente menores” face ao existente atualmente.
Uma preocupação partilhada por vários dos oradores participantes. “Até 2030 vai tudo correr bem. O diabo vem depois de 2030… os fundos comunitários a partir de 2030 vão ter alocações distintas do que aquelas que têm neste momento”, antecipou António Ramalho.
“Até 2030 vai tudo correr bem. O diabo vem depois de 2030… os fundos comunitários a partir de 2030 vão ter alocações distintas do que aquelas que têm neste momento”
António Ramalho, chairman da Touro Capital Partners
“A partir de 2030 poderá existir uma incerteza daquilo que é o atual contexto pata o setor da construção, que agora é favorável ao investimento. Sabemos que agora vamos ter carteiras de encomendas neste setor recheadas para trabalhar, efetivamente a questão da [falta de] mão de obra é uma desvantagem a ter em conta”, prosseguiu Fernando Alfaiate, presidente da Estrutura de Missão “Recuperar Portugal”.
De acordo com o responsável, a escassez de mão de obra e necessidade de recorrer a recursos humanos de outras geografias deve-se a medidas que foram tomadas no passado, em que devido aos “baixos salários” assistiu-se a “uma fuga de pessoas qualificadas do setor que agora fazem falta”. “Mas estamos a tempo de fazer formação e capacitação dos fundos existentes exatamente para colmatar essas deficiências e necessidades, por isso temos de os aproveitar”, revelou.
"Não podemos procrastinar, não podemos andar sistematicamente a fazer diagnósticos, em que todos estamos de acordo, em que há grandes projetos [em vista] e depois… ficamos sentados à espera que as coisas aconteçam por si"
António Mendonça, bastonário da Ordem dos Economistas
Assinando por baixo do que foi dito, António Mendonça, bastonário da Ordem dos Economistas, tocou noutro problema há muito identificado em Portugal, a falta de ação. “Não podemos procrastinar, não podemos andar sistematicamente a fazer diagnósticos, em que todos estamos de acordo, em que há grandes projetos [em vista] e depois… ficamos sentados à espera que as coisas aconteçam por si. A sensação que tenho é que estamos sucessivamente a repetir e a discutir as mesmas coisas”, lamentou.
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