Paulo Macedo e Carlos Mota Santos alertam para a necessidade de aumentar a oferta e apontam soluções para curto e longo prazos.
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Construção de casas em Portugal
Paulo Macedo, CEO da CGD, e Carlos Mota Santos, presidente da Mota-Engil Créditos: Gonçalo Lopes | idealista/news

A necessidade de o setor da construção ganhar escala e/ou dimensão e de se apostar na industrialização e pré-fabricação esteve em cima da mesa num debate que juntou Paulo Macedo, CEO da CGD, e Carlos Mota Santos, presidente da Mota-Engil. E uma das conclusões que salta à vista é a de que o país precisa de aumentar a oferta de casas “agora”, não daqui a alguns anos. Casas essas que possam ajudar a dar resposta à crise na habitação na qual se encontra o país e, também, acomodar os emigrantes necessários para fazer face à necessidade de mão de obra existente. 

“A partir de agora, desde que se respeite o PDM é possível fazer uma forte conversão de escritórios e de espaços comerciais em habitação. Isso seria uma resposta mais rápida. Não precisamos de habitação daqui a cinco ou sete anos, precisamos agora”, disse Paulo Macedo durante a sua intervenção na conferência “Portugal 2030: Futuro Estratégico para o Setor da Construção", organizada pela Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN) e realizada em Lisboa esta segunda-feira (18 de fevereiro de 2025).

"Não precisamos de habitação daqui a cinco ou sete anos, precisamos agora"
Paulo Macedo, CEO da CGD

Segundo o CEO do maior banco em Portugal, dando-se estabilidade ao mercado de arrendamento chegariam ao mercado milhares de casas que seriam colocadas. “Não só temos de falar de habitação para os jovens como também para os emigrantes, as pessoas [que chegam ao país] têm de viver em algum lado. Esta pressão não vai desanuviar tão depressa”, afirmou, salientando que, “por outro lado, é preciso o efeito escala”, porque o país “de um número avassalador de habitação”. 

“Isto não é para amanhã, precisamos de medidas [para a promoção e construção de habitação] para ontem”, referiu, por seu turno, Carlos Mota Santos.  

Sublinhando que “é importante ganhar dimensão no setor”, o CEO da maior construtora do país deixou um aviso: “As empresas têm de aproveitar esta onde de investimento para terem um balanço mais saudável, capaz para enfrentar o desafio da internacionalização. E por outro lado têm de ganhar escala, devia haver movimentos de fusão no setor. Haver uma estratégia de internacionalização, que seja aquilo que não fizemos há 15 anos, que até acelerou o processo de desaparecimento de empresas”. 

"As empresas têm de aproveitar esta onde de investimento para terem um balanço mais saudável, capaz para enfrentar o desafio da internacionalização. E por outro lado têm de ganhar escala, devia haver movimentos de fusão no setor"
Carlos Mota Soares, presidente da Mota-Engil

O responsável considerou que continua a haver em Portugal uma “visão muito individualista”, ao contrário do que acontece em Espanha, sendo preciso “crescer por fusão”, com as empresas a “terem capacidade de se juntarem e fazerem sinergias e transformarem-se em empresas maiores”. E como isto não aconteceu, muitas dessas empresas desapareceram e houve fuga de recursos humanos, alertou, apontando o dedo, também, ao grande desinvestimento que houve no setor na formação. 

Carlos Mota Santos
Carlos Mota Santos, presidente da Mota-Engil Créditos: Gonçalo Lopes | idealista/news

Industrialização da construção como regra

Previsibilidade é palavra de ordem, sustentaram os gestores, apontado o dedo às constantes alterações legislativas. E centraram atenções na industrialização, na necessidade de olhar para o setor da construção de outra forma.   

“O reforço da industrialização é um dos eixos que se deve fomentar. A industrialização, a repetibilidade dos elementos e a pré-fabricação tem de ser uma aposta para todo o tipo de infraestruturas. No caso da habitação a custos controlados, se houver uma ‘standardização’ entre três ou quatro tipo de projetos, as empresas depois terão uma capacidade de resposta muito maior, mas não é isso que existe”, lamentou Carlos Mota Soares, apelando à urgência de “haver uma simplificação muito grande no licenciamento municipal”. 

E vai mais longe no raciocínio, sublinhado que muitos concursos públicos têm vindo a ficar desertos em termos de concessões porque há um grande risco para os privados, que tem de estar associado aos municípios. “Os concursos têm de ter maior dimensão. Se estivermos a falar de concursos de 50 a 100 fogos é uma coisa, se for concursos de 600 a 1.000 fogos é outra”, acrescentou.

Paulo Macedo
Paulo Macedo, CEO da CGD Créditos: Gonçalo Lopes | idealista/news

Crédito habitação na CGD: 70% é para casas usadas  

Paulo Macedo aproveitou a ocasião para revelar alguns números relacionados com a concessão de crédito habitação e a empresas do setor da construção por parte da CGD. Eis alguns dos dados divulgados pelo CEO do banco público. 

  • No setor residencial, assistimos ao início de uma maior oferta de construção nova, mas no balanço da CGD cerca de 70% do financiamento é para casas usadas;
  • O financiamento na parte residencial nunca tem faltado na CGD. O valor médio é de cerca de 170.000 euros, ou seja, é um montante baixo. Na banca em geral, o financiamento médio é de cerca de 66.000 euros; 
  • No ano passado, a CGD financiou 4.100 milhões de euros à habitação, foi o melhor ano de sempre, e penso que o da banca em geral também terá sido. Mas há que ter em conta que o financiamento é para habitação nova, usada e também transferências de crédito;
  • No financiamento privado à construção, depois de uma redução a seguir à crise financeira, está agora a crescer. Fizemos no ano passado quase mil milhões de financiamento à construção e gostaríamos de atingir esse valor também este ano;
  • Entre habitação e construção, temos cerca de 26.000 milhões de euros de crédito, nenhum banco em Portugal tem este valor. 

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