
O Banco de Portugal (BdP) rejeitou na sexta-feira, dia 24 de junho, a perspetiva de aumento significativo do incumprimento no crédito habitação, com subida das taxas de juro, mas apontou a degradação das condições económicas das famílias como um dos riscos para a estabilidade financeira.
Esta posição foi transmitida pelo governador do BdP, Mário Centeno, em conferência de imprensa, no Museu do Dinheiro, em Lisboa, a propósito da divulgação do relatório semestral de Estabilidade Financeira.
Questionado sobre se espera um aumento do incumprimento das famílias no crédito habitação, devido ao aumento das taxas de juro, uma vez que a maioria daquele tipo de crédito em Portugal é contratualizado com taxas variáveis, Mário Centeno disse que “a resposta breve é não”.
“As questões de incumprimento, em especial de crédito à habitação estão muito relacionadas com o mercado de trabalho e o mercado de trabalho tem demonstrado uma capacidade de resiliência que poucos antecipavam”, justificou o responsável.
Mário Centeno acrescentou ainda que as projeções para a economia portuguesa “mostram uma evolução compatível com resiliência do mercado de trabalho, o que é muito positivo”.
No relatório publicado na sexta-feira, o banco central alertou para o risco de uma degradação das condições económicas das famílias, devido à “redução do rendimento disponível real devido à inflação e o efeito do aumento das taxas de juro sobre o serviço de dívida, aos quais acresce a incerteza relativa à evolução da atividade económica e do emprego.”
O governador do BdP disse não ignorar que a normalização da política monetária, iniciada pelo Banco Central Europeu em dezembro de 2021, envolve um ciclo de subida de taxas de juro, “porque taxas de juro muito negativas não constituíam um ambiente favorável ao crescimento da economia e à estabilidade financeira, em particular se se perpetuasse durante um tempo longo”, apontando, porém, que é preciso garantir que existem “os instrumentos suficientes para suportar esta inversão no ciclo da política monetária”.
Outro fator apontado pelo regulador que coloca em risco para a estabilidade financeira do país é ainda “uma redução dos preços no mercado imobiliário residencial, decorrente de alterações nas condições de financiamento”.

Incumprimento das empresas é dos principais riscos para estabilidade financeira
O BdP destacou ainda que o aumento da probabilidade de incumprimento das empresas, devido ao enquadramento macroeconómico com pressões inflacionistas, como um dos principais riscos para a estabilidade financeira.
De acordo com o Relatório de Estabilidade Financeira, divulgado pelo regulador da banca, um dos principais riscos para a estabilidade financeira prende-se com o “aumento da probabilidade de incumprimento das empresas, refletindo o efeito conjunto da vulnerabilidade financeira de algumas empresas, da recuperação incompleta da atividade e da rendibilidade de alguns setores no pós-pandemia, bem como o enquadramento macroeconómico e financeiro atual”.

A instituição liderada por Mário Centeno o risco de o “rácio de dívida das administrações públicas em percentagem do PIB [Produto Interno Bruto] não prosseguir a trajetória de redução prevista, derivado da incerteza sobre a atividade económica e do aumento dos custos de financiamento”.
Relativamente ao aumento das taxas de juro, nos próximos anos, tal deverá traduzir-se numa “melhoria da margem financeira dos bancos e num aumento do reconhecimento de imparidades e de perdas potenciais decorrentes da desvalorização dos títulos de dívida a justo valor”.
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