Inflação e mudanças no crédito habitação esmagam salários dos portugueses. Estes são os rendimentos necessários para comprar casa.
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Pagar o crédito habitação
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Comprar casa está cada vez menos ao alcance das famílias portuguesas. Primeiro, os preços das casas estão a subir a pique e os salários não acompanham esta evolução. Segundo, o crédito habitação está a ficar mais caro à medida que as taxas Euribor sobem. E, como se não bastasse, a inflação que se está a sentir no país – que atingiu os 8,7% em junho – está a esmagar ainda mais os orçamentos familiares.

Qual é o resultado deste cenário? Os rendimentos reais das famílias não chegam para pagar os encargos anuais com o crédito habitação. E esta é uma realidade sentida na cidade de Lisboa, onde o rendimento familiar real é 83,1% inferior ao necessário para pagar o crédito habitação, segundo os cálculos do idealista. No Porto, esta diferença é de -13,6%.

A compra de uma casa é uma decisão para a vida. E neste processo há muitos fatores a ter em conta, como é o caso do preço da casa a adquirir e as poupanças disponíveis para pagar impostos e dar de entrada no empréstimo habitação. Também é importante medir a taxa de esforço para pagar o crédito habitação e calcular os rendimentos anuais necessários para pagar as prestações da casa, de forma a garantir a saúde financeira familiar.

Com as mudanças sentidas no crédito habitação, também importa olhar com atenção para os novos prazos de pagamento do empréstimo consoante as idades dos titulares e as opções de taxas de juro existentes:

  • Taxa de juro variável: os juros vão variar consoante a Euribor contratada (a 3, 6 ou 12 meses). De notar que, hoje, as taxas Euribor estão a subir para todos os prazos e vão aumentar as prestações da casa;
  • Taxa de juro mista: neste caso, as famílias podem fixar os juros por um determinado período e, depois, ficarão com uma taxa de juro variável;
  • Taxa de juro fixa: neste caso os juros contratados no início do crédito habitação não mexem desde o início ao fim do contrato, pelo que a família pagará sempre o mesmo valor de prestação.

Em Portugal, a maioria dos créditos habitação são de taxa variável. Mas com as flutuações da Euribor que se têm feito sentir – a Euribor a 12 meses está próxima de 1% em junho e a Euribor a 6 meses está positiva – e as previsões em alta para o futuro, já há famílias a procurar taxas de juro fixas, uma vez que lhes dá uma maior segurança e tranquilidade no pagamento do crédito, mesmo que pese mais no orçamento. Por isso mesmo, há também vários bancos a apontar a taxa fixa do crédito habitação como refúgio financeiro para as famílias.

Como pagar o crédito habitação
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Comprar casa nas capitais de distrito: quais rendimentos necessários para pagar o crédito habitação?

Com os preços das casas a subir a pique e as condições do crédito habitação a apertar, comprar casa está cada vez menos ao alcance das famílias portuguesas, sobretudo nos grandes centros urbanos. Esta é uma conclusão a retirar do estudo do idealista que procurou perceber como é que as famílias estão a pagar os seus créditos habitação tendo em conta os preços medianos da casa no primeiro trimestre, os rendimentos reais e os rendimentos mínimos necessários para comprar uma casa.

De notar que para calcular os rendimentos necessários (em teoria) foi tido em conta um crédito habitação com TAN (Taxa Anual Nominal) a 1,19% e com prazo de pagamento de 30 anos, ao qual foi dado 20% de entrada. E também foi considerado o desconto de negociação por zonas e uma taxa de esforço de 30% para os gastos com a casa.

E quais são os resultados? É em Lisboa que comprar uma casa com crédito habitação é mais difícil. Aqui o preço mediano das casas no trimestre passado foi de 490.000 euros, segundo os dados do idealista/data. E, contas feitas, é nesta capital de distrito que o fosso entre o rendimento familiar real (28.575 euros/ano) e o necessário (52.231 euros/ano) para comprar casa é maior – trata-se de uma diferença de 83,1%.

Logo a seguir está a capital madeirense, o Funchal: nesta cidade, o preço das casas em termos medianos situou-se nos 350.000 euros. E os rendimentos reais (24.741 euros/ano) são 49,4% inferiores aos salários necessários para comprar casa com empréstimo bancário (36.968 euros/ano). Em terceiro está Viseu, uma capital de distrito onde adquirir casa custa 235.000 euros e as famílias têm, em termos reais, menos 40,3% de rendimentos (17.676 euros/ano) face aos necessários (24.796 euros/ano).

Contam-se um total de 10 capitais de distrito – incluindo o Funchal e Ponta Delgada, das ilhas - onde os rendimentos reais das famílias não chegam para comprar uma casa com recurso ao crédito habitação, já que são inferiores aos rendimentos mínimos necessários calculados pelo idealista. São eles: Lisboa, Funchal, Viseu, Faro, Ponta Delgada, Braga, Porto, Coimbra, Aveiro e Leiria.

Mas em outras 10 cidades observa-se que os rendimentos reais dos portugueses chegam para comprar a casa aos preços medianos do mercado. Em Portalegre é onde há maior folga orçamental (56,1%): para comprar uma casa de 75.000 euros (valor mediano), as famílias dispõem de 17.357 euros, enquanto o rendimento necessário é de 7.612 euros. Também em Bragança e em Castelo Branco os rendimentos reais são 36,9% e 29,7% superiores aos rendimentos mínimos necessários para comprar casa, respetivamente.

Estes cálculos são relevantes na hora de escolher a casa para comprar, até porque importa garantir que há margem financeira no orçamento familiar. “É importante termos noção que podem ocorrer diversas situações com impacto no conforto que temos hoje, sejam elas o aumento de taxas de juro, perdas de emprego ou despesas saúde. Desta forma, na hora de definir o encargo a assumir mensalmente devemos procurar ter margem para esses imprevistos, de modo a não sermos surpreendidos”, aconselha Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal.

Rendimentos para comprar casa
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Comprar casa no distrito: preços medianos descem

Olhando para a realidade ao nível distrital, verifica-se que os fossos entre os rendimentos reais e mínimos necessários são menores que nas capitais de distrito. E, regra geral, os preços das casas, em termos medianos, também são inferiores.

Nesta análise, Lisboa é o distrito em que se observa um maior desequilíbrio, já que os rendimentos médios anuais (27.085 euros/ano) para adquirir uma casa com um preço de 350.000 euros continuam a ser 38,7% inferiores face aos rendimentos necessários (37.570 euros/ano). A ilha da Madeira aparece em segundo lugar: aqui as famílias dispõem de 23.439 euros/ano para pagar uma casa de 300.500 euros e, na verdade, precisavam de 31.892 euros/ano. O que quer dizer que há uma diferença entre rendimentos de -36,1%.

Também em Faro (-29,2%), Porto (-16,8%), Braga (-10,2%), Viseu (-5,4%), Leiria (-2,8%) e Aveiro (-1,8%) há desequilíbrios entre os rendimentos reais e os mínimos necessários para adquirir uma habitação de preço mediano do mercado no primeiro trimestre.

Por outro lado, a maioria dos distritos apresenta um nível de rendimentos reais mais equilibrado. Em Portalegre, as famílias possuem 17.812 euros por ano para pagar a casa e o rendimento mínimo necessário é de apenas 7.917 euros, o que lhes dá uma folga de 55,6%. Também na Guarda (53,3%), Beja (50,8%) e Évora (47,9%) os rendimentos reais das famílias superam e muito os necessários para adquirir casa com recurso a crédito habitação.

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