
Os alertas sucedem-se, mas parecem não convencer os britânicos. As últimas sondagens, a pouco mais de duas semanas do referendo, dão como certa uma vitória do ‘Brexit’, abrindo portas para que o Reino Unido abandone a União Europeia (UE). Uma situação que está a deixar os principais responsáveis europeus e muitos empresários e investidores à beira de um ataque de nervos.
O mercado imobiliário português pode ser uma exceção a essa regra: o Reino Unido até pode deixar a União Europeia, mas os britânicos, que historicamente estão entre os principais investidores internacionais no mercado imobiliário nacional, irão continuar a olhar para Portugal da mesma forma. “O mercado inglês esteve muitos anos a investir no mercado nacional antes de Portugal fazer parte da UE e isso nunca foi um problema”, lembra Pedro Fontainhas ao idealista/news.
Ou seja, resume o diretor executivo da APR – Associação Portuguesa de Resorts, lembrando que o Reino Unido nunca fez parte da Zona Euro ou do espaço Schengen, “não é credível que, no caso de saíram da UE, passe a ser mais difícil para um cidadão britânico ter residência ou investir noutro país da UE”.
E qual será o efeito de uma libra mais fraca nos investimentos em Portugal?
Já o presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), também em declarações ao idealista/news, reconhece que, a existir, o impacto será “ligeiro, não muito acentuado”. Luís Lima diz que o mesmo “se sentirá mais face a uma eventual desvalorização da libra”, um dos cenários que se poderá colocar com o ‘Brexit’, conforme já foi antecipado pelo Banco de Inglaterra.
Mas, mesmo com uma libra mais fraca, “o poder de compra dos britânicos em Portugal será sempre superior” – já que em Portugal se praticam “preços genericamente mais baixos” –, pelo que não é esperar que os ingleses abandonem os ativos que detêm no país. E ainda que se assista a um decréscimo do investimento no mercado residencial, Luís Lima defende que o mesmo “não será representativo”.
É neste ponto que as posições de Luís Lima e de Pedro Fontainhas se dividem. O executivo da APR acredita que perante uma eventual desvalorização da libra face ao euro fará com que as casas em Portugal passem a ser mais caras para o poder de compra inglês e “isso, obviamente teria impacto no mercado”.
Mas se as características do típico investidor britânico em Portugal podem afastar maiores inquietações, a interdependência dos mercados não permite a alguns dos principais players dormir totalmente descansados.
É o caso de Fernando Ferreira, diretor de investimento da consultora imobiliária JLL, para quem o segundo semestre de 2016 “está muito condicionado pelo acontecer no referendo” de 23 de Junho. “Sempre que existe um clima de incerteza na UE isso tem um impacto direto na atividade porque aumenta a insegurança dos investidores que tendem a refugiar-se noutros mercados, mercados mais core”, aponta o responsável ao idealista/news. E Portugal não faz parte da lista, que na Europa inclui a França ou a Alemanha.
O país das segundas casas
Tipicamente os investidores britânicos em Portugal são reformados que procuram o país para segunda residência e estes pouco devem mudar as suas intenções de investimento, acredita Luís Lima. “Os ingleses são habituais investidores no imobiliário português, particularmente na região do Algarve, e este é um investimento que é já tradicional, especialmente por aposentados que procuram o nosso país pelo seu clima, gastronomia, segurança e estabilidade”.
Mas estabilidade é palavra chave em qualquer estratégia de investimento. E aí Portugal poderá vir a sofrer efeitos colaterais, diz o diretor de investimento da JLL, recordando o peso do Reino Unido “em tudo o que se passa na UE”. “Os impactos da saída do ‘Brexit’ podem ter efeitos colaterais naquilo que é o modus operandi da UE e dos investidores que queiram investir na Europa e que face à incerteza podem refugiar-se na Alemanha ou em França em detrimento de investirem em Portugal”, refere.
Ou seja, se em momentos de estabilidade os investidores olham para Portugal, “um mercado com rendimentos mais elevados”, em momentos de incerteza os mesmos “investidores tendem a investir em mercados mais maduros, mesmo que para isso tenham que comprometer as suas rentabilidades”.
Ingleses pesam menos no mercado português
A verdade é que a posição dos ingleses no mercado imobiliário português já está a mudar. Os britânicos lideraram, até 2015, a tabela dos maiores investidores, mas essa posição alterou-se com a chegada de 2016. Pela primeira vez, os investidores franceses lideraram o mercado, ultrapassando os britânicos que historicamente são os maiores investidores no mercado português.
“Atualmente, o investimento britânico representa 19% do total de investimento estrangeiro no país, centrando-se este investimento maioritariamente no segmento habitacional e na região do Algarve”, esclarece Luís Lima.
De acordo com dados da Sotheby’s, citados pelo Negócios, em média os britânicos apostam mais de um milhão de euros na compra de um imóvel de luxo em Portugal, ao passo que no caso dos compradores galeses o target médio de compra tende a não ultrapassar os 800.000 euros.
Os números do primeiro trimestre de 2006 apontados pela APEMIP mostram que os franceses respondem por 26% do investimento, valor a que não serão alheias as vantagens associadas ao regime fiscal dos residentes temporários, das quais os franceses tendem a tirar maior partido do que os restantes congéneres europeus.
Uma inversão de tendência que “poderia compensar” no caso de haver uma fuga de investidores britânicos, como reconhece Pedro Fontainhas, voltando a frisar que “não estamos a antecipar uma descida significativa da procura dos ingleses”.
De acordo com dados da Sotheby’s, citados pelo Negócios, em média os britânicos continuam a ser quem mais procura casas de luxo em Portugal, investindo mais de um milhão de euros na compra de um imóvel de luxo em Portugal, ao passo que no caso dos compradores galeses o target médio de compra tende a não ultrapassar os 800.000 euros.
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