A Olimpo Real Estate Portugal é a SIGI lançada, em conjunto, pela Sonae Sierra e o Bankinter. Cada ação vai entrar na Euronext Access Lisboa a valer quatro euros.
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Primeira sociedade de investimento imobiliário estreia-se na bolsa portuguesa amanhã
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A Sonae Sierra e o Bankinter juntaram-se, no final do ano passado, para lançar uma Sociedade de Investimento e Gestão Imobiliária (SIGI) no país, tal como revelou o idealista/news em primeira mão. O regime das SIGI obriga a que o veículo entre em bolsa até um ano após ser constituído, mas a Olimpo Real Estate Portugal (Ores) decidiu avançar já com o processo e vai ser admitida à cotação na Euronext Access Lisboa. A estreia na bolsa portuguesa está marcada para amanhã, dia 24 de junho de 2020, em plena pandemia da Covid-19.

O capital da SIGIa primeira a cotar na bolsa portuguesa - é detido atualmente pelo Bankinter (12%) e pela Sonae Sierra (5,14%), estando os restantes 82,86% distribuídos por pequenos acionistas. Com a admissão à cotação na Euronext Access, “qualquer investidor poderá a partir de agora adquirir ações da Ores Portugal e ter acesso a um instrumento alternativo para os seus investimentos”, tal como é explicado num comunicado emitido pelas duas empresas.

Aposta dos investidores em plena crise

Isabel Ucha, CEO da Euronext Lisbon, considera que a admissão “demonstra o contínuo compromisso e confiança dos parceiros na economia portuguesa”, sublinhando esperar que “permita à empresa aplicar a sua estratégia de investimento em Portugal, inovando e expandindo o seu negócio”. Segundo a Euronext, serão admitidas à negociação 12.550.000 ações de valor nominal de 4 euros cada, sendo que a empresa tem ativos no valor de 50,05 milhões de euros.

A Ores é primeira SIGI criada em Portugal, replicando a experiência desenvolvida em Espanha através da Olimpo Real Estate SOCIMI, igualmente patrocinada e gerida pelo Bankinter e pela Sonae Sierra. Neste momento, após a constituição e o aumento de capital da sociedade, a Ores Portugal já identificou vários ativos imobiliários que poderão fazer parte do seu portefólio de investimento no curto prazo.

Para Alberto Ramos, CEO do Bankinter Portugal, “a entrada da Ores em Bolsa demonstra que o Bankinter continua a disponibilizar em Portugal serviços e instrumentos financeiros inovadores, alargando o leque de opções de investimento disponíveis para os nossos clientes e para o público em geral. Esta operação, pioneira em Portugal, reafirma também o nosso compromisso com o desenvolvimento económico em Portugal e representa um contributo importante para a dinamização de um dos seus setores mais relevantes”.

Uma opinião partilhada por Alexandre Fernandes, Head of Asset Management da Sonae Sierra, para quem “a criação da primeira SIGI em Portugal e a sua subsequente entrada em Bolsa são passos muito importantes para a Sonae Sierra”,  enquadrando-se na estratégia de aumento de exposição a novos veículos de investimento imobiliário. “Ficamos muito satisfeitos com esta iniciativa e com a parceria estratégica com o Bankinter, que vai certamente permitir dinamizar o mercado de capitais e o mercado de investimento imobiliário português”, remata.

Outras empresas do imobiliário com a bolsa de Lisboa na mira

Também a Merlin Properties, a maior empresa imobiliária cotada em Espanha e que começou a negociar na Bolsa de Valores de Lisboa em janeiro com a fórmula de listagem dupla ('dual-listing'), também pretende operar em Portugal como socimi - à semelhança do país vizinho. "Mas para isso esperamos um aperfeiçoamento legal e regulamentar do regime das SIGI e que seja criado um passaporte comunitário", segundo indicou ao idealista/news o CEO da empresa espanhola, Ismael Clemente, no início deste ano - antes de rebentar a pandemia.

A VIC Properties é outra das empresas imobiliárias interessadas em estar cotada na bolsa de Lisboa, estando para isso a aguardar o melhor momento para dar início ao processo, tal como confirmou Luís Gamboa, COO da promotora em entrevista ao idealista/news.

Criação das SIGI em Portugal marcada por sucessivos avanços e recuos

A SIGI são a versão lusa dos REIT (Real Estate Investment Trusts), um instrumento financeiro que existia ”lá fora” e que veio criar uma nova e atrativa oportunidade de investimento no mercado nacional. Mas a chegada ao país foi conturbada e marcada por vários avanços e recuos, nomeadamente no que diz respeito à versão final do diploma aprovado no Parlamento.

Reclamado há anos pelos investidores nacionais e estrangeiros, o modelo inicial das SIGI, criado pelo Governo no início de 2019, mereceu forte oposição política. Depois de meses de discussão, e até pedidos de cessação desta iniciativa legislativa por parte dos partidos mais à esquerda (BE e PCP), os deputados do PS e da direita (PSD e CDS-PPP) acabaram por viabilizar as SIGI, aprovando o diploma, mas com alterações.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, acabou por dar luz verde às alterações aprovadas em julho pelos deputados no Parlamento, já em agosto, ficando decidido, entre outras coisas, que estas sociedades deveriam ter como atividade principal a aquisição de imóveis para arrendamento, ou seja, destinar pelo menos 75% dos ativos em carteira a esta atividade. O diploma foi, finalmente, publicado em Diário da República, em setembro.

Na prática, os deputados aprovaram uma alteração à redação inicial do diploma, que previa que as SIGI tivessem como atividade principal a aquisição de imóveis para arrendamento ou outras formas de exploração económica – e que deixava a porta aberta a estas sociedades para investir em outras atividades, como promoção imobiliária ou reabilitação, por exemplo. Na versão final do diploma desapareceu a possibilidade de participarem em "outras formas de exploração económica“, o grande motivo da discórdia à volta do regime.

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