
O imobiliário deu provas da sua força e resiliência durante a crise pandémica. E, neste período, houve segmentos de mercado que floresceram, como é o caso do Multifamily. Construir casas de raiz para arrendar ganhou força na Europa e atingiu os 92,3 mil milhões de euros investidos em 2021, um valor 79% superior ao registado em 2020 e 120% maior que a média dos últimos cinco anos. A emergência de novos padrões da procura de casa moldados pela pandemia é um dos motores que explica esta mudança no espaço europeu. E pode ser também a força motriz para acelerar a aposta neste segmento em Portugal.
Na Europa, o investimento no segmento Multifamily - isto é, construir um edífico com várias casas para, depois, colocá-las no mercado de arredamento - disparou durante o ano passado. Este segmento atingiu uma quota de mercado de 54% na Dinamarca, de 46% na Alemanha, 39% na Irlanda, 35% na Suécia e 32% na Finlândia, tendo superado os investimentos no segmento de escritórios, tradicionalmente no topo da lista de investimentos imobiliários, refere a Savills em comunicado enviado às redações.
“As alocações globais de capital para o mercado imobiliário europeu, em particular para o segmento Multifamily, estão a crescer, devido a fortes fundamentos de mercado e a baixas taxas de juro”, explica Marcus Roberts, Head of Operational Capital Markets da Savills. Esta corrida ao Multifamily pela Europa acabou por aumentar a concorrência no segmento e pressionar as yields.
Investir em Multifamily tem potencial para crescer em Portugal
O interesse pelo desenvolvimento de projetos Multifamily em Portugal é recente, mas neste momento “formou-se a tempestade perfeita” para dar gás a este segmento no país, considera Alexandra Gomes, Head of Research da Savills Portugal. “Estão reunidos todos os fundamentos e pressupostos que justificam o potencial de desenvolvimento deste segmento no nosso mercado: mercado de crédito hipotecário cada vez mais inacessível às famílias portuguesas, subida das taxas de juro e um mercado de oferta de arrendamento muito escassa e de fraca qualidade face aos valores de renda praticados”, explica Alexandra Gomes.
E vai ainda mais longe: “São necessárias soluções urgentes, que não só venham modernizar o stock de edifícios residenciais, como também consigam responder às necessidades reais dos novos perfis de ocupantes”, que mudaram com a pandemia, disse ainda a responsável.
A quem se vai destinar este segmento? “É expectável que o build-to-rent em Portugal atraia maioritariamente jovens profissionais e casais, tanto locais como estrangeiros, que valorizem conveniência na forma de contratos flexíveis e menos burocracia, e, em alguns casos, preços mais económicos em edifícios bem localizados”, acrescenta Horacio Blum, Operational Capital Markets Associate Director, da Savills Portugal.
As oportunidades estão onde há uma forte procura de casas no país, nomeadamente nas grandes áreas urbanas de Lisboa e do Porto, assim como nas suas áreas semiperiféricas. “Estas localizações oferecem oportunidades de desenvolvimento do mercado de BTR, desde que contem com acessibilidade a redes de transportes públicos e que o tamanho das unidades se possa adequar da melhor maneira a este modelo residencial”, admite ainda Horacio Blum.

Quais os desafios do Multifamily para o futuro?
Para 2022 e para o futuro próximo são vários os desafios que os investidores do segmento Multifamily vão enfrentar, de acordo com a Savills:
- Identificar ativos estabilizados à medida que surgem mais oportunidades para novos desenvolvimentos e contratos de financiamento a prazo;
- Escassez de mão-de-obra, aumento dos custos de construção e disrupções nas cadeias de fornecimento poderão provocar uma desaceleração de novos projetos;
- Aumento da procura por ativos lucrativos, o que levará a um aumento correspondente dos preços. “Esta subida deverá ser mais notória em mercados cuja oferta residencial para arrendamento não consiga acompanhar uma procura em crescendo”, esclarecem.
“Um dos riscos em crescimento no setor do Multifamily é o endurecimento do contexto regulatório, que tem como objetivo proteger os ocupantes face ao aumento das rendas”, alerta Eri Mitsostergiou, diretora de European Research da Savills. “Embora estas medidas limitem as perspetivas de aumento das rendas, dão maior segurança aos arrendatários, e, assim, reduzem o risco de uma rotação frequente de inquilinos e adaptam-se melhor a estratégias core de investimento”, conclui.
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