Garantia dada por Paulo Caiado, novo presidente da APEMIP, em entrevista ao idealista/news.
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Paulo Caiado assumiu a presidência da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP) em maio de 2021, depois de Luís Lima se ter demitido do cargo. Em entrevista ao idealista/news, realizada durante o Salão Imobiliário de Portugal (SIL), revela que está a ser feito um corte com o passado. “Até aqui, os destinos da APEMIP eram conduzidos num regime, num modelo, muito unipessoal, muito presidencialista”, afirma, salientando que se vivem tempos de “renovação” e “proximidade”

“É um balanço [de atividade] positivo, surpreendente, de renovação e de espaço para conquistar uma nova dimensão de proximidade com a atividade imobiliária e com, de modo geral, os associados da APEMIP, que são cerca de dois mil”, conta Paulo Caiado.

Salientando que a atividade da mediação imobiliária está confrontada com “vários desafios”, nomeadamente “o da competitividade”, o responsável reforça a importância do papel do agente imobiliário, considerando que “é incontornável” que seja “cada vez mais conhecedor do mercado e mais profissional”. “(…) Só haverá espaço para aqueles agentes imobiliários que forem realmente bons, porque estão próximo, porque têm a capacidade de identificar o preço, de divulgar, porque se relacionam com um conjunto vasto de operadores imobiliários, porque têm uma série de recursos indispensáveis a que aquela transação se concretize com segurança. Acredito que só esses terão espaço”. 

Quando questionado sobre se os preços das casas ainda têm margem para subir, responde que sim, mas lembra que “o mercado tem grandes diferenciações em termos geográficos”. “Globalmente, os preços são resultado do fluxo de procura e fluxo oferta, e o que o mercado tem demonstrado é que há uma perspetiva de valorização dos ativos de forma consistente, estável no tempo. Acredito que é isso que vamos assistir nos próximos anos”, conclui.

"Só haverá espaço para os agentes imobiliários que forem realmente bons"
Paulo Caiado, presidente da APEMIP, no SIL 2021 idealista/news

Tomou posse como presidente da APEMIP em maio. Que balanço faz?

Não houve uma tomada de posse, houve a demissão do anterior presidente, e aquando da última eleição dos atuais órgãos sociais, para os quais eu fui eleito, no final de 2019, como vice-presidente assessor, e com base nos estatutos da APEMIP, em caso de demissão do presidente, será o vice-presidente assessor que assume as funções e passa, neste caso, para presidente da direção nacional. E foi isso que aconteceu no mandato que termina no final do próximo ano. Portanto, ainda que com um outro tipo de proximidade, acompanho os destinos e a direção da associação desde maio.

É um balanço positivo, surpreendente, de renovação e de espaço para conquistar uma nova dimensão de proximidade com a atividade imobiliária e com, de modo geral, os associados da APEMIP, que são cerca de dois mil. 

Falou em renovação. O que haverá de novo?

Aquilo que poderá mudar com maior significado prende-se com o seguinte: até aqui, os destinos da APEMIP eram conduzidos num regime, num modelo, muito unipessoal, muito presidencialista. Acredito que a associação, que os seus órgãos dirigentes, têm fantásticas características, muito diferentes umas das outras. Temos alguns elementos associados a diferentes modelos de negócio, com diferentes experiências, com diferentes históricos, e acredito que o contributo de todos pode ser mais importante para a generalidade dos associados. É todo o setor que beneficiará com a proximidade de um conjunto de pessoas que têm diferentes valências, experiências, que conhecem diferentes modelos. Isso permite-nos uma muito maior proximidade e eficácia e uma muito melhor representação.

Enalteceu a importância de um contributo que tem de ser dado por todos. Estamos perante uma nova “era” da APEMIP?

O todos é fundamental. Os sucessos da humanidade obtêm-se por via da cooperação e da colaboração. Não conheço nenhum feito com significado na história da humanidade que tenha sido realizado por uma pessoa. Acredito realmente que o contributo de vários é fundamental e importante numa associação e num setor extremamente competitivo, com grandes desafios, onde estão à espera que sejamos capazes não só de os enfrentar como principalmente de os superar.

"Acredito realmente que o contributo de vários é fundamental e importante numa associação e num setor extremamente competitivo, com grandes desafios (...)"

Que desafios são esses?

São vários os desafios com os quais estamos confrontados. Por um lado, temos um desafio extremamente importante, que é o da competitividade. Esta tem de nos conduzir, a nós setor, no incremento da nossa eficácia. Assistimos ao longo dos tempos, em vários setores, assentar o seu domínio competitivo no preço. Na mediação imobiliária, pode ser nas margens que são pagas aos dirigentes imobiliários, no valor dos serviços cobrados aos clientes. Espero que as entidades que integram o setor sejam suficientemente inteligentes para todos entendermos que a nossa competitividade não pode passar por aí. A nossa competitividade deve passar por nos tornarmos mais eficazes, tem de passar por conquistarmos a capacidade de cooperar e de colaborar. 

Acredito que dentro de um futuro que já começou uma pessoa vai a uma imobiliária para comprar casa. E essa imobiliária deve ter a capacidade de resolver essa pretensão. Tal como acredito que quando alguém quer vender um imóvel irá a uma imobiliária para vender o imóvel, que deverá ter a capacidade de o fazer. Isso só será real se estas empresas, se estes agentes, tiverem capacidade de cooperar, de perceber que são concorrentes, que têm diferentes características, modelos de negócio, estruturas, mas em determinados momentos há um motivo maior, que é servir um cliente, que é superar as suas expectativas, com uma grande capacidade de cooperação e de colaboração. O setor ganhará com isso.

Quando digo que um cliente vai a uma imobiliária para comprar casa, é no sentido de que quando um cliente elege um interlocutor, porque quer comprar um imóvel, deve ser totalmente secundário, quase irrelevante, para este cliente, onde é que está o imóvel. Se está na imobiliária Y ou na imobiliária Y mais W. Aquilo que é importante é que esta imobiliária conquiste a possibilidade de proporcionar a este cliente o imóvel que ele quer, independentemente de onde ele estiver. E isso só será verdade se as imobiliárias tiverem grande capacidade de cooperar e de colaborar entre si.

Comprar e vender casa em tempos de pandemia
Foto de Thirdman no Pexels

Qual é, atualmente, o papel do agente imobiliário? Mudou com a pandemia?

O agente imobiliário cada vez mais conhecedor do mercado, mais profissional, é incontornável. Nós, as pessoas, somos cada vez mais pessoas informadas, pessoas rodeadas de soluções e consequentemente mais exigentes. Portanto, nós só vamos dar espaço, só vamos contribuir para a construção de um negócio, daqueles agentes imobiliários que forem realmente capazes de corresponder e até de surpreender com as nossas expectativas.

"(...) Só haverá espaço para aqueles agentes imobiliários que forem realmente bons, porque estão próximo, porque têm a capacidade de identificar o preço, de divulgar, porque se relacionam com um conjunto vasto de operadores imobiliários, porque têm uma série de recursos indispensáveis a que aquela transação se concretize com segurança (...)"

Portanto, se por um lado é importante profissionalizar o setor, que haja algumas exigências no acesso à profissão, simultaneamente vamos ter ao lado algo que vai realmente marcar o ritmo, que são os clientes. A exigência deles não para, não vai reduzir, e só haverá espaço para aqueles agentes imobiliários que forem realmente bons, porque estão próximo, porque têm a capacidade de identificar o preço, de divulgar, porque se relacionam com um conjunto vasto de operadores imobiliários, porque têm uma série de recursos indispensáveis a que aquela transação se concretize com segurança. Acredito que só esses terão espaço. 

A formação dos próprios agentes imobiliários também é crucial, presumo?

As mediadoras, independentemente do modelo de negócio, também têm um desafio: nenhuma deverá querer converter-se numa entidade ocupacional. O nosso objetivo não é esse, é o de sermos úteis para aqueles que querem vender ou comprar um imóvel e com isso sermos remunerados por constituirmos uma solução adequada para esta necessidade. A formação é algo que tem cada vez mais de ser considerado como indispensável, faz parte do bilhete de entrada. Quem entra para esta atividade e não tem formação permanente em mercado, tecnologia, estratégias comunicacionais, marketing, vai ficar de fora.

Que impacto teve a pandemia na mediação imobiliária?

A tecnologia, o digital, o online têm o seu espaço no processo, e é um espaço importante, que a pandemia até veio acelerar. Aquilo que é fundamental é que quem está nesta atividade seja capaz de privilegiar o domínio relacional. No dispenso o meu médico para medir a tensão arterial, sei que a posso medir numa farmácia, mas gosto de a medir no meu médico, porque é com ele que me sinto bem, é nele que confio. Os agentes imobiliários têm de conquistar este espaço com as suas pessoas. A tecnologia deverá ser instrumental, se as pessoas assim forem capazes de o fazer. 

"A formação é algo que tem cada vez mais de ser considerado como indispensável, faz parte do bilhete de entrada. Quem entra para esta atividade e não tem formação permanente em mercado, tecnologia, estratégias comunicacionais, marketing, vai ficar de fora"

Os preços das casas têm vindo a subir, mesmo em tempos de pandemia. É uma tendência que se vai manter? O risco de bolha imobiliária é real?

O conceito de bolha imobiliária começou a ser usado muito associado a alguns procedimentos de entidades financeiras. Muitas das pessoas da minha geração recordam-se que há 20 anos era corrente, quando alguém recorria a um crédito hipotecário, determinada entidade financeira dizer: “Ponha lá mais um bocadinho, que dá para as férias, viagens etc”. E quando um dia, em 2010, os bancos precisaram de vender os imóveis para serem ressarcidos dos seus créditos, chegaram à conclusão que o mercado não absorvia os imóveis por aquele valor. Este é, de uma forma um pouco grosseira, o conteúdo mais associado ao tema bolha imobiliária. Não temos nada disso. Temos uma banca extremamente prudente no modo como financia o crédito hipotecário, que é muito responsável e prudente, por isso não existem riscos desse tipo. 

Relativamente ao mercado, acho que o preço dos imóveis vai continuar a subir. Claro que o mercado tem características diferenciadas em função da especificidade de determinados produtos. O mercado tem grandes diferenciações em termos geográficos: o mercado imobiliário de Boliqueime não tem grande semelhança com o do Chiado, em Lisboa. Globalmente, os preços são resultado do fluxo de procura e oferta, e o que o mercado tem demonstrado é que há uma perspetiva de valorização dos ativos de forma consistente, estável no tempo. Acredito que é isso que vamos assistir nos próximos anos.

Formação é palavra de ordem na mediação imobiliária
Foto de Kampus Production no Pexels

Muito se tem falado da dinamização do mercado de arrendamento. Qual a sua posição sobre este tema?

O Governo não tem ajudado. Quando falamos em mercado de arrendamento, prefiro falar no mercado de arrendamento de longa duração, é aquele que nos ajuda a estabelecer alguma correlação entre um valor de um imóvel e a sua rentabilidade. Digo que o Governo não tem ajudado, porque todos os anos quando se aproxima, como nesta ocasião, o Orçamento do Estado, é quase como uma passagem de modelos: qual é a moda deste ano? Este tipo de flutuação, alternância e criatividade legislativa associada à tributação imobiliária em nada ajuda ou contribui para aquilo que tradicional e logicamente este tipo de mercado anseia, que é estabilidade, que é conhecer as regras do jogo.

Que mensagem gostaria de deixar aos vários intervenientes do setor da mediação imobiliária?

É importante recorrer à mediação imobiliária, que demonstrou à sociedade que é um setor constituído por empresas muito heterogéneas, com diferentes características: demonstraram uma enorme capacidade de incorporar soluções, de se formar quando a formação não é obrigatória. E isto porque temos uma especial noção de que uma transação imobiliária não é um processo simples, é um processo que num estalar de dedos se torna complexo. Acredito que uma transação imobiliária na mediação é por norma uma transação mais segura, tranquila e eficaz.

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1 Comentários:

Virginia
22 Outubro 2021, 23:17

Bem os preços a subir!?
Que boa notícia para os estrangeiros.
Porque a realidade dos portugueses é completamente ignorada.
Cidades inteiras, como Lisboa e Porto, que são cada vez menos portuguesas, onde a nossa alma e cultura deixaram de se sentir e ver

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