Preços das casas resistem à pandemia e continuam a subir - mas pouco
Valores do INE confirmam desaceleração no valor da habitação no terceiro trimestre. Número de transações cresceu face ao segundo trimestre.

O imobiliário português continua a dar sinais de resiliência à crise pandémica, tendo voltado a registar-se uma subida nos preços das casas, no terceiro trimestre do ano - mas num movimento de desaceleração, em linha com o já registado trimestre anterior e tal como antecipou Bruxelas. Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), publicados esta terça-feira (22 de dezembro de 2020), mostram que o mercado residencial fechou o terceiro trimestre com um aumento de 7,1% face a igual período de 2019, abaixo dos 7,8% verificados no segundo trimestre de 2020.
Entre o segundo e o terceiro trimestres de 2020, os preços das casas subiram apenas 0,5%, a nível nacional, o que corresponde à taxa de crescimento homóloga mais curta dos últimos quatro anos, desde 2015 - tinha sido de 0,8% no segundo trimestre de 2020, face ao anterior. O Banco de Portugal já mostrou preocupações com a descida dos preços das casas, pelos efeitos que pode ter para o sistema financeiro e para a economia em geral.
A tendência de abrandamento no valor das casas é geral ao mercado, verificando-se tanto nas habitações usadas - que registaram uma taxa de variação dos preços de 7,4% - como na construção nova, com subida de 5,8%, em termos homólogos. Valores que, nos dois casos, ficam abaixo das taxas registadas anteriormente. Por categoria, entre o segundo e o terceiro trimestres, os preços dos alojamentos existentes aumentaram 0,6%, acima do observado nos alojamentos novos (0,1%), respetivamente.
Vendas recuperam no terceiro trimestre - sobretudo de casas novas
Por outro lado, os efeitos da Covid-19 sentem-se no número de transações, com as vendas de casas a continuarem a cair, quando comparado com o ano anterior (menos 1,5%). No entanto, segundo os dados revelados pelo INE, nota-se uma melhoria no terceiro trimestre, face ao período imediatamente antes, quando a atividade económica esteve praticamente paralisada devido ao confinamento.
No total, no terceiro trimestre de 2020 foram vendidas 45.136 casas em Portugal, mais 35% que no segundo trimestre, período quando tinha caído em flecha. "Por meses, observaram-se variações homólogas de -2,6%, 0,0% e -1,8%, respetivamente, em julho, agosto e setembro", detalha o INE, dando ainda nota de que, no trimestre em análise, observaram-se comportamentos distintos nas duas categorias de alojamentos. "Enquanto as habitações existentes apresentaram uma redução no número de transações, -3,7%, nas habitações novas observou-se um crescimento de 11,0%", informa.
Já o valor das habitações transacionadas atingiu cerca de 6,8 mil milhões de euros, dos quais 5,2 mil milhões de euros respeitaram a habitações existentes, o que representa 77,7% do total, a mais baixa percentagem observada desde o segundo trimestre de 2016. "Por comparação com o mesmo período de 2019, os valores apurados para 2020 representam aumentos de 4,4%, no caso do valor total e de 0,3% e 22,2%, no valor das habitações existentes e das habitações novas, respetivamente. Por meses, o aumento homólogo mais expressivo no valor das vendas observou-se em agosto, 7,3%, seguindo-se setembro (4,5%) e julho (2,1%)", explica o INE.
Face ao trimestre anterior, o valor das habitações transacionadas aumentou 31,2% no terceiro trimestre de 2020 (-23,8% no segundo trimestre de 2020 e 6,6% no terceiro trimestre de 2019). "O crescimento observado no valor das transações dos alojamentos novos (43,2%) superou o dos alojamentos existentes (28,2%)".
Comportamentos diferentes consoante as regiões
A grande maioria (60,9%) de alojamentos vendidos concentrou-se na Área Metropolitana de Lisboa e no Norte, o peso relativo conjunto mais baixo desde o primeiro trimestre de 2015 e expressando a nova tendência de procura de casas fora dos centros urbanos.
Em sentido contrário, o Centro foi a região com o maior aumento de peso relativo, de 1,5 pontos percentuais, representando agora 21,3% do total de vendas. O Alentejo e a Região Autónoma da Madeira, com respetivamente, 3.186 e 864 transações, "foram as demais regiões que registaram aumentos homólogos nas respetivas quotas relativas", enquanto o Algarve se manteve com a mesma quota, de 7,3%, e os Açores registaram uma queda ligeira.
Entre julho e setembro de 2020, o valor das transações na Área Metropolitana de Lisboa (AML) foi aproximadamente 2,9 mil milhões de euros. Este montante correspondeu a 43,4% do total e caiu: menos 3,2 p.p. no respetivo peso relativo regional em relação ao período homólogo. Seguiram-se, a região Norte com um total aproximado de 1,7 mil milhões de euros e o Centro com 934 milhões de euros.
"Estes montantes representaram, em ambas as regiões, um incremento nos respetivos pesos relativos regionais, 1,0 p.p. e 0,6 p.p., respetivamente. No Algarve as transações totalizaram aproximadamente 720 milhões de euros, 10,7% do total, mais 0,9 p.p. em termos de quota relativa regional. O peso relativo do Alentejo aumentou 0,5 p.p., fixando-se nos 4,5%. As transações realizadas na Região Autónoma dos Açores e na Região Autónoma da Madeira representaram 1,1% e 1,9%, respetivamente, do valor total", indica ainda o INE.