Jorge Branco, presidente da Associação Portuguesa de Construção em Madeira e Derivados (APCMD), fala ao idealista/news sobre a atividade da instituição.
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“A falta de formação é o maior entrave ao crescimento do setor da construção em madeira”
Associação Portuguesa de Construção em Madeira e Derivados

“A missão da Associação Portuguesa de Construção em Madeira e Derivados (APCMD) é simples: promover e divulgar o setor da construção em madeira e seus derivados”, conta ao idealista/news Jorge Branco, presidente da instituição, nascida em 2017. Segundo o (também) professor auxiliar no Departamento de Engenharia Civil da Universidade do Minho, “a falta de conhecimento, de formação na área, é o maior entrave ao crescimento do setor da construção em madeira”. 

Jorge Branco considera, no entanto, que tem havido uma “evolução enorme” neste segmento (construções de madeira) em Portugal nos últimos anos, isto apesar do país continuar “muito atrás da realidade europeia”.

Salientanto que, “de forma geral, já se constrói bem em madeira em Portugal”, o especialista nos domínios das estruturas de madeira adianta que “moradias unifamiliares são ainda o principal mercado da construção em madeira”. “A procura sempre foi forte e continua a crescer”, argumenta.

“A falta de formação é o maior entrave ao crescimento do setor da construção em madeira”
Associação Portuguesa de Construção em Madeira e Derivados

Fale-nos um pouco sobre a APCMD? Quando nasceu e qual a sua função/missão?

A APCMD nasceu em 2017 como resultado de um entendimento geral das empresas mais representativas do setor da construção em madeira de que havia um espaço representativo por preencher. A missão é simples: promover e divulgar o setor da construção em madeira e seus derivados.

A APCMD pretende reunir em si todos aqueles que se interessam pela construção em madeira e seus derivados, como projetistas, engenheiros, arquitetos, diretores de obra, construtores, fabricantes, produtores, industriais, consultores etc. É um leque alargado de “especialidades”, certo? Que “aceitação”/feedback tem tido do mercado e dos vários ‘players’ do setor?

Sim, é verdade, porque não queremos excluir ninguém. Todo aquele que tem interesse na promoção e divulgação do setor da construção em madeira é bem-vindo. A aceitação tem sido satisfatória. Sou exigente por natureza e claro, gostaria de ter mais associados. Mas as empresas mais representativas desta atividade em Portugal são nossas associadas. E temos tido muita aceitação nas comunidades académicas e profissionais. As nossas atividades têm tido muita participação de alunos do ensino universitário, sejam de arquitetura ou de engenharia, e as ordens profissionais (de Arquitetura e Engenharia) têm sido nossos parceiras em muitas das nossas atividades.

Como tem evoluído este segmento (construções de madeira) no país nos últimos anos?

A evolução é enorme. É certo que continuamos muito atrás da realidade europeia, mas quando se olha para 2001, quando iniciei nesta área, e se compara com a realidade atual, as diferenças são notórias. Existem mais empresas, o mercado é muito mais concorrencial e o público em geral já olha para as construções em madeira de outra forma. A nossa aceitação pela sociedade é agora muito mais fácil.

"A evolução neste segmento [construções de madeira] é enorme. (...) Existem mais empresas, o mercado é muito mais concorrencial e o público em geral já olha para as construções em madeira de outra forma. A nossa aceitação pela sociedade é agora muito mais fácil"

Que tipo de construções de madeira são mais realizadas em Portugal? Porquê?

As casas de madeira, moradias unifamiliares, são ainda o principal mercado da construção em madeira. Há já inúmeras construções de carácter público, piscinas, pavilhões desportivos, passadiços, etc., mas a maioria da capacidade industrial instalada em Portugal dedica-se às casas. A razão principal é o mercado. Na verdade, a procura por casas de madeira sempre foi forte e continua a crescer.

No caso concreto das casas de madeira, tem havido muita procura por este tipo de produto? Por parte de quem e em que zonas do país são mais procuradas?

Sim, como já disse, a procura por casas de madeira tem tido uma evolução sempre positiva. A maioria continua a ser uma segunda habitação pelo que as áreas rurais, longe dos centros urbanos são as localizações mais procuradas. Por outro lado, o turismo tem sido um importante impulsionador das casas em madeira. São inúmeros os empreendimentos turísticos que recorrem à madeira para construir os alojamentos, os espaços lúdicos, etc.

E a oferta tem correspondido à procura?

Penso que sim. De uma forma geral, já se constrói bem em madeira em Portugal. Também aqui, na qualidade, a evolução nos últimos anos tem sido fantástica.

"(...) A pré-fabricação é uma grande vantagem da construção em madeira. Com a pré-fabricação é possível garantir qualidade de construção, uma maior rapidez de execução, um estaleiro mais simples e mais curto em tempo, sendo uma forma muito eficaz de reduzir os custos"

Quais são as vantagens e desvantagens deste tipo de casas face à construção tradicional?

Diria a utilização de um material natural, renovável e totalmente reciclável que assegura um reduzido impacto ambiental, com performances mecânicas e físicas muito interessantes. Adicionalmente, a madeira pode assegurar uma qualidade estética e um conforto higrotérmico dificilmente alcançável por outro material de construção.

Quando falamos de casas de madeira não falamos necessariamente de casas pré-fabricadas de madeira, certo? Também há muitas casas de madeira a serem construídas sem serem pré-fabricadas? Consegue dar-nos uma percentagem?

Não, não consigo. Mas também julgo não ser importante, porque na verdade a pré-fabricação é uma grande vantagem da construção em madeira. Com a pré-fabricação é possível garantir qualidade de construção, uma maior rapidez de execução, um estaleiro mais simples e mais curto em tempo, sendo uma forma muito eficaz de reduzir os custos. Adicionalmente, com a escassez de mão de obra, seja ela especializada ou não – a verdade é que a construção debate-se com uma forte falta de mão de obra –, a pré-fabricação é uma necessidade.

“A falta de formação é o maior entrave ao crescimento do setor da construção em madeira”
Associação Portuguesa de Construção em Madeira e Derivados

Que tipo de materiais, entre a madeira e derivados, são mais utilizados para construir casas pré-fabricadas?

Madeira maciça, a madeira lamelada colada e nos últimos anos têm crescido as aplicações de madeira lamelada colada cruzada, conhecida por CLT. Adicionalmente, numa casa de madeira, para além da estrutura, existem inúmeras aplicações estruturais ou não, que recorrem a madeira ou aos seus derivados (OSB, contraplacados, aglomerados, LVL, etc.).

"Como dizia um professor meu, o betão é em Portugal estupidamente barato porque toda a gente pensa que sabe construir em betão. A madeira já não é bem assim. É a falta de conhecimento, de formação na área, o maior entrave ao crescimento do setor da construção em madeira"

Considera que os preços de venda deste tipo de casas são ajustados ao mercado, face ao momento que o imobiliário nacional atravessa? Há margem para subirem ou descerem? 

A pergunta não é fácil. Por um lado, penso que há a ideia errada que por ser de madeira, a casa é mais barata. Na verdade, a casa de madeira pode ser mais cara que uma convencional com uma estrutura porticada de betão armado com preenchimento de alvenaria de tijolo. Mas parte desse incremento no custo deve-se à ineficaz exploração de todas as propriedades da madeira. É muito normal a arquitetura ser desenvolvida para uma construção convencional e posteriormente substituir-se o material por madeira. Nestes casos é vestir um fato com as medidas de outra pessoa, e claro, isso eleva o custo. 

Como dizia um professor meu, o betão é em Portugal estupidamente barato porque toda a gente pensa que sabe construir em betão. A madeira já não é bem assim. É a falta de conhecimento, de formação na área, o maior entrave ao crescimento do setor da construção em madeira. Aproveito para divulgar que a Universidade do Minho, em conjunto com a APCMD, vai lançar um curso de ensino á distância intitulado “Introdução à Construção em Madeira”, com vista a contribuir para preencher esta lacuna do mercado nacional.

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