
O ano de 2022 foi marcado por um “ambiente adverso”, ditado pelas consequências da pandemia e da guerra na Ucrânia, espelhadas pela alta inflação e pela subida dos juros. Mas, mesmo neste contexto turbulento, a Parpública teve capacidade para crescer, alcançando lucros de 155 milhões de euros em 2022, mais 13% do que um ano antes e mais 12% face ao resultado registado em 2019, antes da pandemia. Também no que diz respeito à gestão de “parte significativa” do património imobiliário público, a 'holding' do Estado deu cartas, tendo subido os lucros para 54,17 milhões de euros, mais 50% face a 2021. Por detrás deste aumento de resultados da empresa - que gere, nomeadamente, os imóveis do Estado -, está a venda do Quartel do Cabeço da Bola pela Estamo e a “valorização extraordinária” dos ativos da Baía do Tejo.
Durante 2022, grupo Parpública continuou a mostrar provas da sua “resiliência e flexibilidade”, até porque todos os segmentos de negócio apresentarem resultados positivos. Prova disso mesmo é o resultado líquido consolidado do grupo que atingiu os cerca de 155 milhões de euros em 2022, um valor que supera os 137 milhões de euros de 2021 e os 139 milhões de euros do ano pré-pandemia de 2019. Também o investimento global subiu 39% num ano para 262 milhões de euros, revela o Relatório e Contas do Exercício de 2022 publicado na semana passada.
Mas nem por isso foi completamente imune aos efeitos que ainda persistiram da pandemia, nem aos impactos da guerra na Ucrânia. Segundo diz o presidente da Parpública, Jaime Andrez , “houve condicionantes restritivas” ao nível atividade, do acesso e do custo dos fatores de produção, que levaram a que o grupo se adaptasse, explorasse sinergias e procurasse novas soluções organizacionais mais "eficazes e eficientes".
Património imobiliário público dá cartas em 2022
Um dos segmentos que mais cresceu na Parpública foi mesmo o imobiliário, que se mantém concentrando nos negócios desenvolvidos através das sociedades Estamo, Consest, Baía do Tejo e Fundiestamo – muito embora em 2022 também tenha contado com a atividade do recém-criado (em novembro de 2022) subfundo “Cabeço da Bola” do Fundo Nacional para a reabilitação do edificado.
No que à gestão do imobiliário público diz respeito, a Parpública registou um volume de negócios de 74,2 milhões de euros em 2022, o que se traduz num “aumento substancial face a 2021 (+8%) que se situou em cerca de 68,8 milhões de euros”, explicam no documento agora analisado pelo idealista/news.
Em concreto, este volume de negócios no património imobiliário público é, sobretudo, justificado pela:
- venda do Quartel do Cabeço da Bola pela Estamo por 15 milhões de euros teve maior margem bruta (40,6%) face às vendas realizadas em 2021 (37,10%);
- maior faturação da cedência de espaços e instalações nos parques empresariais geridos pela Baía do Tejo;
"A gestão de parte do património imobiliário público continua a ter uma expressão relevante no grupo Parpública representando cerca de 12% dos ativos consolidados, os quais se encontram financiados por capitais próprios do grupo na sua quase totalidade”
Só a Estamo e a Baía do Tejo contribuíram para 97% do volume faturado em 2022. Já a “sociedade Consest e o subfundo ‘Cabeço da Bola’ não apresentam ainda rendimentos tratando-se de atividades imobiliárias em curso”, revelam no documento.
Esta atividade imobiliária da Estamo e a “valorização extraordinária dos ativos da Baía do Tejo” – a par da reversão das provisões com passivos ambientais – ajuda a explicar os resultados líquidos de 2022 que atingiram cerca de 54,17 milhões de euros, mais 50% face ao registado em 2021 (36,1 milhões de euros).
Além disso, os imóveis do Estado saíram de 2022 valorizados em 1.1339 milhões de euros, mais 3% face ano anterior (o equivalente a 42,1 milhões de euros), devido ao “acréscimo dos ativos da Estamo e da Baía do Tejo, em cerca de 17,5 milhões de euros e 5,6 milhões de euros, respetivamente”, justifica a Parpública no mesmo documento.

Estamo vendeu Quartel do Cabeço da Bola por 15 milhões de euros
Em 2022, a atividade da Estamo foi marcada pela venda do Quartel do Cabeço da Bola por 15 milhões de euros, que foi integrado no recém-criado subfundo “Cabeço da Bola”, lê-se no relatório. Agora, este antigo quartel da GNR deverá dar lugar a casas novas com um investimento de cerca de 65 milhões de euros levado a cabo pelo Estado, tal como noticiou o idealista/news em fevereiro deste ano.
Desta forma, analisando o quadriénio 2019-2022, apuram-se vendas de ativos da Estamo na ordem dos 99,4 milhões de euros, um valor que corresponde a 97% do objetivo proposto (103 milhões de euros).
Ainda assim, o valor dos imóveis que a Estamo tem hoje sob gestão diminuiu. “Face ao ritmo das vendas nos últimos anos e sem compras significativas de ativos, mas também pelo impacto das imparidades e reduções de justo valor no período da crise, o valor da carteira sob gestão da sociedade reduziu-se de 1,4 mil milhões de euros em 2010 para 863 milhões de euros em 2022”, esclarecem no relatório.
A principal fonte de receitas de 2022 da Estamo não são as vendas de imóveis, mas sim os arrendamentos e as compensações por ocupação de espaços, “cuja recuperação das dívidas faturadas tem sido um desafio constante”, apontam. Até porque mais de metade dos ativos da Estamo encontram-se arrendados ou classificados como para arrendamento (491 milhões de euros), “constituindo uma fonte de receita essencial ao suporte da atividade corrente da empresa”.

Baía do Tejo: parques empresariais valorizam
O arrendamento de parques empresariais continua a dar frutos. A Baía do Tejo tem sentido esta atividade crescer ano após ano desde 2016, altura em que faturou o seu mínimo, contando com um total de 313 clientes no final de 2022.
Durante o ano passado, esta sociedade prosseguiu com a sua atividade de arrendamento e cedência de espaços nos parques empresariais no Barreiro, Seixal e Estarreja – a sua principal fonte de receitas –, que atingiu o montante de 8,81 milhões de euros, mais 4% face a 2021. Estas receitas foram “essencialmente originadas no parque empresarial do Barreiro”, explicam.
O património imobiliário da Baía do Tejo esteve avaliado em 279,7 milhões de euros em 2022, mais cerca de 2% do que o ano passado, sendo que 43,15% estava arrendando ou para arrendar. Deste valor, a maioria diz respeito ao parque empresarial do Barreiro. “Em 2022, este tipo de ativos apresentou uma forte valorização, principalmente nos parques empresariais do Barreiro (+4,33 milhões de euros) e de Estarreja (+2,44 milhões de euros)”, indicam ainda a Parpública no seu relatório
De notar ainda que as provisões de dívidas ambientais “diminuíram substancialmente” face a 2021 (-70%), fixando-se em cerca de 1,95 milhões de euros, “sendo constituída pela melhor estimativa dos encargos que irão ser suportados pela Baía do Tejo com a reabilitação ambiental futura dos territórios que estão sob sua gestão”, concluem.

Fundiestamo: valor sob gestão nos fundos imobiliários volta a aumentar
A Fundiestamo centra a sua atividade na gestão de fundos de investimento imobiliário. E em 2022, o valor sob gestão dos seus três fundos aumentou para 293 milhões de euros (275 milhões de euros em 2021). Só o Fundistamo I representa 58,23% do total de ativos sob gestão.
Em 2022, as receitas operacionais totais da Fundiestamo totalizaram 2,56 milhões de euros, 2,4% acima das verificadas em 2021, sinalizando-se a evolução anual das comissões faturadas aos fundos:
- +2% na Fundiestamo I;
- +3% no Imopoupança;
- -13,9% no Fundo Nacional de Reabilitação do Edificado – Fundo Especial de Investimento Imobiliário (FNRE).
No final, a Fundiestamo obteve um resultado líquido de 376.098 euros em 2022, 78% superior ao registado em 2021. Segundo o relatório estes lucros refletem “o esforço de reestruturação efetuado nestes últimos anos, iniciado aquando da missão acometida à sociedade no âmbito do FNRE, que ditou o ajustamento da sua estrutura de gestão e operacional” e teve como resultado a “otimização dos ativos sob gestão, quer pela internalização de algumas áreas relevantes, quer pelo avanço demonstrado na criação e gestão dos subfundos FNRE”.

Consest: terreno na Amadora para construção de casas acessíveis sai valorizado
A Consest é a entidade responsável por promover o desenvolvimento urbanístico de um terreno com cerca de 58 hectares, situado na Falagueira (Amadora, distrito de Lisboa). E a sua atividade vai concentrar-se em duas vertentes distintas: a primeira diz respeito ao desenvolvimento imobiliário do ativo e a segunda o acompanhamento do litígio que opõe a Consest à sociedade Cottees.
Em relação ao desenvolvimento imobiliário do terreno na Falagueira, localizado na Amadora, o relatório dá conta dos seguintes avanços:
- Processo de licenciamento de prédio urbano com 36 mil m2 (parcela A) terminado de acordo com os parâmetros previstos no atual Plano Diretor Municipal da Amadora, tendo neste momento já obtido as aprovações necessárias para solicitar a emissão do alvará de construção;
- Prédio urbano com 545 mil m2 passou a integrar a Bolsa de Habitação do IHRU (parcela B): a Consest, a Câmara Municipal da Amadora e o IHRU chegaram a acordo em 2021 que permitisse “salvaguardar a visão urbanística que pretendia para toda a zona da Falagueira/Venda Nova, promover a construção de casas de habitação acessível e potenciar o valor do ativo da Consest”. Desse acordo nasceu um memorando de entendimento entre as três partes. “Ainda no último trimestre de 2022, a Consest recebeu a certidão camarária que procedeu à divisão da parcela B em duas outras parcelas (B1 e B2), retirando à parcela inicial uma parte de pequena dimensão para domínio público”, explicam.
O terreno da Falagueira é, portanto, único ativo relevante da Consest, tendo sido inicialmente registado pelo montante de 52,5 milhões de euros. Devido a “desenvolvimentos posteriores relativos às opções urbanísticas da CMA”, o terreno sofreu uma desvalorização em 2016 de cerca de 40 milhões, atingindo um mínimo de 21,3 milhões de euros.
“Após alguns anos sem grande desenvolvimento, em 2020, devido aos avanços urbanísticos que afetaram positivamente a avaliação do ativo e ao investimento efetuado neste ano nos projetos da parcela A [de 36 mil m2], alcançou o montante de 26,73 milhões de euros, o que deu origem a uma valorização de 1,83 milhões de euros. Em 2022, a valorização do ativo que, também inclui a capitalização dos valores suportados com os projetos de licenciamento, foi 421 mil euros, ascendendo a um valor global de 27,8 milhões de euros”, indica a Parpública.

Sobre o litígio que opõe a Consest à Cottes, o relatório indica que houve resposta da sociedade pública perante a decisão do Tribunal da Relação de Lisboa com data de 2021, que “determinara a remessa dos 59 volumes que constituem o processo para as instalações onde o Tribunal Arbitral funcionara”.
“A comunicação a Consest respondeu informando ser da Cottees o impulso processual, pelo que aguardaria por este para reagir em conformidade. Posteriormente, a Cottees respondeu declarando o seu interesse na reconstituição do Tribunal Arbitral – ainda que com outro regulamento e distintos prazos – referindo, todavia, que devido à pandemia só pretenderia dar início ao incidente de liquidação posteriormente, o que não sucedeu até ao final do ano de 2022”, explicam ainda.
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