
Escolher o sítio ideal para viver em Portugal tornou-se mais difícil no contexto atual, sobretudo para quem tem baixos salários. Os preços das casas estão em alta e a inflação continua a não dar tréguas, reduzindo o poder de compra e os rendimentos disponíveis. Além disso, os juros no crédito habitação estão a subir e assim deverão continuar, já que Banco Central Europeu (BCE) voltou a aumentar as taxas de juro diretoras em 25 pontos base esta quinta-feira. Mas há boas notícias para quem pondera fugir à pressão imobiliária sentida nos grandes centros urbanos e mudar-se para o interior do país, onde se vive mais devagar, há maior contacto com a natureza e muitos locais a descobrir. É precisamente aqui que se reúnem os 10 concelhos mais baratos para comprar casa. E também ali o crédito habitação é mais acessível aos bolsos das famílias. Vem daí descobrir onde é possível morar em Portugal com orçamentos mais apertados, sem perder qualidade de vida.
Salários não acompanham preços das casas à venda em Portugal
Viver com baixos salários tornou-se numa verdadeira dor de cabeça em Portugal, com as famílias a terem altas taxas de esforço com a habitação e a precisarem de fazer uma ginástica financeira para pagar as restantes despesas da casa (que estão a agravar-se) e não só. De acordo com o primeiro Barómetro Europeu sobre Pobreza e Precariedade, um em cada dois portugueses atualmente empregados sente que o que ganha não chega para cobrir os gastos. E há relatos de famílias que já cortam na alimentação e farmácia para pagar a renda da casa, diz a Deco.
Afinal, embora os salários médios dos portugueses estejam a aumentar - chegando aos 1.358 euros em maio de 2023, quase mais 100 euros que um ano antes, segundo os dados mais recentes da Segurança Social - , os preços dos bens e serviços também estão a subir por via da inflação, o que acaba por reduzir o seu poder de compra.
Esta realidade espelha-se bem no mercado residencial: apesar de os preços das habitações em Portugal estarem a estabilizar, continuam a não ser compatíveis com os rendimentos disponíveis dos portugueses. A nível nacional, comprar casa teve o custo mediano de 2.526 euros por metro quadrado (euros/m2) no final de agosto, segundo os dados do idealista. Quer isto dizer que quem quer avançar agora para a compra de uma casa de 100 metros quadrados (m2) pagará cerca de 252.600 euros.
Neste caso, a prestação da casa será de 1.316 euros/mês, tendo em conta um empréstimo com a Euribor a 6 meses, spread de 0,8% e prazo de 30 anos, apontam as simulações do idealista/créditohabitação. E, no futuro, a prestação do empréstimo habitação deverá aumentar ainda mais, já que o BCE voltou a subir as taxas de juro diretoras em 25 pontos base esta quinta-feira (dia 14 de setembro), uma decisão que tem efeitos diretos nas taxas Euribor.

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Mas há alternativas fora dos grandes centros urbanos, onde o preço se agravou em maior escala. Os dados do idealista, referentes ao mês de agosto, mostram que comprar casa é mais barato do que a mediana nacional em 226 dos 254 municípios (num total de 308 concelhos que compõem o país) - e em 111 concelhos é possível adquirir uma habitação por menos de 1.000 euros/m2. Isto significa que o preço das casas em Portugal tem sido agravado, sobretudo, pelos valores praticados nas grandes cidades como Lisboa, Porto, Faro e Funchal e os seus concelhos periféricos.
E, afinal, onde é que é possível viver com baixos salários em Portugal? Nos 10 municípios mais baratos para comprar casa, onde o preço mediano é inferior a 500 euros/m2 e as prestações da casa são, pelo menos, cinco vezes menores que a calculada para a mediana nacional. Situam-se, sobretudo, no interior do país, nos distritos da Guarda, Castelo Branco, Coimbra e Portalegre. Oferecem paz, menos stress, segurança, qualidade de vida, muito contacto com a natureza, serviços como escolas, universidades e hospitais, e até benefícios e incentivos aos residentes (fiscais, na habitação e no emprego), uma vez que estão a perder população. Vem daí conhecê-los.
Municípios mais baratos para comprar casa: o que têm para oferecer
1.º Penamacor, Castelo Branco

O município de Penamocor, situado no distrito de Castelo Branco, é mesmo o mais barato para comprar casa no país, custando, em termos medianos, 379 euros/m2, segundo os dados do idealista referentes a agosto. Isto quer dizer que é possível adquirir uma casa de 100 m2 por menos de 38 mil euros (e os preços têm estado a cair). Para quem recorrer ao crédito habitação para comprar casa neste local (com Euribor a 6 meses, spread de 0,8% e prazo de 30 anos) pagará uma prestação mensal de 197 euros, quase sete vezes menos do que a prestação calculada para a mediana nacional.
Viver em Penamocor significa morar num território do interior (junto à fronteira com Espanha), no seio de uma população que ronda os 6 mil habitantes. Aqui o salário médio mensal para quem trabalha por conta de outrem foi de quase 1.000 euros em 2021, de acordo com a síntese estatística do Ministério da Economia e do Mar (MEM).
Aqui a economia gira em torno do comércio de têxteis, da agricultura, da silvicultura, tendo também alguma indústria assente na transformação de produtos agrícolas tradicional (azeite, queijo, mel e os enchidos), bem como na extração de madeiras e fabrico de móveis. De acordo com o site da autarquia de Penamocor, “a construção civil é, de longe, o setor que mais gente emprega direta e indiretamente, destacando-se as empresas com alvarás de obras públicas”.
Neste município do interior vive-se em contacto direto com a natureza, onde se destaca a Reserva Natural da Serra da Macata e vários geossítios para visitar e desfrutar em família. Além disso, há vários monumentos para descobrir, como o Castelo de Penamocor, o Covento de Santo António ou o forno de cozer pão em contexto rural.
2.º Góis, Coimbra

O segundo município mais barato para comprar casa é Góis, onde custa, em termos medianos, 420 euros/m2. Isto significa que as famílias que resolverem viver Centro de Portugal podem comprar casa neste concelho por 42.000 euros, pagando uma prestação mensal inicial de 218 euros (num crédito habitação com Euribor a 6 meses contratado em agosto).
Situado no distrito de Coimbra, a vila de Góis registou 3.811 habitantes em 2021 (e tem vindo a perder população ao longo dos anos). Aqui os maiores empregadores são as atividades de apoio social para pessoas idosas, construção de edifícios e exploração florestal, sendo que o ganho médio mensal pelos trabalhadores por conta de outrem de 877 euros em 2021, de acordo com a síntese estatística do Ministério da Economia e do Mar.
Neste concelho de 263,3 km2 é possível encontrar vários locais para desfrutar do tempo livre, sobretudo na natureza. Aqui destaca-se a Serra do Penedo e o Vale do Rio Ceira (que rasga o concelho). Entre o rio e a montanha, há também vários percursos pedestres para descobrir, assim como praias fluviais. Entre o património imobiliário encontram-se antigos lagares de azeite e moinhos de água, sem esquecer das casas brancas e das aldeias do xisto.
3.º Gavião, Portalegre

Viajamos até ao Alentejo para conhecer o terceiro concelho que têm os preços mais baixos para comprar casa: Gavião. No final de agosto, adquirir casa teve o custo mediano de 436 euros/m2, mais 3,9% que no mês anterior, revelam os dados do idealista. Contas feitas, para comprar uma habitação de 43.600 euros com recurso a empréstimo, uma família pagará uma prestação mensal de 227 euros, de acordo com as simulações do idealista/créditohabitação. Este é um valor quase seis vezes menor do que a prestação mensal calculada a partir da mediana nacional.
Mas o que tem o município de Gavião para oferecer? Situado no distrito de Portalegre, este município com 3.381 habitantes em 2021, oferece empregos, sobretudo, nas atividades de apoio social para pessoas idosas, na construção de estradas e pistas de aeroportos, na instalação de máquinas e equipamentos industriais, a par da panificação e da exploração florestal. E aqui o ganho médio de um trabalhador por conta de outrem é de 858 euros mensais, segundo os dados de 2021 compilados pelo MEM.
Quanto aos locais para visitar ao fim de semana para explorar Gavião (que tem 295 km) destaca-se a Anta do Penedo Gordo e o percurso de acesso à Fonte Velha, onde é possível contemplar as encostas do Rio Tejo, bem como figuras gravadas na pedra. Além disso, há vários percursos pedestres para fazer e praias fluviais para desfrutar, como a praia fluvial do Alamal e o parque de merendas da Ribeira da Venda, lê-se no site da autarquia. Outros pontos a explorar também é o Castelo de Belver, o Museo do Sabão e o Museu do Vinho e do Pão.
4.º Crato, Portalegre

Também é no Alentejo que se situa o quarto município mais barato para adquirir casa. Na vila do Crato, o custo mediano de comprar casa foi de 447 euros/m2 em agosto, menos 10,3% do que em julho. Quer isto dizer que a prestação de uma casa de 100 m2 que custe 44.700 euros pode ser de 233 euros/mês, com a Euribor a 6 meses, spread 0,8% e prazo de 30 anos.
Este concelho situado no distrito de Portalegre contava com 3.244 residentes no final de 2021, onde o salário médio por trabalhador por conta de outrem rondava os 911 euros. E aqui os setores mais empregam são as atividades de apoio social para pessoas idosas a agricultura e produção animal, a par da panificação, de acordo com o MEM.
O Crato possui uma história que remonta ao III milénio A.C.. E aqui podes desfrutar de vários roteiros pela Casa do Adro, um passeio pela vila, a rota dos vinhos do Alentejo e contemplar vários monumentos megalíticos, como a Anta do Tapadão. Entre os monumentos a visitar destacam-se ainda o Mosteiro de Santa Maria de Flor da Rosa e a Ponte Romana da Ribeira de Seda, refere o site da autarquia. Outro ponto de interesse é o Festival do Crato, que se costuma realizar no final de agosto para animar o verão.
5.º Penacova, Coimbra

Nas margens do rio Mondego está o município da Penacova, em Coimbra. Este é o quinto município onde é mais acessível comprar casa no país, tendo os preços medianos se fixado em 448 euros/m2 em agosto, menos 6,4% do que no mês anterior, indicam os dados do idealista. Aqui, uma família pode pagar uma prestação da casa de 233 euros/mês.
Quem quiser fazer parte da população de Penacova composta por 13.017 residentes em 2021, pode contar com um salário médio que rondou os 1.023 euros mensais, apontam os dados do MEM. Os principais empregadores são os transportes rodoviários de mercadorias e o setor da construção.
Há muito para descobrir neste concelho do distrito de Coimbra. Ao viver aqui podes desfrutar do ar puro da serra e do rio, bem como das suas paisagens, aponta a autarquia de Penacova. Tens várias praias fluviais para te refrescar no verão, como é o caso da praia fluvial do Vimieiro e a do Reconquinho. Há várias rotas e trilhos que podes fazer durante o ano, como o roteiro do Arista. E ainda muito património para explorar, como a Livraria do Mondego, o Mosteiro de Lorvão (um dos mais antigos da Europa) e o Museo do Moinho, por exemplo.
6.º Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda

Voltamos bem ao interior de Portugal para conhecer aquele que é o sexto município mais barato para comprar casa: Figueira de Castelo Rodrigo, situado na Serra da Estrela, distrito da Guarda. Aqui comprar casa teve o custo mediano de 448 euros/m2 em agosto, pelo que a prestação de uma casa de 100 m2 ficará nos 233 euros/mês, de acordo com as mesmas estimativas.
Neste município, composto por 5.090 habitantes em 2021, as principais atividades que empregam a população prendem-se com o apoio social a idosos, agricultura e produção animal e os supermercados. E o salário médio de quem trabalha por conta de outrem foi de 894 euros nesse ano, de acordo com o MEM.
Também aqui há muitos pontos de interesse que podes explorar em família. Um deles é mesmo a aldeia histórica de Castelo Rodrigo, a Serra da Marofa e o Mosteiro Santa Maria de Aguiar. Além disso, tem vários percursos pedestres e rotas pelas aldeias históricas para fazer ao fim de semana, segundo a autarquia.
7.º Pinhel, Guarda

É também na Guarda, na Serra da Estrela, que se localiza o sétimo concelho mais barato para comprar casa em Portugal. Falamos de Pinhel, onde o preço das habitações à venda se situou nos 449 euros/m2 em agosto. Portanto, as famílias que estiverem interessadas em comprar casa (de 100 m2) aqui com recurso ao crédito habitação, podem contar com uma prestação de 233 euros mensais.
É entre colinas, montes e a Serra da Marofa, que se localiza Pinhel, uma cidade que contava com 8.003 habitantes no final de 2021. E aqui os setores que mais empregam é a construção, apoio social para idosos e a fabricação de artigos de granito e rochas, sendo o ganho médio dos trabalhadores de 921 euros mensais, segundo o MEM.
A “Cidade Falcão” é caracterizada por planaltos, fortalezas, monumentos e os vastos campos, indica a autarquia. O Castelo de Pinhel, rodeado por uma muralha, é um ponto a visitar, assim como as casas do século XVI espalhadas por toda a zona antiga deste concelho. Aqui podes desfrutar também da rota turística literária e das várias festas que vão fazendo ao longo do ano, como a Feira das Tradições (antes do Carnaval) e a Feira Medieval (em junho).
8.º Celorico da Beira, Guarda

Continuamos na Serra da Estrela e no distrito da Guarda, para conhecer o oitavo município com casas à venda mais acessíveis do país em agosto. Falamos de Celorico da Beira, um concelho com 6.565 residentes em 2021, onde comprar casa custou, em termos medianos, 450 euros/m2. Quer isto dizer que a prestação da casa para uma habitação de 100 m2 deverá rondar os 234 euros por mês, segundo as simulações.
Neste território desenvolvem-se várias atividades económicas. Mas as que mais empregam, segundo os dados do MEM, são os transportes rodoviários de mercadorias, a confeção de vestuário interior e as atividades de apoio social a idosos. Em Celorico da Beira, o ganho médio por trabalhador por conta de outrem foi de 1.100 euros em 2021.
Atravessado pelo rio Mondego, Celorico da Beira é um concelho onde podes visitar dois castelos: Celorico e Linhares da Beira e ainda a Aldeia Histórica de Linhares da Beira, que conquistou o cognome de Catedral do Parapente. O que também salta à vista neste concelho são as paisagens que convidam a fazer passeios na natureza com a família e amigos, onde podem ser avistados rebanhos de ovelhas.
9.º Nisa, Portalegre

O nono município mais acessível para comprar casa é Nisa, situado no distrito de Portalegre. Neste concelho, adquirir habitação custou, em termos medianos, 451 euros/m2 no final de agosto, tendo os preços estabilizado face a julho. Se uma família precisar de pedir financiamento bancário, pode contar com uma prestação mensal de 235 euros.
Em Nisa vivem 5.831 pessoas, que estão empregadas, sobretudo, nas atividades de apoio social a idosos, na indústria do leite e derivados, assim como em supermercados e no setor da construção. O salário médio mensal dos trabalhadores por conta de outrem rondou os 886 euros em 2021, de acordo com o MEM.
Neste concelho do interior alentejano, há muito para ver e visitar, como o Museu do Bordado e do Barro, a Casa do Forno, o Castelo de Amieira do Tejo e vários monumentos megalíticos, como a Anta de S. Gens I e a Anta I dos Saragonheiros. Para fazer passeios em famílias na natureza, há ainda as Portas de Ródão, situada entre as duas margens do rio Tejo, refere o site da Câmara de Nisa.
10.º Sabugal, Guarda

O décimo e último concelho mais barato para comprar casa é o Sabugal, situado no distrito da Guarda, onde o custo mediano foi de 461 euros/m2 em agosto, de acordo com os mesmos dados do idealista. Ainda assim, o preço subiu 5,3% face ao mês anterior. De acordo com as simulações do idealista/créditohabitação, o empréstimo para comprar uma casa de 100 m2 por 46.100 euros tem o custo mensal de 239 euros, tendo em conta a Euribor a 6 meses, prazo de 30 anos e spread de 0,8%.
No Sabugal vivem mais de 11 mil pessoas, que têm salários médios de 968 euros mensais (trabalhadores por conta de outrem). De acordo com os dados compilados pelo MEM relativos a 2021, os maiores empregadores do concelho são as atividades de apoio social a idosos, construção, atividades de proteção civil e ainda as indústrias do leite e derivados.
Fazendo parte da paisagem natural da Serra da Estrela, neste concelho podemos encontrar o Castelo do Sabugal, bem como o Museu do Sabugal. E ainda fazer um trilho pelas suas cinco vilas medievais (Alfaiates, Sabugal, Sortelha, Vila do Touro e Vila Maior), destaca a autarquia. No património natural, destaca-se a Reserva Natural da Serra da Malcata, onde podes fazer passeio em família.
*Notícia atualizada dia 14 de setembro, às 13h22, com a indicação da nova subida dos juros pelo BCE
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