
A Associação Portuguesa de Bancos (APB) disse que a situação que levou ao colapso de dois bancos norte-americanos nos últimos dias, o Silicon Valley Bank (SVB) e o Signature Bank, "não tem paralelo no funcionamento do sistema bancário português”, pelo que não é “extrapolável”. Já o presidente do Eurogrupo, Paschal Donohoe, considerou que “não há exposição direta” do sistema bancário europeu à falência do SVB, mas acrescentou que o colapso do banco californiano é “um lembrete” para a necessidade de garantir a resiliência dos bancos.
Fonte oficial da APB afirmou, em declarações à Lusa, que "a situação que levou ao colapso dos bancos americanos não tem paralelo no funcionamento do sistema bancário português, não sendo por isso extrapolável para o mesmo”.
O SVB anunciou falência na sexta-feira (10 de março de 2023) e o Signature Bank também encerrou posteriormente. Com sede em Santa Clara, na Califórnia, o SVB era especializado no setor tecnológico e fazia negócios principalmente com empresas emergentes.
Também o ministro das Finanças, Fernando Medina, garantiu, em Bruxelas, que o sistema bancário europeu não é comparável aos dos EUA, sendo “mais robusto” e com “regras mais apertadas”. “O sistema bancário europeu está sujeito à supervisão do Banco Central Europeu (BCE), tem regras mais rígidas [do que as dos EUA], está muito mais robusto, a supervisão e a regulação tiveram uma mudança grande nestes anos pós crise financeira [de 2013]”, disse o governante, em declarações à entrada da reunião dos ministros das Finanças da zona euro (Eurogrupo).
Zona Euro sem exposição direta, mas colapso é “lembrete"
Uma posição partilhada pelo presidente do Eurogrupo, Paschal Donohoe, que afirmou que “não há exposição direta” do sistema bancário europeu à falência do SVB, mas acrescentou que o colapso do banco californiano é “um lembrete” para a necessidade de garantir a resiliência dos bancos.
"Discutimos o colapso do SVB nos EUA, uma situação que continuamos a monitorizar cuidadosamente. Os problemas deveram-se ao modelo de negócios específico do SVB, e a situação aqui na Europa é muito diferente”, declarou, no final de uma reunião do Eurogrupo em Bruxelas, o presidente do fórum informal de ministros das Finanças da zona euro.
Donohoe argumentou que os bancos europeus “estão, de um modo geral, em boa forma”, foram fortalecidos “enormemente nos anos mais recentes”, com o conjunto de reformas levadas a cabo a nível europeu na sequência da crise financeira de 2008, “e estão sob a supervisão próxima das autoridades nacionais e europeias”, acrescentando que “o quadro legal está a ser aplicado a todos os bancos da UE”.
“Não há, por isso, exposição direta ao SVB. Mas este é um lembrete para nós de que podem surgir a qualquer momento choques no sistema bancário, e do quão importante é assegurar a resiliência do nosso sistema bancário, assim como, claro, prosseguir os nossos esforços para fortalecer a União Bancária”, afirmou.
Também o Presidente dos EUA, Joe Biden, abordou o assunto, assegurando que os "americanos podem confiar na solidez do sistema bancário".
No domingo, as autoridades norte-americanas anunciaram que iriam garantir a retirada de todos os depósitos do banco californiano falido e disseram que vão também permitir o acesso a todos os depósitos de outro estabelecimento, o Signature Bank, que foi encerrado pelo regulador.
Além disso, a Reserva Federal (Fed) - banco central norte-americano - comprometeu-se a emprestar os fundos necessários a outros bancos para que possam responder aos levantamentos dos seus clientes. A perspetiva de a Fed desacelerar o ritmo de subida das taxas de juro depois das dificuldades sentidas em alguns bancos anima os investidores.

Sucursal britânica do SVB vendida ao HSBC
Londres anunciou, por seu lado, que a sucursal britânica do SVB tinha sido vendida ao gigante bancário britânico HSBC, por uma libra simbólica. "Os clientes do SVB do Reino Unido podem aceder aos seus depósitos e serviços bancários normalmente a partir de hoje", afirmou o Tesouro britânico.
A situação do SVB ilustra as perturbações de todo o sistema bancário norte-americano face ao endurecimento da política monetária seguido pela Fed, já que a subida das taxas de juro nos EUA tem levado os clientes a colocarem o seu dinheiro em produtos financeiros que garantem melhor rendimento do que as contas correntes, secando uma fonte crucial para o setor das novas tecnologias.
Essa vaga de levantamentos bancários colocou grandes dificuldades a três bancos na semana passada: o SVB, o Signature Bank, mas também o Silvergate Bank, um banco mais pequeno e conhecido por ter ligações privilegiadas com o meio das criptomoedas.
As autoridades norte-americanas tentam agora encontrar um comprador para o SVB o mais rapidamente possível.
*Com Lusa
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