Há cada vez mais cidadãos brasileiros a chegar a Portugal, procurando qualidade de vida, segurança e novas oportunidades para as suas famílias. Mas, quando aterram no nosso país, deparam-se com um problema de acesso à habitação, agravado pelos elevados preços das casas, falta de oferta de casas parar arrendar e comprar, e altos juros no crédito habitação. E esta é uma questão que não se coloca no Brasil, um país que está, aliás, entre os mais acessíveis no que diz respeito à compra de casa. Esta é uma grande diferença entre os mercados residenciais em Portugal e no Brasil. Mas há outras: há mais oferta de casas novas no Brasil e a mediação imobiliária precisa de ser profissionalizada, apontam os especialistas ouvidos pelo idealista/news.
Desde logo, há muitas diferenças no clima político, económico e social entre o Brasil e Portugal. “O Brasil é um país com diversos problemas políticos, sociais e económicos e isso gera uma série de inseguranças para os brasileiros”, começa por explicar ao idealista/news Guilherme Carnicelli, consultor, empresário e professor especializado em imobiliário no Brasil.
E, embora, Portugal apresente desafios macroeconómicos, gerados pela elevada inflação, subida de juros e proximidade à guerra na Ucrânia, continua a ser considerado um bom país para viver. “O que sentimos aqui no Brasil é que na Europa nem tudo corre às mil maravilhas. A sensação é que os desafios económicos pós-pandemia, a questão dos imigrantes e os reflexos diretos dos conflitos na região da Ucrânia e Israel tem afetado o continente. Mas Portugal ainda nos parece um oásis diante de todo esse cenário. E se formos comparar com o Brasil, ainda apresenta muitos aspectos positivos em relação a qualidade de vida e segurança”, acrescenta ainda Guilherme Carnicelli,
É precisamente pela insegurança vivida no Brasil – entre outros motivos - que há cada vez mais famílias brasileiras a chegar a Portugal. Os dados mais recentes do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) - entidade que foi, entretanto, extinta – revelam que nos últimos 10 anos a comunidade brasileira residente no nosso país quadruplicou para 393.000 cidadãos, número que não abrange as pessoas com dupla nacionalidade.
Que diferenças há entre o mercado residencial em Portugal e no Brasil?
Desde a oferta de casas à acessibilidade da habitação, passando pela mediação imobiliária e pelo investimento, os especialistas contactados pelo idealista/news identificam várias diferenças entre o mercado residencial em Portugal e no Brasil:
Oferta de habitação nova é mais expressiva no Brasil
Enquanto em Portugal predomina o parque habitacional existente (muitas vezes antigo e degradado), no Brasil a construção de casas novas é mais expressiva. “A diferença é bastante notável no que respeita a produto novo. No Brasil, há bastantes construções novas e novos empreendimentos, enquanto em Lisboa predomina produto em segunda mão, com uma arquitetura mais tradicional, edifícios históricos e icónicos”, destacam em declarações conjuntas, Daniela Rebouta, sales director na Engel & Völkers Lisboa, e Margarita Oltra, regional manager na Engel & Völkers Portugal.
Também Guilherme Carnicelli diz que “no mercado brasileiro ainda temos um forte crescimento do mercado primário, lançamentos imobiliários e isso traz alguns elementos e procura de profissionais diferentes”. Mas a qualidade das casas não é toda igual no seu país: “A qualidade nas moradias oferecidas em relação aos acabamentos e certos confortos aqui estão presentes em classes sociais mais elevadas”, refere o especialista em imobiliário no Brasil.
Quando chegou a Portugal há mais de dois anos, o jovem brasileiro Simon Furtado Costa conta que ficou “surpreendido com a quantidade de casas abandonadas” que encontrou. Mas também houve aspetos positivos. Destaca que ficou admirado com o “nível reduzido de poluição sonora”. “Vi muitos carros elétricos silenciosos nas ruas, o que foi impressionante. A eficiência da malha ferroviária local também me impressionou. Além disso, ver as pessoas andarem na rua sem se preocupar tanto com a segurança deixou-me confortável”, partilha com o idealista/news.
Acesso à habitação é difícil em Portugal e fácil no Brasil
O acesso à habitação em Portugal é um problema – e está a piorar. Além da falta de casas disponíveis no mercado para uma alta procura, que tem feito escalar os preços da habitação, o país depara-se agora com um poder de compra pressionado pela inflação e ainda pelas taxas de juros elevadas no crédito habitação. Foi por tudo isto que a MoneyTransfers concluiu que Portugal é terceiro país no mundo onde é mais difícil comprar casa, num estudo que analisa 56 países.
Enquanto em Portugal a subida dos preços das casas superou o crescimento dos rendimentos em 69% desde 2015 até ao segundo trimestre de 2023, no Brasil acontece exatamente o oposto, sendo considerado o país onde é mais fácil comprar casa a nível global, de acordo com o mesmo estudo.
“No Brasil, encontramos uma vantagem considerável no que diz respeito a encontrar casas para comprar ou arrendar. Isto acontece devido à variedade de opções que atendem a diferentes necessidades e orçamentos, com a vantagem adicional de haver diversos programas governamentais e apoio financeiro oferecidos pelos bancos para ajudar as pessoas a conquistar a sua casa própria ou arrendar”, destaca Simon Furtado Costa.
O jovem brasileiro, atento ao mercado imobiliário, mostra-se preocupado com os elevados preços das casas em Portugal, porque tem o “sonho” de conseguir comprar a sua própria habitação no país. “Enfrento o desafio dos preços das casas em Portugal, que frequentemente requerem uma entrada considerável, como 20% ou 10% do valor da propriedade”, comenta, realçando que “a procura pela minha casa própria envolve um equilíbrio financeiro complexo, mas estou determinado a tornar esse sonho realidade aqui em Portugal”, onde pretende continuar a viver.
Mediação imobiliária é mais evoluída em Portugal
Para Sandra Canelas, sócia na Remax Homes & Properties Brasil, a principal diferença que vê entre o mercado residencial português e brasileiro prende-se com o “desenvolvimento, profissional e pessoal do agente imobiliário”. “No Brasil, ainda lutamos muito pela qualificação dos agentes imobiliários, tentando criar a cultura de conhecimento e entendimento com a marca pessoal e evolução de carreira. Em Portugal, isso me parece mais evoluído”, destaca a especialista em imóveis de luxo.
Já Guilherme Carnicelli defende que “do ponto de vista de dinâmica operacional somos muito parecidos, porque as próprias figuras institucionais no Brasil foram herdadas do modelo português durante o período colonial. O que muda hoje é a maturidade, principalmente no mercado de imóveis concluídos, a existência e presença de redes americanas estruturadas, o trabalho de parcerias entre agentes imobiliários é ainda algo recente no Brasil”, salienta, indicando que as famílias tendem a adaptar-se aos modelos de mediação imobiliária e até entendem “a qualidade dos serviços em Portugal como mais profissional”.
Outra diferença entre os mercados é a definição de preços dos imóveis. “No Brasil, os valores dos imóveis flutuam conforme a vontade dos proprietários, sem se basearem num índice de valores ou algo para se guiar. Não há transparência de valores efetivos de venda dos imóveis, por exemplo. Em Portugal, até por atender muitos estrangeiros, isso parece-me mais claro e transparente”, destaca ainda Sandra Canelas.
Investimento imobiliário no Brasil e em Portugal: riscos variam
As oportunidades de investir no mercado imobiliário brasileiro e português não faltam, estando os dois dinâmicos. Mas a grande diferença prende-se com os riscos de investir no Brasil, onde o clima político, económico e social é incerto.
“O mercado residencial no Brasil é muito dinâmico e varia muito de Estado para Estado e de cidade para cidade. Além disso, há um número muito significativo de investidores que compra imóveis em vários locais, dentro do Brasil e no exterior”, destaca Francisco Quintela, Managing Partner da Quintela & Penalva | Knight Frank. Por outro lado, “a Europa é um dos mercados que tem sido muito atrativo para investidores brasileiros e Portugal, por variadíssimas razões [como a segurança], também tem estado a atrair muitos investidores e novos residentes de origem brasileira”, acrescenta o especialista
“Sobre oportunidades, o Brasil sem dúvida ainda traz muitas, mas nem todos estão dispostos a enfrentar o árduo desafio de empreender e o risco atrelado a isso, talvez esse seja um dos motivos dessa procura por Portugal”, conclui Guilherme Carnicelli.
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