
“Estamos num momento de certa mudança de paradigma ao nível do setor da construção e a arquitetura será, talvez, uma das principais disciplinas que estará envolvida nisso. Temos de mudar algumas das metodologias e alguns dos processos construtivos”. O alerta é dado por Avelino Oliveira, presidente da Ordem dos Arquitetos (OA), em entrevista ao idealista/news. A necessidade de apostar na descarbonização e em novos materiais, como por exemplo a madeira, não está a passar ao lado dos arquitetos, garante, assegurando também que a “questão das cooperativas de habitação é um tema que é muito caro” entre a classe.
O novo presidente da OA, substituiu no cargo Gonçalo Byrne – as eleições realizaram-se em setembro do ano passado –, considera que é preciso mudar a forma como se encara as cidades, o que só pode ser feito com qualidade construtiva e qualificação técnica. “E usando os melhores profissionais”, atesta.
“Sabemos que não podemos ter uma cidade dependente do automóvel e também sabemos que não podemos ter um espaço urbano tão dependente de algumas metodologias de construção que são lesivas do ambiente. Começa logo no betão, entre outros materiais e outros processos construtivos que têm muito carbono incorporado”, defende Avelino Oliveira, assegurando, nesse sentido, que os “arquitetos estão a ter uma ação de formação genérica” sobre o tema e que a sua capacidade de revitalização e de conhecimento é extraordinária.
"As pessoas têm de olhar para os arquitetos como uma peça fundamental para as cidades. Portugal tem desprezado um dos elementos que é mais importante e que teve no passado um grande peso no desenvolvimento urbano, que é o arquiteto urbanista. Não temos cuidado dos nossos urbanistas e não temos olhado para a palavra dos arquitetos naquilo que diz respeito ao urbanismo"
“As pessoas têm de olhar para os arquitetos como uma peça fundamental para as cidades. Portugal tem desprezado um dos elementos que é mais importante e que teve no passado um grande peso no desenvolvimento urbano, que é o arquiteto urbanista. Não temos cuidado dos nossos urbanistas e não temos olhado para a palavra dos arquitetos naquilo que diz respeito ao urbanismo. Temos de recuperar, revalidar e valorizar o arquiteto urbanista. É inaceitável que nos grandes projetos nacionais os arquitetos urbanistas não estejam a ter um papel fundamental. É absolutamente fulcral para Portugal que o urbanismo volte a estar no centro das atenções”, sublinha.
“Arquitetos são os primeiros a testar novos sistemas construtivos amigos do ambiente”
Voltando à importância da descarbonização do setor da construção – A ADENE - Agência para a Energia referiu recentemente que é preciso reforçar o investimento na reabilitação energética para atingir todos os objetivos definidos para 2050 –, o líder da OA adianta que “os arquitetos são os primeiros a testar novos sistemas construtivos que sejam mais amigos do ambiente”.
“Nota-se claramente entre a classe que estão a trabalhar nisso, estão a desenvolver tecnologias e capacidades dentro dos próprios ateliers, empresas, etc. Curiosamente, a adversidade vem muitas vezes ou do promotor ou do requerente. É mais difícil para nós, porque nem sempre há uma consciência global ou social da importância das novas metodologias que os arquitetos estão a tentar implementar. Agora que os arquitetos estão preparados para o futuro, isso estão”, frisa.
Cooperativas de habitação? “É um tema que nos é muito caro”
Quando questionado sobre se as cooperativas de habitação poderão ajudar a combater a crise habitacional na qual se viu mergulhado o país, sendo esta aparentemente uma aposta do Governo – prevista no programa Mais Habitação –, o arquiteto, que há cerca de 15 anos apresentou uma tese de doutoramento precisamente sobre habitação, responde de forma enigmática: “A questão das cooperativas de habitação é um tema que nos é muito caro, porque os arquitetos têm património nessa matéria. Após o 25 de Abril [de 1974], houve um processo que foi um exemplo para o mundo, o chamado Programa SAAL (Serviço de Apoio Ambulatório Local), e que contou com a participação de grandes arquitetos, desde logo Siza Vieira”.
Avelino Oliveira assegura, de resto, que a OA está disponível para colaborar com o Governo, “seja ele qual for”, e com “todas as entidades públicas”, estando atenta ao que de melhor se está a fazer na Europa neste âmbito. “Espanha tem dado um grande exemplo, a Dinamarca também, bem como todos t países nórdicos. A própria França também. E nós podemos implementá-los, oxalá colaborem connosco”.
De uma coisa o presidente da OA diz não ter dúvidas: os arquitetos estão prontos para abraçar os desafios que se avizinham, visto terem “grande facilidade em implementar esses modelos construtivos”. “Para nós é encantador pensar que estamos a conseguir lidar com edifícios onde podemos fazer um diálogo com os próprios habitantes, com as pessoas que vão ocupar as casas, em vez de alguma coisa que vá para o mercado e não sabemos quem é o cliente final. No caso das cooperativas, sabemos bem quem é que vão ser os nossos clientes. Isto é muito interessante e os arquitetos aí sabem trabalhar muito bem”, remata.
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