Em 2025, a arquitetura deixou definitivamente de ser um tema restrito a especialistas. Tornou-se conversa quotidiana, atravessou áreas distintas e passou a ser analisada não apenas pelo que constrói, mas pelo impacto que tem na forma como vivemos, sentimos e ocupamos o espaço. Num ano marcado por desafios ambientais, transformações sociais e novas exigências em matéria de qualidade de vida, a arquitetura afirmou-se como uma disciplina em profunda redefinição.
Com Adrien Brody a ganhar o Óscar de Melhor Ator por "The Brutalist", o arquiteto ficou como figura central e trouxe para o grande público um tema raríssimo no cinema: o poder, o ego, a estética e o peso cultural do construir. Mais do que uma história individual, abriu espaço para uma reflexão coletiva sobre o impacto duradouro da arquitetura nas pessoas e nas cidades.
A arquitetura passou a assumir o seu papel como mediadora entre necessidades humanas, limites ambientais e contextos urbanos complexos. O arquiteto deixou de ser apenas criador de formas para se afirmar como intérprete do território, facilitador de usos e construtor de equilíbrio.
Mais do que tendências formais, 2025 deixou uma convicção: construir melhor é, cada vez mais, uma forma de viver melhor.
Qualidade de vida e felicidade como critérios de projeto
Uma das tendências mais claras de 2025 foi pensar na qualidade de vida. A arquitetura passou a ser avaliada, acima de tudo, pela forma como contribui para o bem-estar físico, emocional e psicológico das pessoas, afastando-se de soluções idealizadas e aproximando-se da vida real.
Espaços mais claros, uma relação mais consciente com a luz natural, maior controlo acústico, circulação intuitiva e possibilidade de escolha tornaram-se critérios fundamentais. A casa, o local de trabalho e os edifícios públicos deixaram de ser apenas contentores de funções para passarem a ser entendidos como ambientes que regulam o stress, o ritmo e a forma como nos relacionamos com os outros.
Nesta adaptação à realidade, em 2025, viver em menos metros quadrados deixou de ser visto como limitação e passou a ser entendido como menos ruído, menos dispersão e mais foco no que realmente importa. Casas extremamente compactas, algumas com larguras mínimas impensáveis há poucos anos, mostraram que o essencial não está na dimensão, mas na qualidade do espaço. A casa passa a ser vista como um refúgio: protege do excesso de estímulos, do barulho constante e da aceleração do quotidiano. Casas pensadas para acolher, para abrandar, para permitir pausa.
Em 2025, projetar para a felicidade significou projetar para a vida real. Para rotinas imperfeitas, para o cansaço, para o envelhecimento, para a necessidade de pausa e de proteção. A arquitetura tornou-se mais empática e menos idealizada, mais próxima do corpo, do tempo e da experiência quotidiana de habitar.
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Transformar em vez de substituir
A reconversão e a reabilitação afirmaram-se, em 2025, como uma das tendências estruturais da arquitetura contemporânea. Já não apenas como resposta à escassez de solo, às restrições legais ou à pressão imobiliária, mas como uma escolha consciente, ética e estratégica. Reabilitar passou a ser uma forma de pensar o tempo longo da arquitetura, e não apenas o imediato.
Uma casa, ou um edifício, não se faz apenas para quem o usa hoje, mas para o tempo, para o lugar e para as pessoas que virão depois. Essa mudança de mentalidade refletiu-se de forma clara em vários projetos de reconversão. Antigas estruturas industriais, edifícios públicos desativados ou património devoluto ganharam novas vidas sem perder a memória do que foram. Uma antiga fábrica de massas em Lisboa transformou-se numa escola internacional, mantendo a escala e a robustez do edifício original, mas adaptando-o a um novo uso educativo. No Porto, um antigo tribunal foi reconvertido em habitação, mostrando como edifícios institucionais podem ser reinterpretados para responder às necessidades contemporâneas da cidade.
Reabilitar deixou de significar “modernizar” ou “limpar” o passado. Passou a significar interpretar, adaptar e prolongar a vida útil dos edifícios existentes, respeitando a sua identidade e integrando novas camadas de uso e significado. Mas também foi também um gesto ambiental. Evitar demolições, reduzir o consumo de materiais e trabalhar com o que já existe tornou-se uma das formas mais eficazes de diminuir a pegada ecológica da construção.
Recorda alguns exemplos:
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- Projeto de reabilitação dá nova vida a edifício histórico no Chiado
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Sustentabilidade, materiais honestos e extensão da natureza
Em 2025, a sustentabilidade deixou de ser um argumento isolado para se afirmar como uma prática integrada em todo o processo de projeto. Não é apenas sobre eficiência energética ou certificações, mas decisões estruturais que atravessam a arquitetura de forma transversal e consistente: materiais duráveis, a valorização do existente, a adaptação ao clima local, a redução do consumo energético passivo e a flexibilidade de uso.
Esta abordagem alargou também o próprio conceito de sustentabilidade, que passou a incluir dimensões sociais e culturais. Projetos pensados para durar, para se adaptar ao longo do tempo e para servir comunidades diversas reforçaram a ideia de que construir de forma sustentável é, acima de tudo, assumir responsabilidade a longo prazo.
Neste contexto, a valorização dos materiais naturais e honestos afirmou-se como uma das tendências mais consistentes do ano, tanto na arquitetura como na decoração de interiores. Estes materiais não escondem o tempo, não disfarçam o uso nem tentam imitar aquilo que não são. Aceitam o envelhecimento, revelam patinas e imperfeições e transformam o passar do tempo numa qualidade, e não num defeito. Na verdade, muitas casas quase “desaparecem” na paisagem, seja pela integração com o terreno, pelo uso contido de materiais ou pela relação subtil com a natureza envolvente.
Esta escolha mais "natural" esteve profundamente ligada a outra tendência central de 2025: a reaproximação à natureza. O contacto com o exterior deixou de ser um complemento e passou a ser parte integrante do desenho do espaço. Plantas, luz natural, vistas abertas e materiais orgânicos começaram a trabalhar em conjunto para criar ambientes mais equilibrados e vivos. E esta ligação à natureza não é apenas estética, é mais um fator de qualidade de vida.
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Prémios, distinções e despedidas
2025 foi um ano particularmente simbólico para a arquitetura porque juntou, no mesmo tempo, reconhecimento internacional, afirmação de novas gerações e despedidas que obrigaram a um balanço profundo da disciplina.
No campo dos prémios e distinções, um dos exemplos mais emblemáticos foi o Novo Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian, em Lisboa, distinguido como "Edifício do Ano". Nesta ano, cinco projetos portugueses estiveram entre os finalistas deste prémio, confirmando a diversidade e consistência da arquitetura nacional em diferentes escalas e programas.
2025 foi igualmente um ano de afirmação para novas gerações. A distinção de um arquiteto do Porto no concurso Europe 40 Under 40 mostrou como os percursos emergentes já não são apenas promessas, mas práticas consolidadas, muitas vezes construídas a partir de concursos públicos, trabalho internacional e uma abordagem consciente às questões urbanas e ambientais.
No plano global, o Prémio Pritzker 2025, atribuído ao arquiteto chinês Liu Jiakun, reforçou esta mudança de foco. A distinção reconheceu uma obra profundamente ligada à vida urbana, à escala humana e à complexidade social das cidades contemporâneas. Em vez de uma arquitetura icónica e autorreferencial, o prémio destacou uma prática consistente, estratégica e atenta à forma como as pessoas vivem e ocupam o espaço.
Mas 2025 foi também um ano de despedida. A morte de Frank Gehry encerrou simbolicamente um dos ciclos mais marcantes da arquitetura contemporânea. A sua morte trouxe para o centro do debate questões fundamentais: que legado fica? Que modelo de prática faz sentido hoje? E o que precisa de ser superado numa disciplina que enfrenta desafios ambientais e sociais urgentes?
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