
Depois da pandemia, a guerra. O conflito armado entre a Rússia e a Ucrânia abalou o mundo, tal como tinha acontecido antes com a Covid-19. E agora são vários os “fantasmas” que pairam na sociedade e que ameaçam deixar marcas, também, no setor imobiliário. Inflação a crescer, taxas de juro a subir, preços dos materiais a disparar, custos de construção a aumentar… Que impacto terão estes e outros fatores nos negócios imobiliários, nomeadamente na venda de casas em resorts? “A guerra na Ucrânia não provocou ainda diminuição no número de transações. Também não creio que venha a diminuir a procura. Pode, isso sim, vir a afetar a oferta num futuro mais ou menos próximo”, analisa Pedro Fontainhas, Diretor Executivo da APR – Associação Portuguesa do Turismo Residencial e Resorts, em entrevista ao idealista/news.
Uma coisa é certa: são muitos os investidores, nacionais e estrangeiros, que se sentem atraídos por este tipo de ativos imobiliários. uma tendência que ganhou força com a Covid-19 e que se mantém atualmente. “O principal contributo da pandemia foi o de mostrar que viver fora do centro das cidades é uma excelente alternativa para muitos”, comenta Pedro Fontainhas, salientando que se assistiu a uma “alteração de paradigma”, em que o “usufruto prolongado ou permanente” numa casa inserida num resort passou a fazer parte dos planos. “Viver num resort tornou-se uma alternativa apelativa para muitas mais pessoas ativas do que antes da pandemia”.
E será que este tipo de produto imobiliário também entrou no radar dos portugueses? Ou será este um negócio mais direcionado para estrangeiros. “Em geral, os portugueses reforçaram bastante o seu interesse por este tipo de imobiliário e talvez representem hoje em dia metade, ou algo mais, da totalidade das compras”, revela o Diretor Executivo da APR – Associação Portuguesa do Turismo Residencial e Resorts.
Estes são alguns dos temas abordados na entrevista dada por Pedro Fontaínhas ao idealista/news e que pode ser lida em baixo na íntegra.

O número de unidades transacionadas em resorts aumentou 70% num ano, em 2021 face a 2020. E expectável que a tendência se mantenha este ano? Porquê?
Os atuais níveis de procura fazem crer que em 2022 continuará a crescer o número de unidades transacionadas em resorts. As razões que impulsionaram a elevada procura por casas em resorts em 2021 continuam válidas e até mais fortes. Podemos tentar arrumá-las em grupos: as relacionadas com os novos requisitos habitacionais criados pela pandemia, as favorecidas pela rápida evolução tecnológica e social e as resultantes de um contexto económico que torna atrativo o investimento em imobiliário. Com o tempo, os novos requisitos habitacionais consolidam-se.
A tecnologia evolui, como sempre. A sociedade aproveita os novos instrumentos tecnológicos e transforma-os em modelos de trabalho flexíveis e ubíquos. E o contexto económico continua propício ao investimento em propriedade real, se já não tanto pela pandemia, então pela guerra, pela inflação, pelos custos da energia e dos materiais de construção e pela fraca remuneração das aplicações financeiras. Alguns destes fatores podem ter resultados diferentes dos esperados assim como novas condições aparecerão, pelo que qualquer prognóstico será sempre apenas isso mesmo.
Porque se sentem mais atraídos os investidores por este tipo de ativos imobiliários?
Os investidores numa segunda residência ou numa nova residência principal querem proteger o seu investimento e respostas para as suas exigências habitacionais. Estas vincaram-se com a pandemia: casas multifuncionais, perto da natureza, em locais com sentido de comunidade, mas também com distanciamento e privacidade, para nomear apenas algumas. E quanto à proteção do investimento, há muito tempo que os resorts portugueses oferecem um produto residencial concebido para competir nos mais exigentes mercados internacionais e que se tornou numa das exportações portuguesas muito bem-sucedidas. A procura é global e a manutenção e a proteção das casas e infraestruturas envolventes estão entregues a profissionais pelo que não há dúvidas de que o investimento valorizará.
"Os atuais níveis de procura fazem crer que em 2022 continuará a crescer o número de unidades transacionadas em resorts. As razões que impulsionaram a elevada procura por casas em resorts em 2021 continuam válidas e até mais fortes"
Que contributo teve e/ou está a ter a pandemia para esta tendência?
Creio que o principal contributo da pandemia foi o de mostrar que viver fora do centro das cidades é uma excelente alternativa para muitos. Horários e locais de trabalho flexíveis são agora mais comuns, diluiu-se o conceito de distância, e o conforto e a segurança estão acessíveis em qualquer local. Estas novidades transformaram o racional da compra de imobiliário num resort.
No paradigma tradicional, a casa destinar-se-ia a fins de semana, férias ou seria um investimento com vista a um rendimento; uma segunda casa, um sítio para ir viver após a reforma. Mas seria também um empate de capital, um segundo crédito, uma despesa a somar à da residência permanente. Ao tornar-se possível aí habitar, o raciocínio passa a ser o de antecipar para hoje um estilo de vida antes idealizado para daqui a muito tempo.

Atualmente, com o cenário de guerra, a tendência mantém-se? Notam já uma diminuição de transações, devido ao conflito na Ucrânia?
Os dados objetivos demoram algum tempo a consolidar, mas, tanto quanto podemos observar, a guerra na Ucrânia não provocou ainda diminuição no número de transações. Também não creio que venha a diminuir a procura. Pode, isso sim, vir a afetar a oferta num futuro mais ou menos próximo. O setor da construção já enfrenta, entre outros desafios, custos significativamente acrescidos de materiais importados como os energéticos e os metalúrgicos. É possível que, a persistirem e agravarem-se, as dificuldades na construção venham a provocar um aumento dos preços e uma redução do número de transações efetuadas.
"Os dados objetivos demoram algum tempo a consolidar, mas, tanto quanto podemos observar, a guerra na Ucrânia não provocou ainda diminuição no número de transações. Também não creio que venha a diminuir a procura. Pode, isso sim, vir a afetar a oferta num futuro mais ou menos próximo"
A maioria dos compradores de unidades em resorts é portuguesa? Qual a percentagem de investidores nacionais Vs estrangeiros? Entre os estrangeiros, quem são os mais ativos? Há novas nacionalidades interessadas neste tipo de ativos?
As nacionalidades dos compradores variam bastante de região para região e de resort para resort. Em geral, os portugueses reforçaram bastante o seu interesse por este tipo de imobiliário e talvez representem hoje em dia metade, ou algo mais, da totalidade das compras.
Os britânicos continuam a liderar a procura no Algarve, mas, depois da pandemia, têm mostrado um interesse crescente também por outras regiões, como a costa atlântica, e deixado reduzir a distância da sua quota no tradicional eixo Albufeira-Loulé a favor de holandeses, irlandeses, alemães, franceses e suíços. Apesar do referido interesse dos ingleses, na costa atlântica continuam a destacar-se alemães, espanhóis e norte-americanos. Estes últimos, aliás, devem ser o mercado que mais está a crescer este ano.

Quem investe neste tipo de ativos fá-lo tendo em vista a rentabilidade do investimento ou com o objetivo de usufruto, e de passar longos períodos por ano no imóvel? Esta é também uma alteração de paradigma trazida pela pandemia?
Há compradores com todos os tipos de motivação: rentabilização, usufruto ocasional e usufruto prolongado. E também há essa alteração de paradigma de que já falámos acima no que diz respeito ao usufruto prolongado ou permanente. Viver num resort tornou-se uma alternativa apelativa para muitas mais pessoas ativas do que antes da pandemia. Porque se flexibilizaram horários de trabalho, muitas reuniões e trabalhos com equipas são agora realizados à distância, e é aceite um maior equilíbrio entre as horas em casa e no escritório. Mas também porque as pessoas dão mais atenção à segurança, saúde e qualidade de vida das famílias.
"Em geral, os portugueses reforçaram bastante o seu interesse por este tipo de imobiliário e talvez representem hoje em dia metade, ou algo mais, da totalidade das compras"
Paralelamente, além de se venderam mais unidades em resorts, também os preços da habitação integrada em resort aumentaram (16%). Um pouco à semelhança, de resto, do que acontece nas transições “normais” de habitação. Ou seja, as casas estão mais caras, mas vendem-se mais imóveis. É normal que assim seja? Porquê?
Sim, é normal que assim seja enquanto a oferta não superar a procura, coisa que não se prevê que venha a acontecer nem a curto nem a médio prazo. Como a procura está a crescer rapidamente, por tudo o que vimos, a oferta continuará a não conseguir satisfazê-la imediatamente. Isso faz subir os preços sem reduzir as transações.
Há oferta suficiente de produto, de unidades em resorts, tendo em conta a elevada procura registada?
Como disse, há oferta suficiente para manter as vendas em alta e os preços a subir moderadamente. Hipoteticamente, se se viesse a materializar uma crise grave na construção, por exemplo, isso poderia fazer com que a oferta ficasse muito aquém da procura, que diminuísse o número de transações e que os preços resultassem muito inflacionados, o que não é caso hoje em dia e esperamos que não venha a ser nunca.
"Há diversos projetos novos e em desenvolvimento no Algarve, Costa Vicentina, região de Lisboa e Costa de Prata. Também há novos empreendimentos a explorar o potencial do interior, sobretudo os interiores algarvio e alentejano. O setor está em franco desenvolvimento (...)"
Há novos projetos turísticos em desenvolvimento e/ou em pipeline em Portugal? Em que zonas do país? Quantos projetos devem ser inaugurados este ano? Mais ou menos que em 2021? As previsões apontam para a abertura de quantos nos próximos anos?
Há diversos projetos novos e em desenvolvimento no Algarve, Costa Vicentina, região de Lisboa e Costa de Prata. Também há novos empreendimentos a explorar o potencial do interior, sobretudo os interiores algarvio e alentejano. O setor está em franco desenvolvimento e tudo indica que continuará, por muitos e bons anos, a oferecer a portugueses e estrangeiros um produto imobiliário turístico-residencial de primeiríssima qualidade internacional, e a contribuir para a captação de investimento e geração de riqueza no nosso país.
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