
“Os preços das casas cresceram mais rápido do que os salários em mais de metade dos 35 países” que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), destaca o Fundo Monetário Internacional (FMI). E nesta matéria, Portugal é mesmo o país onde a diferença é maior, ou seja, onde os preços das casas subiram a uma maior velocidade do que os rendimentos das famílias, apresentando o rácio de 133. Mas o que está, afinal, por detrás do aumento dos preços das casas?
Olhando para o rácio que relaciona a subida dos preços das casas com o aumento dos salários nos países da OCDE, salta à vista que Portugal é mesmo o primeiro da lista que considera dados do quarto trimestre de 2020. Logo a seguir está Luxemburgo, também com um rácio de 133 – igual ao português. Áustria, Hungria, Holanda e Alemanha são outros países onde esta diferença de evolução é igual ou superior a 125. Por outro lado, é na Lituânia, na Finlândia e na Estónia onde essa divergência é menos notória.
“Os aumentos nos preços das casas em relação aos rendimentos tornam uma habitação inacessível para muitos segmentos da população”, conforme destaca o FMI no seu mais recente estudo sobre habitação acessível na Europa.
Preços das casas deram o salto na maioria dos 60 países
Sobre a evolução dos preços das casas em 60 países, o FMI dá conta que “três quartos registaram aumentos nos preços da habitação durante 2020 e essa tendência continuou em grande parte nos países", segundo os dados mais recentes. E deu conta ainda que “o preço das casas subiu mais do que 5% em 23 países dos 60 no índice do FMI Global House Prime Index for 2020”, considerando a variação anual do quarto trimestre de 2020.
Nesta análise, a Luxemburgo aparece em primeiro lugar com uma variação do preço das casas na ordem dos 17%. Em segundo está a Turquia com uma variação de 15% e em terceiro aparece a Nova Zelândia com 13%. Nesta matéria, Portugal é o oitavo país dos 60 analisados pelo FMI, onde os preços das casas mais subiram – registando um salto na ordem dos 9% neste período.
Entre as menores subidas neste período está Hong Kong, onde, por outro lado, se podem encontrar alguns dos imóveis mais caros do mundo. E a liderar as quedas nos preços das casas estão os Emirados Árabes Unidos, com uma descida superior a -4%. E entre as evoluções negativas registadas está a Índia (-3%), Filipinas (superior a -2%), Sérvia (-1%), Peru, Indonésia e Malásia, com uma redução inferior a -1%.

O que está por detrás da subida do preço das casas?
Na análise realizada pelo FMI, o boom nos preços das casas durante a pandemia deve-se à junção de vários fatores. Para começar estão, desde logo, as taxas de juro no crédito habitação que atingiram mínimos históricos. Depois, houve várias medidas dos governos de todo o mundo que ajudaram a minimizar os efeitos da crise gerada pela pandemia da Covid-19 nas carteiras de muitas famílias, como, por exemplo, colocando milhões de pessoas em teletrabalho e criando medidas para evitar o desemprego em massa, como foi o caso do 'lay-off' em Portugal.
A par do confinamento, que levou a um abrandamento do consumo, isto fez aumentar as poupanças de muitas famílias pelo mundo. Em Portugal, os depósitos dos particulares atingiram mesmo níveis históricos em julho de 2021, alcançando os 169.910 milhões de euros, segundo revelou recentemente o Banco de Portugal.
Por outro lado, o tempo passado em casa, não só chamou a atenção das pessoas para a importância de valorizar os espaços do lar – sobretudo os espaços ao ar livre, como jardins e varandas – e levou muitas a pesquisar casas online. De acordo com o FMI, a procura de casas na internet disparou em vários países tendo mesmo registado níveis recorde nos Estados Unidos, por exemplo.

É este desequilíbrio entre a procura e a oferta de casas um dos responsáveis por grande parte do dinamismo dos mercados imobiliários durante a pandemia, conclui o FMI, que sublinha ainda que os políticos e os governos dos quatro cantos do mundo estão atentos e a acompanhar de perto os desenvolvimentos do setor.

E quais os futuros possíveis?
Há quem desenhe um cenário negro para a economia mundial sobretudo ao pensar na hipótese de haver uma queda dos preços das casas na China, em resultado da atual crise imobiliária que o país atravessa, que foi em boa parte gerada pelos problemas de liquidez na Evergrande e outras promotoras imobiliária do país, tal como apontou o The Economist no seu mais recente relatório sobre os riscos para o crescimento económico global.
Mas sobre este ponto o FMI desenha mesmo num cenário “plausível”, em que há subida das taxas de juro dos crédito habitação, a retirada dos apoios políticos à medida que as economias começam a recuperar e uma restauração do fornecimento de materiais de construção. Tudo isso, se se concretizar, pode mesmo “levar a alguma normalização dos preços das casas”, conclui.

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