Nos últimos três anos, a taxa de esforço associada à compra de casa "agravou-se em todas capitais de distrito", diz estudo da C21.
Comentários: 0
comprar casa
GTRES

O sonho de ser propietário de uma casa em Portugal está cada vez mais difícil de concretizar. Quer pela subida dos preços da habitação ao longo dos últimos anos, quer pelo agravamento das condições macroeconómicas: perda de poder de compra, elevada inflação e subida dos juros. Um estudo divulgado pela Century 21 Portugal, sobre o acesso à habitação no país, veio revelar, por exemplo, que comprar uma casa de 90 metros quadrados (m2) custa mais 25.000 euros que há três anos. 

Com base nos rendimentos médios dos portugueses, o estudo "Acessibilidade à Habitação em Portugal" apresenta uma análise para a aquisição de uma habitação deste tamanho e as respetivas taxas de esforço, de acordo com os critérios de referência de 33% de DSTI, recomendada pelo Banco de Portugal (BdP).

O estudo indica que, nas capitais de distrito, o valor de um apartamento de 90m2 varia entre os 375.480 euros em Lisboa e os 59.040 euros na Guarda, enquanto a média nacional é de 152.159 euros. Nas capitais das regiões de maior densidade populacional, Lisboa e Porto, os imóveis com preços médios de 375.000 euros e 250.000 euros, respetivamente, "deixam a grande distância qualquer outra cidade", embora a região do Algarve apresente também alguns concelhos com preços acima dos 200.000 euros.

comprar casa em Portugal
GTRES

Entre as outras capitais de distrito, no núcleo das cidades costeiras, universitárias, ou mais turísticas, os preços situam-se entre os 115.000 euros e os 160.000 euros, e o eixo do "interior com preços marcadamente inferiores", revelam a possibilidade de compra de 90 m2 baixo dos 100.000 euros.

Nos últimos três anos, os preços das casas "sofreram evoluções significativas", com exceção das três cidades mais baratas - Guarda, Portalegre e Bragança- onde a diferença para aceder a 90 m2, entre os dois períodos, não chega a totalizar 10.000 euros. Em termos relativos, a par do Porto, outras cidades do país como Aveiro, Braga e Setúbal registaram maior incremento de preços, no espaço de três anos. De qualquer forma, em termos absolutos, comprar atualmente 90 m2 exige pelo menos mais 25.000 euros do que há três anos, na grande maioria das cidades.

Taxa de esforço para comprar casa agravou-se entre 2019 e 2022

Nos últimos três anos, diz a mediadora, a taxa de esforço associada à compra de habitação "agravou-se em todas capitais de distrito", mas apenas em Faro e no Porto esse aumento significou perda de acessibilidade à habitação, através de aquisição. Em Lisboa, a taxa de esforço também aumentou, "mas este era um mercado já antes considerado inacessível face ao rendimento médio das famílias", frisa o documento.

Na média das regiões metropolitanas, esta foi uma tendência mais marcante na área do Porto do que em Lisboa, que anteriormente já estava próxima da taxa de esforço limite. De qualquer forma, mesmo nas cidades onde a compra continuou a exigir uma taxa de esforço abaixo do aconselhado registou-se um aumento. "De tal forma que, se em 2019 eram 15 as capitais de distrito onde comprar uma casa de 90 m2 consumia 20% ou menos do orçamento, atualmente só seis estão nesse patamar", indica o estudo.

Qual o valor da prestação a pagar ao banco por uma casa de 90 m2?

Em linha com os principais indicadores do valor dos imóveis, as prestações do crédito habitação para a compra de uma residência de 90 m2 apresentam um "contraste forte" em Lisboa e no Porto, e respetivas áreas metropolitanas, relativamente às outras cidades do país. Lisboa é a única cidade onde a compra de uma casa de 90 m2 com recurso a um financiamento soma atualmente um encargo superior a 1.300 euros mensais, embora seguida de perto pelo Porto, com cerca de 900 euros. Nas outras cidades, esse encargo não ultrapassa os 600 euros, e na maioria é inferior a 400 euros, segundo a C21.

taxa de esforço
GTRES

Segundo o estudo da mediadora, o aumento das taxas de juro terá um "forte impacto" no valor mensal que as famílias assumem para a aquisição de uma casa de 90 m2, conforme as projeções realizadas a partir de três cenários em que acrescem um, dois ou três pontos percentuais (pp) à TAN da prestação contratada inicialmente. "No cenário de maior incremento, o qual na prática significaria ter uma TAN no patamar dos 5%, a prestação registará um aumento de mais de 150 euros mensais na maioria das cidades, superando até os 200 euros em algumas delas. Neste cenário, todos os concelhos da AML e AMP ficariam em sobre esforço, bem como Aveiro e Évora", refere.

"As medidas macroprudenciais instauradas pelo Banco de Portugal obrigam os bancos a testarem a taxa de esforço das famílias com uma margem de segurança de mais 3% sobre as taxas de juro em vigor, para atribuição de crédito habitação. Num contexto de taxas de juro negativas, esta era uma medida essencial. No entanto, no atual cenário de subida de taxas de juro, este teste continua a ser obrigatório e aumenta, consequentemente, a dificuldade para as famílias e jovens que pretendam acesso a financiamento”, acrescenta a C21.

Ver comentários (0) / Comentar

Para poder comentar deves entrar na tua conta