As eleições autárquicas 2025 estão à porta convidando milhões de pessoas a votar nos novos líderes municipais já este domingo, dia 12 de outubro. Uma das principais bandeiras dos candidatos à presidência das autarquias de Lisboa e do Porto é mesmo a habitação, chovendo medidas da esquerda à direita para aumentar o parque habitacional público e reabilitar imóveis devolutos. Para ajudar os eleitores a decidir, o idealista/news preparou este artigo onde destaca as principais medidas da habitação e imobiliário propostas pelos partidos e coligações que se candidatam à presidência dos municípios da capital e da Invicta.
- Lisboa: como resolver os altos preços da habitação?
- Porto: chovem propostas para habitação de esquerda à direita
- Porto Somos Nós: as propostas da direita para o futuro da habitação
- PS à moda do Porto centra rendas moderadas
- Fazer à Porto: o independente da equipa de Rui Moreira
- Chega quer lugar no Porto: eis o que propõe para habitação
- CDU no Porto com foco em casas públicas e rendas acessíveis
- BE: o que propõe para o mercado residencial da Invicta?
- Livre com “programa ambicioso” para habitação no Porto
Lisboa: como resolver os altos preços da habitação?
A capital portuguesa é a cidade mais populosa do país, reunindo 575.739 residentes em 2024, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Mas também é em Lisboa que o acesso à habitação está mais difícil, desde logo porque tem os preços das casas para comprar e arrendar mais elevados do país.
Em setembro deste ano, as casas à venda em Lisboa tinham o custo mediano de 5.824 euros por metro quadrado (euros/m2), mais 2,7% face ao ano anterior. E as rendas registaram o custo de 22,5 euros/m2, refletindo um crescimento anual de 1,8%, aponta o índice de preços do idealista. A elevada pressão dos preços terá colocado a capital no último lugar do ranking de competitividade municipal 2025 na categoria da habitação, elaborado pelo Instituto Mais Liberdade – contrasta com o primeiro lugar obtido na classificação geral.
É neste contexto de agravamento do acesso à habitação em Lisboa que se têm multiplicado propostas dos candidatos autárquicos para melhorar este cenário, sobretudo por via do aumento da oferta pública e privada. Estas são as medidas bandeira na habitação apresentadas pelas principais coligações e partidos candidatos à presidência da Câmara Municipal de Lisboa, hoje liderada por Carlos Moedas (PSD) - destacamos quatro candidaturas num total de nove:
“Por ti Lisboa”: a coligação de direita prioriza habitação
O atual presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, foi eleito sem maioria absoluta em 2021 pela coligação “Novos Tempos” (PSD/CDS PP/MPT/PPM/Aliança).Nas autárquicas 2025, o engenheiro civil e antigo comissário europeu volta a candidatar-se, mas desta vez com uma nova coligação: a “Por ti, Lisboa”, que reforça a parceira entre PSD e CDS-PP e acrescenta o apoio da IL. Para a habitação propõe, de acordo com o seu website oficial:
- Construção de novos bairros de habitação: 250 hectares de cidade no Vale de Chelas, Quinta do Ferro, Vale de Santo António e Casal do Pinto. A meta será construir 2.400 casas no Vale de Santo António e mais de 1.000 em outras áreas do Vale de Chelas;
- Implementar a Carta Municipal de Habitação e estabelecer parcerias com os setores privado e social para promover projetos de renda acessível;
- Reabilitação de bairros municipais: continuação do programa "Morar Melhor" para reabilitar bairros como Bairro 2 de Maio, Casalinho da Ajuda, Bairro das Olaias, Bairro do Rego, entre outros. Prevê-se a reabilitação de 710 casas municipais;
- Reforço de programas de arrendamento: como o Programa de Arrendamento Apoiado destinado a famílias carenciadas e o Programa de Renda Acessível;
- Incentivo à construção de habitação por cooperativas em terrenos municipais e a preços acessíveis;
- Promover um regime de exceção para a recuperação e conversão de sótãos em espaços de habitação;
- Fiscalização e combate à ocupação ilegal dos fogos municipais.
- Executar o novo Regulamento para o Alojamento Local, com reforço na fiscalização.
“Viver Lisboa”: as propostas da coligação de esquerda
Os partidos de esquerda, nomeadamente PS, Livre, BE e PAN, juntaram-se para formar a coligação “Viver Lisboa”, protagonizada pela socialista Alexandra Leitão, que é jurista, professora de direito e foi ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública de 2019 a 2022. O seu propósito passa por construir “uma cidade em que morar não seja um privilégio, mas um direito”.
Estas são as principais propostas para a habitação e imobiliário da coligação “Viver Lisboa”, de acordo com o site oficial do PS:
- Meta de 20% de habitação pública em Lisboa: neste sentido, está previsto construir 4.500 novos fogos municipais até 2029;
- Reforçar o programa de renda acessível, abrangendo a classe média;
- Reabilitar imóveis devolutos para habitação acessível e espaços comunitários com um fundo municipal financiado por IMI agravado;
- Aplicação do novo Plano Diretor Municipal, com foco na criação de habitação acessível e sustentável em toda a cidade;
- Apoiar cooperativas de habitação e estabelecer parceiras com privados;
- Utilização de terrenos municipais para soluções como casas modulares;
- Restringir o AL apenas “onde faz sentido” e impor uma moratória a novos hotéis.
Candidatura da CDU para melhorar a habitação em Lisboa
Outra candidatura é a da CDU, coligação que junta PCP e PEV, que tem como cabeça de lista o comunista João Ferreira, que desde 2013 tem assumido essa posição nas listas e tem sido eleito vereador. A CDU apresenta as seguintes soluções para fazer frente à crise habitacional que Lisboa enfrenta, segundo o seu programa oficial:
- Reabilitar património disperso e edificar nos terrenos disponíveis, através de “construção direta”, como a operação do Programa Municipal de Arrendamento a Custos Acessíveis (PACA) do Alto Restelo, com 430 habitações, ou o Vale de Santo António, que prevê 2.400 casas;
- Criar o programa municipal de regeneração dos bairros municipais: incluindo a requalificação do espaço público, da edificação e a reabilitação das casas;
- Criar o programa de apoio à habitação cooperativa em propriedade coletiva;
- Zonamento inclusivo com quotas de habitação acessível em novos empreendimentos (meta de 25%);
- Constituir e ampliar a reserva de habitação pública definindo critérios claros para o exercício do direito de preferência e para a mobilização de habitações devolutas;
- Mobilizar fogos e edifícios vagos e/ou devolutos para introduzi-los no mercado arrendamento acessível, com um quadro de incentivos fiscais. Agravamento do IMI para edifícios devolutos.
Chega quer 4.500 novas casas de renda acessível na capital
O partido Chega, que pretende integrar pela primeira vez o executivo da capital, apresenta o deputado municipal Bruno Mascarenhas, licenciado em Relações Internacionais, como primeiro da lista à câmara. Na sua estreia autárquica, em 2021, o Chega não conseguiu obter mandatos. Estas são as principais mudanças que o Chega quer implementar na habitação em Lisboa:
- Construir 4.500 novas habitações na cidade, com especial foco em arrendamento acessível. A proposta inclui a oferta de apartamentos de tipologia T2 com rendas mensais até 700 euros, visando facilitar o acesso à habitação para as famílias de classe média e baixa;
- Transformar 50% dos inquilinos municipais, que sejam cumpridores no pagamento das rendas, em proprietários;
- Reabilitação de imóveis municipais devolutos;
- Promoção de parcerias público-privadas para acelerar a construção de novas habitações;
- Simplificação dos processos de licenciamento;
- Criação de cooperativas habitacionais como alternativas viáveis para aumentar a oferta de habitação acessível na capital.
Porto: chovem propostas para habitação de esquerda à direita
Com 252.687 habitantes em 2024, o Porto é o quarto município mais populoso no país, que tem vindo a atrair cada vez mais famílias para viver (população tem vindo a crescer 2% ao ano). É considerado o “coração” da sua área metropolitana e a capital da região Norte.
Mas o município do Invicta apresenta, à semelhança da capital, um agravamento do acesso à habitação, por via da subida dos preços. Em setembro, o preço mediano das casas para comprar no Porto foi de 3.826 euros/m2 (+4,3% face há um ano). E as rendas das casas estão em 18,1 euros/m2, depois de ter crescido 4,2%. Ambos os valores representam máximos históricos na série do idealista. Talvez por isso é que o Porto ficou num dos últimos lugares no ranking da competitividade municipal 2025 na categoria de habitação.
Ainda há muito a fazer para melhorar a habitação (sobretudo acessível) no município da Invicta, sendo esta uma das principais preocupações dos vários candidatos que estão na luta à sucessão de 12 anos do independente Rui Moreira à frente da Câmara do Porto, que agora fecha o ciclo de três mandatos iniciado em 2013. Estas são as propostas do principais partidos e coligações para melhorar a habitação no Porto (em destaque estão sete entre 12 candidatos):
Porto Somos Nós: as propostas da direita para o futuro da habitação
Nestas eleições autárquicas agendadas para 12 de outubro, o PSD, CDS-PP e IL uniram-se para criar a coligação “Porto Somos Nós”, a qual é liderada pelo jurista e ex-ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte. Eis o que propõe para a área de habitação, de acordo com o seu programa eleitoral:
- Mapear todos os terrenos e edifícios subutilizados do Estado e municipais para criar habitação, alojamento para estudantes e jovens;
- Quadruplicar o número de habitações em regime de arrendamento acessível, transformando os atuais 410 atribuídos em 1.600 fogos até ao final do mandato;
- Promover projetos build to rent tendo por base parcerias público-privadas;
- Apostar em métodos modernos de construção (modular, pré-fabricação…);
- Reforçar incentivos municipais para habitação acessível: manter isenções ou reduções de IMI e IMT para projetos de habitação acessível e reabilitação urbana;
- Criar o programa Ficar no Porto, direcionado para o acesso à primeira habitação, apoiando o pagamento da renda a jovens entre os 18 e os 35 anos, através de uma bolsa de apoios até 200 euros;
- Consolidar o programa Porto Solidário, reforçando o apoio a famílias mais vulneráveis;
- Requalificar e reabilitar o espaço público do parque habitacional municipal;
- Regular o Alojamento Local: aplicando limites proporcionais em zonas de maior pressão turística e investido em maior fiscalização.
PS à moda do Porto centra rendas moderadas
O PS elegeu novamente Manuel Pizarro para se candidatar à presidência da Câmara Municipal do Porto. O médico e ex-ministro da Saúde já se havia candidato duas vezes, uma em 2013 e outra em 2017 tendo ficado em segundo lugar em ambas. A habitação é uma das três prioridades do seu mandato que tem como slogan da campanha “À moda do Porto”, ao lado da mobilidade e segurança. Estas são as suas propostas:
- Agilizar programa “Habitar Porto”: assinar nos primeiros 100 dias do mandato um pacto com todos os parceiros;
- Construir 5.000 casas a renda moderada para classe média e jovens até ao final do mandato (quatro anos). As rendas são propostas consoante a tipologia, com um T0 a custar 300 euros e T4 800 euros. Estas casas serão construídas em terrenos “quase todos identificados”, como Monte da Bela, Monte Pedral, Lordelo do Ouro, Avenida Nun'Álvares, Contumil, entre outros;
- Estabelecer modelos de parceria público-privada, concursos destinados a cooperativas ou protocolos com instituições do terceiro setor para construir as casas de renda moderada;
- Financiamento do programa de habitação a custos moderados: com participação do Estado ou alocando 50% da taxa turística e 20% do IMT;
- Programa dedicado à reabilitação de casas devolutas para as colocar no mercado de arrendamento (estima-se que haja cerca de 20 mil fogos devolutos na Invicta);
- Integração do Porto na Aliança das Câmaras pela Habitação a partir do primeiro trimestre de 2026, para aceder a financiamento europeu e reforçar cooperação;
Fazer à Porto: o independente da equipa de Rui Moreira
O único candidato independente, do movimento “Fazer à Porto”, é o atual vice-presidente da autarquia, Filipe Araújo, engenheiro que integra a equipa de Rui Moreira desde 2013 e é agora apoiado pelo PAN. Estas são as suas principais propostas na área da habitação:
- Aumento do parque público de habitação com renda acessível: há 1.400 casas já preparadas, sendo possível aumentar a meta para 2.000 habitação no médio prazo;
- Estimular parcerias público-privadas, contratos build to rent e setor cooperativo para aumentar oferta de casas;
- Incentivar a habitação partilhada entre idosos e jovens;
- Reforçar “Porto com Sentido”, o programa de arrendar para subarrendar;
- Criar “task force” para priorizar e agilizar habitação acessível;
- Residências partilhadas para idosos (pessoas com mais e 65 anos): nomeadamente no edifício da Escola Ramalho Ortigão, atualmente desativado;
- Agravamento fiscal para imóveis devolutos;
- Manutenção ou reforço de benefícios fiscais (por exemplo, IMI mais baixo) para famílias com habitação própria permanente;
- Combater AL ilegal e garantir equilíbrio através da regulação.
Chega quer lugar no Porto: eis o que propõe para habitação
O candidato do Chega à presidência da autarquia do Porto nestas eleições autárquicas é Miguel Corte-Real, gestor e ex-líder do grupo do PSD na Assembleia Municipal. Estes são as suas principais propostas para fazer crescer a habitação na Invicta:
- Mobilizar terrenos municipais para criar habitação para jovens, residências para estudantes, zonas de serviços e espaços para empresas. Na sua mira está a construção de residências universitárias em Monte Pedral e em Campanhã. O candidato considera que, no imediato, é possível construir 400 casas utilizando espaços municipais;
- Retirar casas públicas a quem trafica droga;
- Recurso a modelos de construção cooperativa;
- Alargar renda apoiada à classe média do Porto, em vez de “leilão” de construção de mais habitação pública;
- Reforço do Porto Solidário: triplicar ação do programa, prevendo que “30% da nova verba seja alocado diretamente aos jovens” e atribuir mais apoio para famílias com dificuldade em pagar rendas. Isto será possível através da mobilização de 20% da receita da taxa turística. Assim, o orçamento do programa poderá aumentar em cerca de 9 milhões de euros.
CDU no Porto com foco em casas públicas e rendas acessíveis
A coligação da CDU (PCP-PEV) elegeu Diana Ferreira como candidata à presidência da autarquia do Porto. A psicóloga e ex-deputada à Assembleia da República entre 2014 e 2023 tem como focos da sua candidatura a defesa do direito à habitação, a reabilitação urbana e o combate à dependência do turismo:
- Construir 6 mil habitações públicas com a ajuda do Governo;
- Reabilitar habitações degradadas ou devolutas para que sejam recuperadas e disponibilizadas para habitação;
- Combater os efeitos da especulação imobiliária, nomeadamente no mercado de arrendamento, bem como o aumento acelerado dos preços de casas e rendas, rejeitando parcerias público-privadas;
- Limitar o licenciamento de AL (com travão a novas licenças);
- Intervenção em casos de urgência habitacional: respondendo às 3 mil famílias portuenses que estão identificadas na Carta Municipal de Habitação como estando em situação de emergência;
- Reforço da relação da autarquia com entidades nacionais (IHRU): para usar mais fundos públicos nacionais e europeus como parte do financiamento das casas públicas.
BE: o que propõe para o mercado residencial da Invicta?
O candidato do Bloco de Esquerda (BE) à Câmara Municipal do Porto nas autárquicas de 2025 é o sociólogo Sérgio Aires. O também vereador sem pelouro desde 2021 presenta um conjunto de propostas focadas na habitação pública acessível e no combate à especulação imobiliária, tal como se lê no Esquerda.net:
- Aumentar o parque habitacional público de cerca de 10% para 15% do total de fogos no concelho até 2030;
- Reabilitação de imóveis devolutos para disponibilizar como habitação acessível;
- Revisão dos critérios de acesso à habitação social;
- Combate à especulação imobiliária: regulando o mercado de arrendamento e limitando as licenças de AL;
- Promoção de uma cidade com direitos para todos: prioridade aos direitos dos cidadãos, rejeitando a ideia de uma "cidade-negócio".
Livre com “programa ambicioso” para habitação no Porto
O Livre candidata à Câmara do Porto o programador cultural Hélder Sousa, que tem um “programa ambicioso” para a habitação. Eis o que consta no seu programa eleitoral:
- Criar 30% de habitação pública nos próximos 10 anos (pública ou público-cooperativa) fora do “mercado especulativo”;
- Criar Fundo Municipal de Habitação: estabelecer um fundo para financiar a construção e reabilitação de habitação pública, utilizando terrenos municipais e imóveis devolutos;
- Criar programas de incentivo às cooperativas de habitação: de forma a garantir casas acessíveis para quem tem rendimentos médios ou baixos;
- Combate à pobreza energética dos edifícios através de um novo programa 3C Municipal – Casa, Conforto e Clima;
- Garantir habitação de emergência para sem-abrigo, vítimas de violência doméstica e de género, e refugiados: negociando o arrendamento de imóveis em AL e/ou transformando imóveis, como o Quartel do Ouro, em respostas para emergências;
- Criação de habitação para estudantes e idosos;
- Moratória à edificação de novos hotéis e a regulação da proliferação de novos AL.
*Com Lusa
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